
Projeto propõe instalação de câmeras dentro de salas de aula em Joinville
Câmeras em escolas dividem opiniões e levantam questionamentos sobre privacidade no ambiente educacional
A decisão da Prefeitura de Tijucas, no Litoral de Santa Catarina, de instalar câmeras de monitoramento dentro das salas de aula em escolas municipais reacendeu o debate sobre segurança no ambiente escolar. Em Joinville, o tema também gera discussões entre professores, pais e alunos.
O vereador Cleiton Profeta (PL) apresentou, na Câmara de Vereadores de Joinville, o Projeto de Lei Ordinária (PLO 189/2025), que propõe a instalação de câmeras de monitoramento em todas as escolas públicas, privadas e creches do município.
De acordo com o texto, os equipamentos deveriam ser instalados em todos os espaços comuns, como salas de aula, bibliotecas, parques e áreas de convivência. A proposta também prevê vigilância constante durante o período escolar e acesso às imagens por responsáveis de alunos, mediante solicitação por escrito, ordem judicial ou policial.
A justificativa apresentada pelo vereador é de que a medida busca reforçar a segurança de alunos e professores, além de aumentar a transparência em casos de conflitos ou denúncias dentro do ambiente escolar. No entanto, o projeto tem gerado divergências, especialmente em relação à privacidade de alunos e à confiança na relação pedagógica.
A professora Jociane Antunes, da Escola Municipal Professor Reinaldo Pedro de França, acredita que a medida não se aplica à realidade da sua escola. “A escola onde leciono atende crianças até 10 anos, numa comunidade pequena. Então não vejo a necessidade de câmeras em sala de aula, não há perigos”, afirma.
Para ela, a presença das câmeras não alteraria a forma de dar aula, mas poderia impactar o comportamento dos estudantes. “Com câmeras ou sem elas, as aulas ocorreriam normalmente, pois nós professores temos um currículo a cumprir. Mas os alunos poderiam ficar mais cuidadosos com brincadeiras, embora continuassem sendo eles mesmos”, explica.
Se entre professores o receio é sobre os efeitos na relação pedagógica, entre os alunos há sentimentos mistos. A estudante Heloíza Ferreira, de 18 anos, da Escola de Educação Básica Arnaldo Moreira Douat, admite que a ideia de ter uma câmera gravando a sala inteira poderia causar desconforto no início. “Acho que eu ia me sentir meio desconfortável, ficar pensando o tempo todo que tem uma câmera ali gravando tudo o que a gente faz e fala. Talvez eu ficasse mais quieta ou com vergonha de participar, pelo menos nos primeiros dias”, conta.
Mesmo assim, Heloíza diz que, se for uma medida importante para a segurança, tende a ser aceita pelos alunos. “Depois de um tempo acho que acabaria me acostumando e ia agir normal, porque dá pra entender que é uma forma de proteger todo mundo”, avalia.
A mãe dela, Jocimeri Terezinha Ferreira, também vê a medida com ressalvas, mas considera positiva a iniciativa se for bem regulamentada. Ela afirma que se sentiria mais tranquila sabendo que a filha estuda em uma sala monitorada. “A gente ouve tanta coisa acontecendo nas escolas hoje em dia que qualquer medida que ajude na segurança já traz um alívio. Saber que existe uma forma de acompanhar o ambiente e garantir que as crianças estão bem é reconfortante”, diz.
Ao mesmo tempo, Jocimeri alerta para a necessidade de regras claras sobre quem terá acesso às gravações. Para ela, privacidade e proteção devem caminhar juntas. “É claro que existe preocupação com o acesso às imagens e com a forma como elas serão usadas. Acho que isso precisa ser muito bem controlado e transparente. Se as câmeras forem usadas com responsabilidade, é uma boa iniciativa”, reforça.
Enquanto o projeto aguarda análise das comissões da Câmara de Vereadores antes de seguir para votação em plenário, o debate continua dividindo opiniões entre quem acredita que as câmeras são uma ferramenta de segurança e quem teme a perda de privacidade no ambiente escolar.