Extrema direita nunca foi tão real
Jair Bolsonaro, eleito democraticamente para presidente no dia 28 de outubro é a representação da extrema direita: a retomada da construção de uma cultura nacionalista, com símbolos, valores e posturas próprias à identidade do líder; o militarismo e o fortalecimento das forças armadas; a violência, seja ela física ou verbal, contra as minorias ou um inimigo no próprio país. Essas características se aplicam ao fascismo e ao nazismo, movimentos do século passado, mas também flertam com o presidente do Brasil.
Nunca uma explicação foi tão necessária do que é a extrema direita e o que ela representa. Márcio Cruz, cientista social, afirma que o crescimento desta ideologia no mundo é perceptível e seus adeptos estão por todos os lados, inclusive no mais alto cargo da democracia. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, eleito em 2016 seguiu as mesmas características de Jair Bolsonaro. Na França, Marine Le Pen é a líder da extrema direita francesa. O cientista social também afirma que os três são conhecidos e adeptos de políticas nacionalistas e, ainda que possuam divergências, os políticos se enquadram e se definem como pertencentes à extrema direita.
Durante a campanha política de Bolsonaro, o termo “fascismo/fascista” foi utilizado para definir o candidato e suas atitudes e discursos. O dicionário Michaelis define o fascismo como um regime político e filosófico, antiliberal e antidemocrático, centrado em um governo de caráter autoritário, fundado na ideologia de exaltação dos valores da raça e da nação. Benito Mussolini, em 1922, estabeleceu este tipo de governo na Itália.
No Brasil, desde a primeira república, grupos de extrema direita apoiam o fascismo, de acordo com Márcio. Segundo ele, estas características tiveram uma aceitação em massa nos últimos anos, especialmente depois da instauração do processo de impeachment e a consequente cassação do mandato da presidente Dilma Rousseff, em agosto de 2016. O sociólogo ainda compara dois movimentos conhecidos do século XX, o nazismo e o fascismo, com o momento atual. “Adolf Hitler na Alemanha tornou-se chanceler após primeira guerra com 90% dos votos. Já Benito Mussolini na Itália tornou-se ditador fascista com apoio do rei. O fascismo é o lado perverso desta ideologia e pode ter amplo apoio popular. Nossa democracia é jovem e frágil se tomarmos como parâmetro os últimos cento e cinquenta anos. Somos o único país democrático do mundo que não está em guerra e mantém um Tribunal Militar”, afirma Márcio.
Outro país que, em seu governo, também flerta com o regime de extrema direita são os Estados Unidos. Dauto da Silveira, doutor em sociologia, explica que a extrema direita, no entanto, não se expressa da mesma forma nos quatro cantos do mundo. “A extrema-direita dos países europeus expressa-se política e culturalmente de um modo. Já nos EUA ela se expressa de outra forma. No Brasil não é diferente.” Mesmo que a extrema-direita se expresse de formas distintas, seus atuais representantes, Jair Bolsonaro e Donald Trump, possuem semelhanças. O slogan de Trump, “make America great again”, é quase um “Brasil acima de todos”, adotado pelo presidente eleito. Tanto Trump quanto Bolsonaro são acusados por seus discursos de difamar as minorias e ambos adotam um discurso patriota, querem fortalecer as fronteiras de seus países e representam uma mudança para a nação.
As semelhanças apresentadas acima não anulam as divergências que os presidentes possuem. Trump fez seu nome baseado nos negócios e no mercado financeiro. Já Bolsonaro é um militar da reserva, se consolidou com uma atuação política sem grandes feitos. Outra grande diferença é a estrutura partidária.
Bolsonaro entrou em 2018 no Partido Social Liberal (PSL), considerado na época um partido pequeno quando comparado aos partidos tradicionais brasileiros, como o Partido dos Trabalhadores (PT) e o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB). Por estar em um partido pequeno, Bolsonaro ganhou apenas 15 segundos de tempo de TV e escolheu não participar dos debates transmitidos no segundo turno. A estratégia adotada foi fazer campanha nas redes sociais. Já Trump entrou na corrida presidencial amparado pelo Partido Republicano, um dos dois grandes partidos políticos e tradicionais dos Estados Unidos.
Frente Joinville pela Democracia
“Acho que surgiu no mesmo dia da eleição, após o resultado”, afirma Valdete Daufemback. A historiadora e idealizadora da Frente Joinville pela Democracia afirma que após o resultado do primeiro turno das eleições, se reuniu com um grupo que tinha com alguns conhecidos do meio político para pensar em como a população poderia reagir frente ao resultado. A historiadora conta que a mobilização que ocorreu em Joinville contra o candidato Jair Bolsonaro, no dia 29 de setembro, “fez barulho, mas não atingiu seu objetivo principal de conversar com as pessoas.” Juntamente com as jornalistas Amanda Miranda e Lívia Vieira, a Frente Joinville Pela Democracia foi fundada. O coletivo se define como “suprapartidário” e tem em sua organização tanto homens quanto mulheres. A primeira plenária ocorreu no dia 17 de outubro, no Sindicato dos Metalúrgicos, e reuniu cidadãos e lideranças de movimentos sociais. Valdete conta que foi surpreendida já que “não eram os partidos políticos que estavam presentes, eram movimentos, entidades, eram pessoas. Não era com interesse partidário, era interesse na democracia.” Em seu manifesto de abertura, a Frente Joinville Pela Democracia busca, por meio do diálogo, abrir espaços para uma sociedade mais justa.
Por: Gabriela Puccini
Foto: Gabriela Puccini
Conteúdo original do Primeira Pauta Impresso, edição 143.