O legado que a Lanchonete Rio da Prata e a Empadas Jerke escrevem na gastronomia local de Joinville.
É a 25 quilômetros do centro de Joinville, no silêncio do interior da cidade, que se encontra a Lanchonete Rio da Prata. Este é mais do que um simples estabelecimento, é um ponto de encontro para a comunidade local, um refúgio onde as pessoas se reúnem para compartilhar momentos especiais e tecer memórias que perduram por gerações.
Há 38 anos, depois de sofrer um acidente e perder a locomoção das pernas, Marcos Merkle precisou deixar o trabalho na roça. A esposa, Márcia, recebia um salário mínimo, cerca de Cz$ 804,00 (oitocentos e quatro cruzados).Sem outra forma de sustentar a família, surgiu a oportunidade de abrir uma banca para vender refrigerante, caldo de cana, cerveja e água. Com o apoio da esposa, já no primeiro domingo a pequena banca encheu de amigos e conhecidos. Após alguns meses, por pedido dos amigos, a venda de pastéis começou.
Josemar Becker, atual gerente da Lanchonete Rio da Prata, lembra que os sogros começaram do zero, com uma banquinha feita de bambu, e no início o movimento era maior no período de ‘temporada’, quando mais pessoas frequentavam a região. A cada ano, a banquinha ia crescendo, até chegar na estrutura atual, inaugurada há 14 anos.
Mesmo após 38 anos, a empresa continua sendo administrada pela família. Marcos e Márcia já se aposentaram e hoje quem cuida de tudo são os dois filhos: Samuel e Elisangela e o genro, Josemar. Com 47 funcionários, a empresa que começou entre um casal, hoje envolve diretamente mais de 50 famílias.
Há pouco mais de seis anos, a lanchonete inseriu em seu cardápio o famoso ‘Prato Feito’, que é muito pedido durante o almoço. Atualmente, ela também faz parte do Roteiro do Turismo Pedagógico de Joinville e atende escolas de todo o estado que vêm à cidade para visitar as belezas naturais da zona rural. Durante essas visitas, a Rio da Prata disponibiliza um buffet para atender a demanda infantil. “Eu atendo escolas que vem de Blumenau para visitar algumas propriedades aqui na região, e sob a reserva eu monto um mini buffet pras crianças”, afirma Josemar
O turismo pedagógico em Joinville oferece uma oportunidade única para que estudantes do ensino fundamental tenham contato com a natureza local. As escolas de Santa Catarina podem explorar os diversos lugares da cidade, como a Quinta do Mildau, integrante do Roteiro Turístico Caminhos de Dona Francisca, da qual a Lanchonete Rio da Prata também faz parte. Nestas oportunidades, os alunos têm a chance de vivenciar a história, a cultura e a biodiversidade da região de maneira prática.
O cuidado com a qualidade é uma das marcas registradas da Lanchonete Rio da Prata. Escondida entre os corredores, ao fundo do estabelecimento, está a linha de produção. Em uma sala se faz as massas, em outra os recheios e, além disso, há também uma câmara fria com diversas geladeiras e freezers.
Para usar um espaço tão nobre, é muito importante que os ingredientes tenham alta qualidade. O proprietário garante que o palmito que vai nos recheios é plantado pela própria família; as carnes são cuidadosamente selecionadas, temperadas, desfiadas e temperadas no local; as marcas de chocolates não são genéricas. “Não abrimos mão da qualidade. Cada pastel que servimos é feito com amor e dedicação”, afirmou Josemar.
A colonização europeia teve um papel fundamental no desenvolvimento de Joinville. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), grande parte dos imigrantes que chegaram à cidade em 1951, eram de origem alemã, e trouxeram consigo suas tradições, cultura e conhecimento em diversas áreas, incluindo agricultura e indústria.
Os imigrantes alemães trouxeram na bagagem habilidades agrícolas e conhecimentos que eram vitais para o desenvolvimento da agricultura na região. Eles plantaram culturas, como o milho e a mandioca, e estabeleceram fazendas que se tornaram fundamentais para a economia da cidade.
A influência alemã na cultura de Joinville é evidente em muitos aspectos, desde a arquitetura de algumas edificações até as celebrações de festas típicas alemãs. E, até hoje, a cidade valoriza suas raízes culturais e preserva tradições alemãs, principalmente na gastronomia.
De acordo com Marcos Merkle, as receitas do Rio da Prata foram criadas para serem o mais próximo possível dessa cultura. Por exemplo, existe um pastel com recheio de marreco no cardápio – alimento típico da culinária alemã. “A gente não quer perder essa essência, então tem clientes que chegam aqui e dizem que o sabor é o mesmo de sempre”, explicou, a receita foi criada para possuir traços e remeter ao sabor dessa cultura.
No agitado centro de Joinville, quem passa pela rua João Colin com certeza já deve ter reparado na tradicional Empadas Jerke, localizada em um pequeno prédio antigo, um ambiente que aguça as nossas memórias e o paladar. Uma empresa repleta de tradição e que traz em sua história a essência joinvilense.
A famosa empresa familiar, fundada com o nome “Confeitaria Guilherme Jerke”, é um tesouro culinário que atravessa gerações. Há cem anos, Guilherme vendia a primeira empada enquanto percorria as ruas de Joinville de bicicleta. Os quitutes eram produzidos em sua própria cozinha e vendidos de porta em porta. Desde o início, ele e a esposa tiveram o compromisso inabalável com a excelência, e é isso o que mantém vivo o legado dele, o homem cujo amor pela culinária transformou uma simples receita em um patrimônio gastronômico de valor inestimável. Hoje, são os netos, Paulo Roberto e Carlos Eduardo, que mantêm o negócio da família ativo.
Luiza Kaiser, frequentadora do estabelecimento, diz que o melhor happy hour (HH) é ir com a família até a Empadas Jerke. “Lá, as empadinhas são sem igual. Empada com uma cervejinha é o HH perfeito depois de uma semana de trabalho”, afirma.
Na contramão do crescimento de nossa cidade e todo o avanço tecnológico que vivenciamos a cada dia, a Jerke continua com sua autenticidade e todas as características que a fazem permanecer forte em meio aos fast-foods e grandes marcas gastronômicas, neste caso, com a produção manual das empadas. Desde que a massa é batida, esticada e recheada até ir para a venda é um longo processo, que chega a levar até 36 horas. A produção é feita no dia, passa a tarde e à noite no congelamento, depois vai para a embalagem e libera espaço para as próximas serem produzidas.
Ana Lúcia, 59 anos, é uma presença emblemática na Empadas Jerke há quase trinta anos. Para ela, este não é um simples lugar para comer empada, mas sim, um símbolo de amor e família. Desde a juventude, Ana frequentava o local, onde vivenciou inúmeros encontros com o então namorado, que mais tarde se tornou esposo. Juntos, eles não só fortaleceram o relacionamento, mas também construíram uma família.
Com o passar dos anos, mesmo com a separação do marido, a tradição de visitar o local quase todos os fins de semana permaneceu. No decorrer das três décadas, ela testemunhou reformas e melhorias no estabelecimento, assim como um evento marcante: um assalto ocorrido há 16 anos, do qual ninguém saiu ferido.
“A escolha da Empadas Jerke é porque é um local familiar, acolhedor e tem um atendimento excelente. Construí amizades e relacionamentos durante os anos, que perduram até hoje. Este é um lugar de lindas histórias e belas recordações”, expressou Ana.
Primeira Pauta é o jornal-laboratório produzido pelos estudantes do curso de Jornalismo da Faculdade Ielusc.
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