Mulheres são as principais afetadas pela ansiedade durante a pandemia
Falta de ocupação e a preocupação em excesso elevam os casos de problemas psicológicos na sociedade durante a quarentena
Um estudo feito pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro mostrou um aumento de 80% no número de casos de ansiedade e stress e 50% nos casos de depressão desde o início da quarentena. Ao todo, 1.460 pessoas de 23 estados foram entrevistadas e foi descoberto que mulheres que precisam sair de casa para trabalhar, pessoas sedentárias e com doenças preexistentes são os principais atingidos por essas condições.
Segundo a psicóloga Débora Mariana Stähelin, as mulheres são mais propensas à ansiedade principalmente pelas funções que desempenham. “As mulheres estão sendo o público mais afetado devido a uma questão cultural, de trabalho doméstico, de cuidado com relação aos filhos, escola, a relação marido e mulher, além de suas profissões”, explica. “Essa sobrecarga de papéis que a mulher desempenha e a cobrança por esse desempenho são dois motivos que podem explicar o aumento de questões relacionadas à saúde mental para este público.”
A engenheira civil Thais Henning, 55 anos, fica aproximadamente oito horas e meia fora de casa devido ao trabalho. No entanto, diz que as notícias constantes sobre a pandemia são os principais agravantes do seu nível de estresse. “As notícias ruins vêm atrás de nós, mesmo que não procure nenhuma notícia na TV ou nas redes sociais”. Thais tem pressão alta e doença cardiovascular, o que a classifica como grupo de risco da COVID-19. Para ela, ver pessoas descuidadas na rua é muito preocupante.
A pesquisa também indicou que pessoas mais velhas são mais ansiosas do que as novas. “Os jovens têm uma rede de apoio maior. As redes sociais são mais presentes entre as pessoas mais jovens, fazem parte da rotina deles, diferente das pessoas com mais idade, que às vezes são mais apegadas nas suas rotinas e não tem um contato tão intenso com as redes sociais”, explica Débora. Ainda assim, ela frisa que jovens e adultos são afetados de formas muito diferentes, e não há como comparar suas particularidades.
Victoria Heloisa Salles, 21 anos, não tinha crises de ansiedade há cinco anos antes da pandemia começar. Sintomas como falta de ar, inquietação e desespero são os mais comuns, e se manifestam diante do sentimento de impotência. “Eu tenho meus planos, mas não posso dar continuidade a eles, e isso acaba me frustrando”, conta. Victoria está em isolamento desde o início da quarentena, e recentemente começou a ter aulas da faculdade no formato EAD.
A ansiedade e o isolamento
O estudo também mostrou que as pessoas obrigadas a saírem de casa para trabalhar são mais suscetíveis à ansiedade do que aquelas que estão em isolamento, principalmente pela exposição maior ao vírus. Débora, no entanto, se baseia nos casos de seus pacientes quando diz que a situação é outra. Para ela, as pessoas que saem de casa acabam criando um novo cotidiano e se adaptam melhor à nova realidade. “As pessoas que estão em isolamento são as que mais estão procurando os serviços de psicoterapia, por conta dessa perda da rotina e constante adaptação e preocupação quanto ao momento presente e ao futuro”, explica.
Esse é o caso de Victoria. “A rotina me ajuda a controlar a ansiedade, e como eu não tenho mais uma constância no que eu faço, eu tenho mais tempo livre e acabo ficando mais ansiosa”, conta. A falta de uma rotina também afetou seu desempenho na faculdade, tornando a tarefa de organizar o tempo de estudo muito mais desafiadora. “Tem alguma coisa faltando, que me deixou mais relaxada e com um desempenho bem inferior”, explica a estudante.
Repórter: Isadora Castro Nolf
Foto: Isadora Castro Nolf
Conteúdo produzido para o Primeira Pauta Digital | Disciplina Jornal Laboratório I, 4ª fase/2020.