Joinvilenses inovam para manter renda durante a crise
Perda financeira exigiu criatividade e empreendedorismo para pagar as contas
Em tempos de crise, famílias de Joinville sobrevivem graças a venda de quitutes como cachorro-quente doce e pamonha de goiabada. A população precisou inovar para conseguir manter as contas em dia, já que a pandemia do novo coronavírus afetou a renda de muitos.
Paulo Henrique de Luchi de Oliveira, 21, buscou na produção de cachorros-quentes doces uma maneira de expor sua paixão pela confeitaria. “O objetivo principal, no começo, era ocupar a mente e transmitir alegria para as pessoas com os lanches”, explica. Mas a ideia despretensiosa logo virou coisa séria: com a crise, a venda da iguaria passou a ser uma importante fonte de renda.
Além de produzir os lanches, Luchi trabalha no restaurante do pai, Roberto de Oliveira, proprietário do Villarejo Veg. Nesse momento de crise, o lucro com o restaurante não é suficiente, e a venda dos cachorros-quentes foi o que garantiu que as contas fossem pagas em dia. No Vilarejo Veg, Luchi trabalha com salário e carga horária reduzidos, e parte do salário é pago pelo governo. Além disso, ele receberá menos do que esperava neste mês de agosto. “Isso irá quebrar totalmente meu mês”, lamenta.
A ideia de produzir os quitutes surgiu após o jovem empreendedor assistir a uma reportagem sobre produção de comidas doces. Ele chegou a comer um cachorro-quente doce em Joinville, mas sentiu que havia açúcar demais. Então, decidiu trazer um diferencial para a cidade. “Nossa proposta é quebrar o gosto muito açucarado e fazer com que as pessoas comam um hot dog doce mesmo que elas não gostem tanto de doces”.
Hoje, ele produz 11 sabores de cachorros-quentes doces e já possui mais de 500 seguidores em seu perfil comercial no Instagram, e fica feliz por trazer algo novo para a gastronomia joinvilense. “Inovar dentro do convencional para as pessoas conhecerem está sendo uma sensação muito boa.”
Dos eventos para as vendas
Quem também inovou no cenário gastronômico foi o casal Flávio Ricardo, 49, e Solange de Carvalho, 40. Donos de uma empresa de iluminação para espetáculos de dança, teatro e cinema — eventos suspensos desde março e sem data para retorno — eles tiveram sua renda seriamente afetada pela crise. “Achamos que era só por um tempo, mas vimos que isso se estendeu e as coisas foram apertando”, conta Solange.
Em meio às dificuldades financeiras, o casal recebeu o convite de um sócio para ajudar na venda de pinhão no trevo entre os bairros Adhemar Garcia e Fátima, na zona sul de Joinville. As vendas aumentaram e, com isso, os clientes pediram mais variedade de comidas. Assim, Solange começou a produzir pamonhas de sabores diversos: salgadas, como frango, bacon e queijo, e doces, como coco, goiabada e doce de leite. “As pessoas estão gostando bastante. É o que está nos salvando nesta pandemia, estamos sobrevivendo disso”, conta ela.
Solange ainda ressalta que a cultura não é muito valorizada no Brasil, e que o apoio para o setor é mínimo. “Ainda bem que podemos nos reinventar, pois não temos ninguém que olhe pela cultura”, desabafa.
Empreendedorismo cresce durante quarentena
Por conta da pandemia do novo coronavírus, o desemprego chegou para milhares de brasileiros e fez com que uma grande parcela buscasse o empreendedorismo. Entre março e julho, 600 mil novos microempreendedores foram registrados. 20% a mais comparado ao mesmo período de 2019. Em comparação, somente no segundo trimestre de 2020, 8,9 milhões pessoas perderam os seus empregos, segundo o IBGE.
Repórter: Bernardo Gonçalves
Foto: Flávio Ricardo
Conteúdo produzido para o Primeira Pauta Digital | Disciplina Jornal Laboratório I, 4ª fase/2020.
Arrecadação para Solange e Flávio: Como os espetáculos estão suspensos desde o começo da pandemia, em março, o casal se viu em situação delicadíssima e precisou começar a vender pamonhas para poder sobreviver a este momento difícil. A sua contribuição será usada para suprir as necessidades básicas do casal e para pagar as contas. Solange e Flávio ficaram muito gratos por sua ajuda. Clique aqui para contribuir.