
Parada LGBTQIA+ volta às ruas de Joinville após 15 anos
Evento marcado para 28 de setembro, na Praça Nereu Ramos, reafirma luta por direitos e celebra diversidade em meio a desafios locais
No próximo domingo (28), Joinville verá novamente a Parada LGBTQIA+. O evento, interrompido por 15 anos, retorna fortalecido e promete ocupar a Praça Nereu Ramos, no Centro, a partir das 15 horas, com programação que se estende até a noite. O tema escolhido, A diversidade constrói Joinville, reflete o propósito da edição: reunir a população em torno de música, arte, política e cidadania, reafirmando que a maior cidade de Santa Catarina também é feita de pluralidade.
A programação da Parada LGBTQIA+ de Joinville prevê shows musicais, performances artísticas, feira cultural e serviços de saúde, como testagem rápida de HIV e vacinação. Estão confirmados a cantora Jesus Lima, as drags Aylla Bittencourt, Katherine Kardasha entre outras artistas, além de DJs locais que vão comandar o palco montado no centro da cidade. A UNA LGBT Joinville, que integra diferentes coletivos sociais, também é uma das forças por trás da organização, articulando ativistas e movimentos em defesa de direitos.
Da memória à retomada

Foto: Fabrício Porto
A história da Parada em Joinville começou no início dos anos 2000, mas teve vida curta. As duas primeiras edições, realizadas em 2009 e 2010, marcaram época pela ousadia em levar o debate da diversidade às ruas de uma cidade de perfil conservador, mas logo foram interrompidas pela falta de estrutura, apoio político e respaldo institucional. Durante mais de uma década, a ausência do evento deixou um vazio simbólico.
Esse espaço de visibilidade será reaberto em 2025, quando a Parada volta a acontecer em Joinville. O jornalista e drag queen Windson Prado, conhecido pelo nome artístico Conchita Pradinha, é um dos responsáveis pelas primeiras edições do evento, e conta que o retorno tem um peso especial em sua trajetória. “Joinville me deu muito, tanto no jornalismo quanto na arte. Poder voltar agora, depois de tanto tempo, é emocionante. A Parada não é só celebração: é resistência, é um ato político que mostra que seguimos vivos”, afirma ele.
A atual edição é coordenada por Kika Salomão, fundadora do Grupo Athena de Sergipe, que lidera a mobilização para colocar o evento novamente nas ruas. Para ela, os desafios foram muitos. “Joinville é a maior cidade do Estado e não ter uma Parada era um vazio enorme. Tivemos entraves administrativos, ameaças anônimas e nenhuma ajuda da prefeitura. Mas não dava mais para esperar. Fizemos com apoio de parceiros e voluntários, porque a diversidade não pode ficar invisível”, relata a ativista.
Saúde mental, pertencimento e cidadania

Foto: Rogério Souza Jr
A Parada não é apenas um desfile ou festa, é também um espaço de acolhimento e cuidado. A estudante de Psicologia Aline Yukime, que se identifica como uma mulher lésbica, irá participar pela primeira vez de uma Parada. Para ela, o evento representa um marco pessoal. “É a sensação de libertação. Eu não preciso viajar para viver isso. É sobre mim e sobre tantos outros que sempre esperaram por esse momento. Participar da Parada na minha cidade é sentir que pertenço”, diz.
A dimensão da saúde mental é destacada pela psicóloga Camila Paola Baier, que explica o impacto coletivo da Parada. “A comunidade LGBTQIA+ enfrenta sofrimentos específicos ligados ao preconceito e ao isolamento. Estar em praça pública, cercado por milhares de pessoas que compartilham a mesma luta, ajuda a fortalecer a autoestima e a construir identidade. É um espaço de cuidado e de transformação”, avalia.
Segundo Camila, esses eventos não apenas celebram, mas têm efeito preventivo sobre problemas graves. “Eu acho que é legal para a gente perceber, olha quantidade de pessoas, olha as pessoas que estão aqui. Então, eu acho que isso é importante também. A questão do pertencimento, da gente não se sentir sozinha”, afirma.
A força dos coletivos

A UNA LGBT Joinville, que agrega diferentes grupos e atua em conexão com movimentos feministas e antirracistas, também tem participado da organização do evento. Para a coordenadora do coletivo, Larissa Stephanie, a Parada é uma oportunidade de somar forças e mostrar a voz da diversidade na cidade. “A parada LGBT é uma comemoração a nossa existência, a nossa resistência, sabe? É um marco de resistência muito grande”, expressa ela.
Larissa lembra que Joinville ainda é marcada por discursos conservadores e preconceituosos, mas acredita que ocupar o espaço público faz diferença, e ressalta que a Parada não é apenas uma festa, mas também uma forma de protesto, e assim como o lema dessa edição diz que “a diversidade constrói Joinville”, afirmar que a comunidade existe, estuda, trabalha e luta todos os dias por uma cidade igualitária e livre de intolerância.
Kika acrescenta que a responsabilidade por organizar o evento recai muitas vezes sobre vozes historicamente marginalizadas. “São drags, pessoas trans, ativistas independentes que puxam esse movimento. E fazemos porque sabemos que a Parada muda vidas, abre caminhos para quem ainda tem medo de sair de casa de mãos dadas”, explica.
Arte, segurança e expectativas
A programação da Parada combina festa e política. Além de shows e performances, haverá feiras de artesanato e gastronomia, barracas educativas e falas de ativistas locais. A segurança será reforçada com apoio da Polícia Militar e segurança particular. Apesar disso, os organizadores destacam que não houve apoio direto da prefeitura. “O evento foi registrado em meu nome e no meu CPF, como se fosse um festival privado, mas em um lugar público. Mas seguimos porque não podemos mais nos calar”, explica Kika.
Para Windson, a arte segue como instrumento de transformação. “Quando uma drag sobe ao palco, ela provoca olhares, quebra preconceitos e abre diálogo. A Parada é isso: cidadania em forma de espetáculo”, resume.
A expectativa é de reunir um grande público, comemorar e dar voz a quem necessita, oferecendo um espaço de pertencimento e luta pelos direitos da população LGBTQIA+.