
Temporada traz mais de 100 pinguins às praias do Norte de SC e reforça operações de resgate
A maioria dos pinguins encontrados nas praias de Santa Catarina entre junho e setembro chega morta ou gravemente debilitada. Segundo o Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos (PMP-BS), as aves percorrem milhares de quilômetros desde a Patagônia e, exaustas, encalham com a maré. Conforme a atualização mais recente, 125 pinguins foram encontrados no Litoral Norte em três meses.
De acordo com o PMP-BS, trecho 5, executado pela Univille, entre os meses de junho a setembro, é comum encontrar pinguins na costa brasileira, principalmente nas regiões sul e sudeste. A espécie que ocorre com maior frequência no Brasil é o pinguim-de-Magalhães (Spheniscus magellanicus), uma ave migratória não voadora.
Ainda muito jovens, os pinguins são provenientes de colônias reprodutivas localizadas na Patagônia, Argentina, e nas Ilhas Malvinas. Muitos podem ficar debilitados durante esta viagem e por isso chegam doentes nas praias. Outros se prendem acidentalmente em redes de pesca e morrem afogados.
Resgates nesta temporada
Até julho deste ano, segundo o último balanço divulgado, 125 pinguins foram encontrados no trecho entre Itapoá e Araquari. Durante o último mês, quatro aves passavam por tratamento.





Cinthia Candioto, médica veterinária do PMP-BS/Univille, relata que a maioria dos pinguins que chegam às praias do Norte catarinense já estão mortos. Em outras situações, eles já estão extremamente feridos e não resistem ao tratamento. Os pinguins costumam ser resgatados caquéticos, ou seja, fracos e com perda de peso, com sinais de afogamento, hipotermia e exaustão.
“Quando eles encalham, já chegam muito debilitados e doentes. Eles já gastaram quase toda energia para se manterem vivos, por isso muitas vezes, não conseguimos mais ajudá-los”, afirma a profissional.
Um dos últimos pinguins resgatados com vida no Litoral Norte de Santa Catarina foi encontrado em Itapoá em 30 de julho. Segundo os profissionais do PMP-BS, o animal estava encalhado na praia e chegou ao centro de estabilização muito magro, com mucosas hipocoradas e secreção avermelhada em glote, sinais característicos da síndrome de caquexia.
Tratamento das aves no “pronto-socorro”
Os principais sintomas clínicos dos pinguins que chegam a unidade do projeto, que funciona como um “pronto-socorro”, são penas eriçadas, olhos fechados ou quase fechados como se estivessem com sono, hipotermia e estado nutricional ruim, de magros a caquéticos.
Neste primeiro momento, chamado de “estabilização”, os cuidados envolvem hidratação, aquecimento para regulação da temperatura corporal, medicação para estabilização do quadro clínico e oferta de papa de peixe para ganho de peso, até que os animais consigam se alimentar com peixes inteiros.
Entre os principais desafios está o processo de reestabelecer a temperatura corporal do animal. “Temos que fazer isso aos poucos para eles não terem um choque térmico. Outro desafio é tentar reidratá-los e iniciar a alimentação, de acordo com o peso e estado geral deles”, afirma a médica veterinária
Em geral, o tempo mínimo é de duas semanas de internação na estabilização, a depender do tempo de resposta da ave ao tratamento.
Como os pinguins são devolvidos à natureza
Em Santa Catarina, a Associação R3 Animal, uma organização não governamental (ONG), é a responsável pelo resgate dos animais em Florianópolis. Além disso, também atuam na reabilitação e reintrodução de animais marinhos que chegam fragilizados de todo o litoral catarinense.
“Nesses casos, os animais já passaram pela estabilização e chegam para as etapas finais da reabilitação. Quando estão fortes o suficiente, são transferidos para o recinto externo com piscina, última fase do tratamento”, explica a coordenadora geral da R3, Cristiane Kolesnikovas.
Assim que estão fortes o suficiente, as aves são transferidas para o recinto externo com piscina, o que marca a última fase do tratamento. Conforme Cristiane, nessa etapa, o tempo de natação aumenta gradualmente, favorecendo o ganho de condicionamento físico e a adequada impermeabilização das penas.
O processo completo, do resgate à soltura, costuma durar em torno de dois meses. Neste ano ainda não foram efetuadas soltura de pinguins em Santa Catarina. O ideal, conforme explicação da Associação R3, é formar um grupo de ao menos dez pinguins reabilitados para que eles sejam soltos juntos, pois eles são animais gregários, ou seja, que vivem em bandos.
Desde o resgate até o fim da jornada, os profissionais envolvidos se dedicam a cada pequeno passo do tratamento. “É um sentimento maravilhoso e de muita alegria. Não é só sensação de dever cumprido, mas também por ter ajudado os pinguins a voltarem para a natureza para poderem novamente desfrutar a liberdade”, destaca a veterinária Cinthia.
A realização do Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos (PMP-BS) é uma exigência do licenciamento ambiental federal, conduzido pelo Ibama, para as atividades da Petrobras de produção e escoamento de petróleo e gás natural na Bacia de Santos.
Viu um pinguim na praia? Saiba como agir
Ao encontrar animais marinhos debilitados ou mortos nas praias do litoral Norte Catarinense, a equipe do PMP-BS/Univille deve ser acionada pelo 0800 642 33 41 ou ainda pelo WhatsApp (47) 99212-9218.
“Em caso de animais vivos, a recomendação é não mexer no animal, não alimentá-lo nem molhá-lo. É importante também tentar manter pessoas e animais domésticos distantes. Em caso de animais mortos, a orientação é evitar contato e acionar a nossa equipe”, destaca Tatiane Machado Schroth, assistente de comunicação do PMP-BS executado pela Univille de São Francisco do Sul.
Orientações
- Não tente devolver o animal para o mar;
- Jamais coloque o pinguim em contato com o gelo; animais debilitados costumam apresentar hipotermia;
- Não tente tocá-lo ou alimentá-lo;
- Afaste animais domésticos;
- Acione o resgate do PMP-BS.