O novo petróleo do mundo empresarial
Como informações podem ser extraídas e utilizadas na estratégia de grandes corporações
A humanidade, de tempos em tempos, passa por períodos de grandes transformações tecnológicas. Foi assim no século 18, com a chegada das máquinas a vapor; no século 19, com a descoberta da energia elétrica; no século 20, com o desenvolvimento da computação e da robótica; e agora, no começo do século 21, a soma de todas essas revoluções resultou na tecnologia que toda empresa busca em suas operações e tomada de decisões: os dados pessoais de bilhões de pessoas que revelam desde preferências de compras até convicções políticas.A diferença é que, desta vez, a humanidade não utilizou o que já existe na natureza e “domesticou”, mas criou algo totalmente novo. Segundo o matemático e cientista de dados britânico Clive Humby, 67, as informações “são o novo petróleo”, já que possibilitam identificar tendências e oportunidades de negócio.
O que são dados?
Os dados são informações. Elas podem ser fornecidas de forma voluntária ou involuntária, como por exemplo: e-mails, contas bancárias, datas de nascimento, endereços ou telefones. Para fazer sentido para as empresas, tais informações são interpretadas e organizadas por sistemas, que as utilizam de forma estratégica.
Zelindo Silvio Petri é professor do curso de Sistemas para Internet na Faculdade Ielusc e afirma que toda a informação surge do processamento de dados. “O processamento constitui-se de manipulação, organização, classificação, agrupamento, tratamento e sumarização. A informação, portanto, vem desses dados verificados que, por um algoritmo, acabam servindo a determinado propósito”, explica.
Como Petri explica, eles estão cada vez mais presentes na sociedade graças à existência de dispositivos lógicos, que estão em equipamentos e acabam aliando-se ao conceito da Internet das Coisas (IoT).
Como são utilizados?
Atualmente, os dados ajudam a conquistar mais clientes, gerenciar o negócio com decisões embasadas e melhorar processos e serviços. A era do “achismo” chegou ao fim em muitas empresas. No Grupo Euax, por exemplo, todo o processo é gerenciado por indicadores, ou seja, métricas que comprovam o sucesso ou insucesso das operações. São eles que mostram se a estratégia está funcionando ou não, e até quais funcionários estão realmente fazendo um bom trabalho.
“Nós os utilizamos para gestão de tarefas, que envolve produtividade de equipe, entregas e cumprimento de prazos. Assim, conseguimos fazer a gestão, enxergar quem está entregando e quem não está”, explica Nayara Luchetti, gerente de Marketing no Grupo Euax. “Um outro nível é a gestão de performance. São os indicadores de sucesso daquela pessoa, de que ela sabe fazer o que ela está fazendo. Com os acordos de performance, eu consigo enxergar se ela possui competência técnica”, afirma.
Com os dados, a empresa sabe até como cada cliente encontrou a empresa, para comprovar o resultado das estratégias de marketing. “Eles ajudam a gente a saber em que a gente tem que investir tempo, dinheiro e energia”, conclui Nayara.
Marketing de conteúdo
Marketing de Conteúdo consiste na prática em que sites obrigam o usuário a preencher um formulário com nome e e-mail para realizar o download de algum material da internet, como e-book ou planilha. As quatro empresas que compõem o Grupo Euax utilizam essa estratégia, que consiste em atrair potenciais clientes por conteúdo interessante para este público. A empresa oferece materiais gratuitos, como e-books, guias e webinars. Mas, no fim, o material não é tão gratuito assim: para baixar, o usuário precisa realizar um cadastro fornecendo e-mail e telefone.“Por exemplo, quando alguém preenche um formulário, a gente sabe se essa pessoa tem o nosso perfil de cliente ideal e se vale a pena entrar em contato ou não. Todo marketing de conteúdo é orientado por dados. Eu os analiso os e vejo se está dando certo ou não”, explica a gerente de Marketing. Com as informações do potencial cliente em mãos, a empresa desenvolve relacionamento com ele, envia conteúdo, e-mail marketing e promoções, efetuando assim mais vendas.
Data Centers: o que são e para que servem essas estruturas?
As empresas lidam com um grande número de dados, então precisam que estejam armazenados em um local que forneça a velocidade para um processamento rápido. Brian Richard Kleis, 19, analista de qualidade em uma empresa de software, explica que data centers são como um grande depósito, “mas em vez de armazenar objetos, armazenam informações digitais. Acontece que quanto mais você sabe sobre o cliente, melhor”, conta. Mas, mais do que armazenar, um data center mantém as informações organizadas e seguras.
“Quanto mais você sabe sobre o cliente, melhor”.
Brian Richard Kleis, analista de qualidade.
Qual a função de um data center?
Como as empresas lidam com muitos dados, que também são valiosos, eles precisam ficar armazenados em um local seguro, que possa ficar ligado sem parar e que consiga processar grandes volumes de informação de uma só vez. Isso porque seria humanamente impossível analisar, organizar e acessar tudo com a velocidade desejada, por isso a necessidade de processamento potente.
Para simplificar: um data center é como uma grande biblioteca que organiza os livros sem ajuda humana. Inclusive, no ano de 2021, o data center mais moderno do sul do país foi inaugurado em Joinville. Localizado no Perini Business Park, zona norte da cidade, e com um investimento de US$ 10 milhões, o Armazém Cloud é o primeiro a obter certificação TIER III em design e facilty. Essa é uma certificação que garante que a estrutura atende aos padrões de segurança.
Por que data centers são tão caros?
O analista de qualidade Brian explica que data centers são caros porque há muitos gastos para construir estruturas grandes, seguras, com hardware potente o suficiente para lidar com milhões de informações em menos de um segundo e manter tudo isso funcionando 24 horas. “Data centers possuem ambiente com temperatura controlada para não prejudicar os componentes eletrônicos. O acesso a eles é restrito, também devido à segurança, além de terem proteção contra incêndios”, explica.
Some a isso os gastos com manutenção regular; funcionários; segurança contra ataques cibernéticos e geradores de energia para evitar apagões que fica mais fácil de entender o porquê de tanto gasto com essas estruturas. Brian ainda conta que empresas como Google, Amazon e Microsoft possuem data centers inclusive submersos “para economizar com resfriamento”. Marco Antunes, coordenador de dados de uma empresa do ramo farmacêutico, complementa: “tem até enterrado na neve”.
“As informações são como petróleo e, se você extrair com um balde e não refinar, você não faz muita coisa além de se sujar“
Marco Antunes, coordenador de dados.
O que é processamento de dados?
Nenhuma informação é útil sem processamento, ou seja: tudo precisa ser organizado e analisado. Isso inclui: cruzamento de informações coletadas, catalogação e unificação. Sem isso, as informações não possuem valor algum. Para exemplificar, Marco Antunes compara o processamento de dados com uma refinaria: “as informações são como petróleo e se você extrair com um balde e não refinar, você não faz muita coisa além de se sujar.”
Como tudo isso afeta o seu dia a dia?
Quando o assunto são dados, é comum que as pessoas imaginem que a função deles é meramente enriquecer donos de empresas e que em nada afetam no dia a dia das pessoas. Mas isso não é verdade. As informações que as empresas detêm e coletam diariamente podem servir tanto para o bem, quanto para o mal.
Casos de escândalos de invasão de privacidade, roubo de dados já foram divulgados pela mídia. “É bem sinistro o poder de algumas empresas”, explica Brian. “Se você assistir ao documentário Privacidade Hackeada, vai ficar com medo de chegar perto do computador”, explica.
Mas é claro que eles não são utilizados apenas para fins duvidosos. Marco Antunes explica que a praticidade de fazer compras online de produtos em todo o mundo e receber na porta de casa é fruto de um bom processamento. Sem essa tecnologia, tudo ficaria mais caro. “Se você não transportar a quantidade certa para a cidade certa a empresa vai ter prejuízo, quebra, e a cidade não vai mais ter a oferta de certos produtos”, diz.
Segundo ele, uma equipe humana não seria capaz de lidar manualmente com a logística necessária para as milhões de compras feitas todos os dias. Marco ainda completa que os dados enriquecem muitas empresas, mas no processo afetam a vida de todos os cidadãos, desde o morador da maior metrópole até o mais pacato dos municípios.
A realidade em Joinville
Joinville, maior município de Santa Catarina, é frequentemente citado como o vale do silício brasileiro, ou então como um dos grandes pólos tecnológicos do país. Sobre essas afirmações, Brian e Marco concordam.
Brian conta que “tem muita oportunidade de emprego aqui para quem trabalha com tecnologia”. Marco Antunes considera que Joinville está caminhando em um ritmo e que muitas empresas da região estão voltadas a trabalhar com dados de forma mais eficiente.
O próprio cargo que Marco ocupa atualmente foi criado por conta da alta demanda e a necessidade de uma boa extração de informações úteis. “As empresas começam a ter um volume e uma complexidade de dados que exige uma área que se especialize em extrair mais valor deles”, conta.
Ele explica que muitas empresas perdem chances de lucro porque não processam as informações que já tem disponíveis e, por isso, as empresas começaram a contratar pessoas. “O grande valor está em você extrair e integrar informações que permitam uma melhor gestão, identificar oportunidades, melhorar a produtividade e fazer melhores escolhas”.
Kevin Banruque e Larissa Vasconcelos