Os recursos legais para que a identidade de uma pessoa não seja um entrave para a vida social, poucos respeitam. A Resolução de nº 12 do Conselho Nacional de Combate à discriminação LGBT, de 2015, prevê o uso do nome social nas instituições de ensino tanto em comunicações orais quanto em formulários como matrícula, registro de frequência e avaliações. A norma também antevê o uso de banheiros e uniformes nas escolas de acordo com a identidade de gênero. O documento, contudo, recomenda o uso do nome civil para documentos oficiais, junto com o nome social. Em janeiro, o Ministério da Educação homologou uma resolução no mesmo sentido. Já um decreto de 2016 prevê o uso do nome social na administração pública. Desde 2013, o Ministério da Saúde permite o uso do nome social no Cartão SUS.
Beatriz analisa que as equipes de saúde ainda têm preconceito e acredita que seja por desconhecimento das políticas públicas. Outra situação que não torna o atendimento a esse público ideal, são os momentos em que os profissionais não chamam a pessoa pelo nome social ou quando, nos hospitais, internam na enfermaria masculina ou feminina, o que pode trazer muito constrangimento para o usuário.
Pandora da Luz, Presidente da União Nacional LGBT do Espírito Santo destaca que a primeira medida a ser tomada em relação a saúde LGBT é o atendimento humanizado. “Há profissionais que se negam a atender o público LGBT por questões pessoais. Ninguém quer mudar ninguém, esses profissionais só precisam fazer o atendimento correto”, finaliza. Pandora ainda coloca a falta de treinamento e qualificações para os profissionais da saúde como empecilho para um efetivo atendimento ao público LGBT. “O poder público deve proporcionar essa capacitação”, conclui.
Pandora avalia que a atenção as políticas públicas para o público LGBT vem desde muito antes: “Quando na Constituição de 1988 se fala que todos são iguais perante a lei independente do sexo, cor, raça, ela tenta dar igualdade. Aí já começa a tratar desse público”.
A militante afirma que a questão da relação da HIV/Aids com os LGBT vem desde os anos 1970, quando começaram a aparecer os primeiros casos da doença. A “peste gay”, como foi conhecida na época. Atualmente, segundo Pandora, a peste acomete dois grupos, majoritariamente: os jovens e os idosos. Ela relata que quando diminuiu o índice da doença no grupos LGBT, esses outros grupos elevaram a incidência da doença e na sua avaliação, essa situação se deve pela falta de políticas públicas de educação: “o uso do preservativo está muito ligada a manutenção de educação”, completa.
Pandora é bissexual e relata uma ocasião em que foi agredida num hospital; uma enfermeira usou o tamanho do espeto inadequado em uma exame ginecológico. “Ela foi insistindo até que machucou. Elas fazem de propósito.” Além disso, ela assinala que de forma geral, a maioria das pessoas ainda não sabe diferenciar os termos de orientação sexual e identidade de gênero e muitas vezes não conseguem entender essas situações e por isso, têm dificuldade para realizar um atendimento adequado.