Estresse e ansiedade acumulados durante período de quarentena podem se manifestar por meio de sintomas físicos
De acordo com o Mapa brasileiro da Covid-19, desenvolvido pela startup Inloco, nas três primeiras semanas de setembro, uma média de 37,3% da população brasileira respeitou a recomendação de isolamento social, forma mais eficaz de combate ao vírus até o momento. Em Santa Catarina, a média é de 37,1%. Para aqueles isolados há meses, o estresse e ansiedade acumulados podem causar sintomas físicos, como dores no corpo. “Tudo aquilo que não pode ficar dentro da capacidade de circular pelo psiquismo, vai para o corpo em inúmeras manifestações”, explica Gabriela Kunz Silveira, mestre em Psicologia Social e Institucional pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
A psicóloga esclarece que a mudança de rotina, causada pelo contexto da pandemia, provoca o estresse, que por sua vez é provocado pela tensão originada do medo de adoecer ou morrer. “O estresse é fruto dessa quebra de ilusão, desse real que se impõe”, explica. Gabriela sugere que cada pessoa se permita olhar para si e para esse medo, e então, colocar em palavras. Além da procura por um psicólogo ou psicanalista, ela aconselha a conversa com amigos e, até mesmo, a arte, para poder entrar em contato consigo mesmo e produzir algo além dos sintomas.
A pandemia agravou o caso de hipocondria da estudante de Biologia Lívia Meinert, 18 anos, o que faz com que ela pense constantemente na ideia de ter um problema médico. Com o surto de coronavírus, cada tosse ou espirro é motivo de preocupação para a estudante. “No começo desse ano, eu passei uma semana me despedindo de todo mundo, achando que eu tava com câncer. No fim, era só uma íngua”, relata Lívia. Ela conta que toda vez que achava estar doente, sentia dores, como pontadas, no corpo todo.
O psicanalista e professor Titular do Instituto de Psicologia da USP, Christian Dunker, comenta, em seu blog, que um hipocondríaco não finge que tem uma doença, ele realmente sofre com isso. E, falar para a pessoa que sofre de hipocondria que isso tudo é psicológico, é como uma humilhação. “Se eu sinto uma dorzinha em algum lugar, eu já começo a especular o que pode ser, o que geralmente leva a uma crise de ansiedade e a certeza que eu estou morrendo”, conta Lívia. A acadêmica fazia acompanhamento há um ano, porém parou. Atualmente, ela está à procura de um terapeuta online.
A estudante de Relações Públicas Thays Machado, 22 anos, que já sofria de crises de ansiedade antes da pandemia, relata que ficou mais ansiosa durante o período de isolamento, e até teve crises de pânico quando precisou sair de casa. “Passei mal dentro de um mercado. Acho que foi por conta das pessoas com máscaras e luvas. No começo era bem assustador”, conta a acadêmica. Ela relata também ter ficado de cama por dores nas costas. Segundo a psicóloga Gabriela, o corpo sente aquilo que o psiquismo não pode elaborar, podendo descarregar a tensão no corpo. Thays perdeu o emprego no começo da pandemia. A empresa em que trabalhava fez uma demissão em massa. A falta de trabalho dificultou a situação dela, já que precisou fazer terapia por conta das crises e também tinha a faculdade para pagar.
Já Vinícius Pietschmann, 21 anos, estudante de Jornalismo, teve a sua primeira crise de ansiedade durante o período de isolamento social, no mês de setembro. Ele afirma sentir dores musculares no pescoço e ombros por conta do estresse. Uma semana após a crise, Pietschmann começou acompanhamento psicológico. O acadêmico comenta que apesar de ter vontade, nunca teve orientação de um psicólogo antes.
Vinícius trabalha na Rádio Udesc e voltou ao emprego normalmente há dois meses. Para ele, o receio com a contaminação do irmão de quatro meses e dos demais membros da família contribuiu para a crise. “Talvez o término do meu relacionamento junto à preocupação do coronavírus tenha me afetado mais”, conclui. A psicóloga Gabriela explica que a pandemia traz o medo de se contaminar ou contaminar o outro, fazendo outra pessoa adoecer, o que coloca em evidência elementos mais primitivos, que o “eu” pode ter dificuldade de processar.
Texto: Fred Romano Franco
Editor: Pedro Novais