Escolas joinvilenses criam salas de aula online como medida contra coronavírus
Professores concluíram migração dos conteúdos para plataforma virtual, na quarta-feira, 22 de abril
Júlia Georg sente saudades das amigas, da professora e da rotina escolar. Ela tem 6 anos, está no 1° ano e é aluna da Escola Municipal Professor Francisco Rieper, em Pirabeiraba, na zona rural de Joinville. Marlis Evelize Kuehl Georg, mãe da menina, conta que Júlia sempre comenta que “é muito melhor ir para escola e aprender com a professora e com os colegas”.
Desde 19 de março, Júlia não vai para a escola. Nessa data, a Secretaria da Educação de Joinville suspendeu as aulas presenciais, em respeito ao decreto de situação de emergência do Governo de Santa Catarina, devido ao surto de coronavírus SARS-CoV2, causador da doença Covid-19. O estado foi o terceiro a instituir a quarentena, os primeiros foram São Paulo e Rio de Janeiro. Em 11 de março, a Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou o surto como pandemia.
O primeiro caso de Covid-19 no Brasil foi confirmado em 23 de fevereiro: um morador da cidade de São Paulo que havia voltado de viagem da Itália. Nos dias seguintes, novos casos apareceram em diferentes estados. Em Santa Catarina, os dois primeiros testes positivos ocorreram em 12 de março.
Foram duas semanas de recesso escolar concedido pela Secretaria da Educação de Joinville aos alunos e professores, até 3 de abril, quando começaram as aulas remotas nas escolas municipais. Nos primeiros dias de migração para o ambiente virtual, a Secretaria disponibilizou materiais de ensino para todas as escolas no aplicativo para celular Educa Joinville. Enquanto isso, os professores prepararam os planos de aula e receberam treinamentos em vídeo de como usar as ferramentas do Google.
Em 22 de abril, as aulas passaram a ocorrer totalmente com os materiais preparados pelo professor de cada turma, pelo Google Sala de Aula, plataforma online de gerenciamento de tarefas própria para instituições de ensino. A plataforma permite que o professor faça no mesmo ambiente: publicações de atividades e orientações, recebimento das tarefas feitas pelos alunos, correção e troca de mensagens.
Para João Cláudio da Cunha, auxiliar de direção da E.M. Professor Francisco Rieper, os professores não estavam preparados para a nova modalidade de ensino. “Embora houvessem algumas experiências com aulas virtuais, esse cenário não fazia parte do cotidiano das escolas municipais”, analisa. Inclusive, a professora dos anos iniciais, Pricila Bergmann, conta que não apenas para os alunos foi o primeiro contato com o Google Sala de Aula, mas também, para parte dos professores. “A migração para as aulas virtuais foi repentina, alguns dos professores conheciam a plataforma e foi mais fácil, mas outros, apresentaram dificuldades”, relata. Esse período também serviu de adaptação para as famílias, como a de Júlia.
Os pais da estudante trabalham no horário comercial, Marlis é almoxarife e Jackson Goerg é vendedor. Resta a noite para ajudarem a filha a acessar o ambiente virtual de ensino e a fazer as atividades escolares, horário que os dois estão cansados e a menina com sono. Além disso, a internet da casa tem poucos bytes de velocidade e leva tempo para carregar as páginas da web.
A mãe conta que a filha entregou tarefas com atraso, mas que fazem o possível para concluir tudo. “Por mais que nós nos esforcemos em casa, não é a mesma coisa que na escola”, reconhece. Marlis acrescenta que, ao menos, eles têm acesso à internet e à impressora. “Penso muito nos alunos e pais que não têm esses recursos”, desabafa.
A maioria dos alunos de Pricila tem internet e, pelo menos, um celular em casa. No entanto, também há crianças sem acesso. Nesses casos, as famílias estão indo até a escola para buscar os materiais. A professora explica que os pais vão um dia por semana na escola para buscar as tarefas novas e entregar as feitas. Sobre as sugestões de pesquisa e vídeos nas atividades, ela explica que funcionam como complemento para os alunos, mas não interferem nos exercícios dos estudantes sem internet.
Segundo o decreto de 12 de abril do Governo de Santa Catarina, as aulas presenciais continuam suspensas até 31 de maio. De acordo com João, só será possível cobrir toda a grade curricular se as aulas virtuais respeitarem a carga horária delimitada. “Vamos conseguir se programarmos e colocarmos as aulas no Google Sala de Aula conforme os horários das aulas presenciais”, concorda Pricila.
Prós e contras das salas virtuais
Tanto a professora Pricila Bergmann como o auxiliar de direção, João Cláudio da Cunha, concordam que existem diferenças de aprendizagem entre o ensino presencial e remoto. De acordo com Pricila, na sala presencial, os professores estão sempre disponíveis para tirar as dúvidas, assim que elas surgem. Já no ambiente virtual, pode acontecer de não responderem na hora. “O que também não é ruim, pois instiga o aluno a ir pesquisar mais profundamente o conteúdo”, afirma.
“As crianças ganham no que se trata às pesquisas, pois ao surgir uma dúvida podem utilizar as mais diversas ferramentas online para saná-las”, completa a professora. Em contrapartida, as aulas remotas podem ser um empecilho para os estudantes que precisam fazer as atividades sozinhos, sem poder contar com a ajuda dos pais que têm dificuldade em entender os assuntos abordados, explica Pricila.
João confirma que o maior desafio está na participação das famílias, além do acompanhamento da frequência dos alunos. “Na nossa escola, quem faz uso da plataforma são alguns familiares. Há pouco protagonismo das crianças”, comenta. Na opinião do auxiliar de direção, os pais e responsáveis devem incentivar os filhos a aprenderem a usar as salas virtuais, para que ganhem autonomia e consigam se aprofundar nos estudos.
Outra desvantagem das aulas remotas, segundo o auxiliar de direção, é a perda de convívio com os colegas de sala. “Já que, até agora, a plataforma não permite muito contato, como em grupos de estudos”, exemplifica. No entanto, João está esperançoso. “Espero que com a migração para a sala virtual, que fizemos nesta semana, aumente a interação.”
Reportagem: Catherine Kuehl
Infográfico: Catherine Kuehl
Foto de capa: Catherine Kuehl
Conteúdo produzido para o Primeira Pauta Digital | Disciplina Jornal Laboratório II, 7ª fase/2020.