
Denúncias de violência contra mulher aumentam 18% em Itapoá
Itapoá registrou 322 denúncias de violência contra a mulher nos oito primeiros meses deste ano, um aumento de 18,4% em relação ao mesmo período de 2024, quando foram contabilizadas 272 ocorrências. Em todo o ano passado, o município somou 445 registros. Mantido o ritmo atual, a cidade pode encerrar 2025 com um crescimento estimado de 8,5% no número de denúncias.
Maria*, ao se deparar com os dados se assustou “Itapoá sempre me pareceu uma cidade calma e tranquila, com um baixo índice de criminalidade e por isso escolhi aqui de todos os lugares para envelhecer”.
Segundo Fábio Luciano Iarocz, Agente de polícia civil, dessas 322 denúncias 99 foram feitas presencialmente na delegacia. “Hoje existe a possibilidade de abrir o boletim de ocorrência online, então muitas vezes as mulheres optam por fazer a denúncia pela internet para não se expor ao vir até a delegacia”, afirma.
A delegacia virtual tem funcionamento ininterrupto, atendendo 24 horas por dia, onde vítimas de violência doméstica podem fazer suas denúncias a qualquer hora e de qualquer lugar.
Dentre as dificuldades encontradas pela Polícia Civil de Itapoá, Fábio cita a falta de integração entre as instituições, principalmente em casos de acolhimento. Segundo ele, quando uma vítima chega até a delegacia para fazer a denúncia e pedir abrigo, não há muito o que possa ser feito até que o juiz da comarca determine o abrigo. Apesar de curto, o tempo entre a denúncia e a determinação judicial pode ser crucial para manter a denunciante em segurança. “Hoje nós temos pouca atuação preventiva em casos de abrigos. Seria necessário que houvesse uma integração entre a delegacia e o Cras, ou até mesmo um abrigo para mulheres aqui na cidade onde nós pudéssemos encaminhar as vítimas”, declara.
Para Ana*, de 23 anos, a realidade é ainda mais dura. Ela sofreu violência doméstica de um ex-companheiro e, ao denunciar, diz não ter se sentido acolhida pela equipe policial. “Senti que faltou compreensão. Em nenhum momento me foi negado apoio, mas senti um tratamento frio”, relata. Ela acredita que a ausência de uma delegacia da mulher na cidade gera insegurança e pode desestimular outras vítimas a denunciarem.
Apesar de reconhecer a importância de uma unidade especializada, o agente vê o projeto distante: “Não existe previsão para a inauguração de uma delegacia da mulher aqui em Itapoá ou até mesmo em Garuva por falta de efetivo”.
A resistência em denunciar pode vir de fatores culturais e religiosos. Solange*, 40 anos, lembra do caso de uma vizinha que sofreu agressões, mas nunca buscou ajuda. “Ela acreditava que denunciar seria um grande pecado ”, explica. A filha da vizinha, Luisa*, relembra episódios de violência que presenciou quando criança. “Eu lembro de muitas discussões entre eles por causa dos ciúmes do meu pai. Quase sempre essas discussões terminavam com ele empurrando ou batendo nela”. Para ela, mesmo com maior conscientização sobre os diferentes tipos de violência, ainda há barreiras que impedem as denúncias. “Acredito que tem mulheres que têm medo ou que assim como a minha mãe acreditam que sair desse ciclo seja errado por causa do que foram ensinadas na igreja. E tem também as que simplesmente não acreditam que a justiça funcione, porque sabem que em alguns casos, o processo é lento e falho”, diz.
Para Iarocz, a sensação de impunidade está ligada a falta de interesse das denunciantes de dar prosseguimento aos processos. “Em alguns casos, as vítimas não querem levar o processo adiante, apenas buscam medidas protetivas contra o agressor”, explica.
O aumento das denúncias em Itapoá evidencia não apenas o crescimento dos registros, mas também a vulnerabilidade dessas vítimas. Apesar da facilidade de registrar boletins de ocorrência online, ainda existe falhas na oferta de suporte imediato.
*Os nomes das mulheres citadas são fictícios para preservar suas identidades.