Como os candidatos a prefeito planejam lidar com o Covid-19?
O foco da maioria dos candidatos é recuperar a economia da cidade e investir no empreendedorismo
A Covid-19 já infectou 21.383 e matou 347 joinvilenses desde o início da pandemia e ainda não temos uma vacina com eficiência comprovada. A crise também atingiu a economia, deixando estragos no comércio e na indústria, assim como em outros setores. Mesmo assim, este tema não é prioridade para a maioria dos candidatos a prefeito de Joinville. Neste cenário, o processo das eleições de 2020 também foi afetado, e o clima está tenso. Sabendo que as decisões tomadas em nível municipal têm mais peso do que aquelas de nível estadual, os candidatos deste ano precisam rever suas prioridades e apresentar propostas de governo que abordem a pandemia.
Sem a possibilidade de realizar encontros presenciais, os candidatos também precisam encontrar modos de conquistar a população a distância. Para Darci de Matos (PSD), o desafio é chegar ao eleitor através das redes sociais, da televisão e de outros veículos. “Mais do que isso, as pessoas estão preocupadas com a crise econômica, com a pandemia, e menos preocupadas com a questão da eleição”. O candidato explica que isso é ruim para o processo eleitoral, porque a população não o trata como prioridade.
Junto com isso, muitos candidatos baseiam sua campanha no conceito de falar diretamente com o eleitor, passando a ideia de acessibilidade. Mayara Colzani (PSOL) explica que as reivindicações do partido normalmente são feitas na rua, ao lado da classe trabalhadora. “Com a pandemia, tivemos que adaptar nossa intervenção pros meios digitais e isso tem sido um grande desafio, mas não nos impede de continuar realizando atividades de discussão política.”
Por isso, nas eleições de 2020, a tecnologia desempenha um papel-chave para que os candidatos alcancem seu público. As redes sociais se tornaram o principal meio de comunicação entre político e cidadão, e os debates também mudaram, sendo realizados agora por conferência online. O primeiro debate online realizado em Joinville foi promovido pela Faculdade Ielusc, por meio de uma transmissão ao vivo no YouTube. Algumas perguntas foram reunidas previamente e sorteadas durante o evento, o que possibilitou a participação do público.
Uma vez que os candidatos se adaptam ao modelo de campanha a distância, o afastamento das ruas até apresenta um lado bom.”O que eu vejo do cenário todo é que as restrições trouxeram um aspecto positivo de diminuir a “poluição” que acontece nas campanhas e que ninguém gosta”, comenta Anelísio Machado (Avante) sobre a distribuição de panfletos nos dias da eleição. Ele ainda diz que os impactos da pandemia estão “equilibrando as chances” de todos os candidatos, o que beneficia a população na hora de tomar a melhor decisão.
Prioridades para as eleições 2020
Com a crise causada pela pandemia, a forma de se comunicar com a população não foi a única coisa que mudou. Os candidatos para as eleições de 2020 precisaram repensar seus planos de governo para abordar assuntos que, antes da pandemia, não causavam preocupação. Agora, os eleitores buscam propostas que lidem com a crise na saúde e que tragam alguma estabilidade durante o período pós-pandemia. No entanto, a maioria dos planos de governo publicados não têm como prioridade o combate à doença. Termos como “coronavírus”, “covid-19” e “pandemia” normalmente aparecem apenas uma vez, ou nem são mencionados nos documentos.
A principal preocupação dos candidatos para as eleições de 2020 é a economia da cidade, com foco principalmente em gerar mais empregos e incentivar o empreendedorismo em Joinville. Fernando Krelling (MDB) aponta que o foco deve ser a geração de empregos. Segundo ele, para que isso aconteça, a prefeitura deve implantar ações como a desburocratização dos processos administrativos, atraindo mais startups e possibilitando o crescimento de empreendedores. Os termos “empreendedorismo” e “trabalho” aparecem diversas vezes no plano do candidato, e a pandemia não é citada.
Em documentos onde a pandemia é pouco citada, os termos estão ligados principalmente à recuperação econômica da cidade, devido aos danos que o vírus trouxe aos negócios de pequeno até grande porte. De acordo com o Sebrae/SC, até abril deste ano empresas de Joinville perderam R$ 803 milhões em receita e demitiram 34 mil funcionários, aproximadamente duas pessoas para cada entrevistada. “A saúde é prioridade, mas além de tudo nós precisamos destravar a cidade para que as empresas não vão embora de Joinville para Araquari, mas que fiquem aqui e gerem emprego”, diz Darci. Entre suas propostas está a desburocratização da abertura de empresas e a implementação do conceito “economia criativa” na cidade, que consiste em indústrias como artes visuais, mídias, design e outras. Uma economia “mais limpa”, segundo o candidato.
Apenas quatro entre os 15 candidatos a prefeito criaram um plano de governo que mencione a pandemia com frequência, ou seja, com um parágrafo ou subtítulo específico para o tema. Nestes documentos, o foco principal é erradicar o vírus na cidade e lidar com os danos deixados para trás. “Vamos instalar em Joinville uma unidade de reabilitação para pacientes atingidos por sequelas deixadas pela infecção do novo coronavírus, com equipe multiprofissional de médicos e fisioterapeutas, e realizar ampla testagem para as pessoas sintomáticas ao novo coronavírus, garantindo o isolamento social para fins epidemiológicos”, propõe Francisco de Assis (PT). O plano de governo do candidato é um dos que mais menciona termos relacionados ao coronavírus: a palavra “pandemia” aparece 13 vezes. Seu plano para a doença consiste, basicamente, em reforçar as medidas preventivas na ausência de uma vacina e estruturar formas de recuperar Joinville no “pós-pandemia”.
Assim como Francisco, Adriano Mesnerovicz (PSTU), menciona o termo “pandemia” 13 vezes. O plano do candidato é focado principalmente em ajudar a população mais pobre e, ao abordar a pandemia, propõe a quarentena generalizada, limitada aos serviços essenciais, testagem em massa e incorporação do sistema de saúde privado com o SUS para aumentar a quantidade de leitos e equipamentos para lidar com pacientes contaminados. Para combater o desemprego, Adriano propõe o Passe Livre, isenção de taxas municipais como IPTU e construção de creches e escolas, que devem gerar mais emprego.
Atrás de Adriano está o plano de Mayara, que cita termos relacionados à pandemia oito vezes. Em seu plano de governo, ela defende que a quarentena deve durar até que uma vacina seja criada e distribuída à população, assim como a suspensão das aulas presenciais e a garantia dos recursos necessários para professores e alunos durante o ensino remoto. Para a candidata, a melhor forma de combate à pandemia é por meio da estatização do sistema de saúde. “Dessa forma, poderemos criar uma fila única para atendimentos e internações, dando a todos o direito de receber os cuidados médicos necessários para viver, sem que isso dependa de sua capacidade de pagar um plano de saúde ou o valor integral.”
Anelísio também aborda a pandemia diretamente, avisando que o risco de novas pandemias como a da covid-19 podem voltar a aparecer, e que por isso é necessário criar uma série de ações que preparem Joinville para lidar com tais situações, além de recuperar os danos já sofridos. Para isso, o candidato pretende investir em peso no setor da saúde, garantindo atendimento e diagnóstico rápido, além dos equipamentos necessários para postos de atendimento.
Como a atual gestão lidou com a pandemia
A gestão de Udo Döhler (MDB), falhou na missão de achatar a curva de contaminações por covid-19 em diversos aspectos. Isto na visão da maioria dos candidatos. “Vimos em Joinville um abre e fecha, um vai e volta, além de uma defesa do prefeito pela chamada ‘imunidade de rebanho’, prática recriminada pela comunidade científica”, lembra Francisco de Assis. Ele acredita que a principal falha da gestão foi a falta de planejamento. No ápice da pandemia, Udo foi criticado por afastar a opção de decretar lockdown na cidade apesar de pedidos e, em julho, os leitos de UTI para pacientes com coronavírus beiravam a lotação.
Udo ainda ignorou conselhos de órgãos de saúde, incentivou a população a sair de casa e disseminou informações falsas, como a necessidade da implantação da “imunidade de rebanho”. A prática já foi comprovada ineficiente como prevenção da covid-19, e consiste basicamente na contaminação de uma porção da população para alcançar a imunidade. Ele também pressionou o Ministério da Saúde pela liberação da hidroxicloroquina para pacientes contaminados, medicamento que não tem eficiência comprovada contra a doença.
Outros, ainda, têm uma visão mais dura da abordagem escolhida por Udo. Anelísio diz que todos os erros possíveis foram cometidos, e que a gestão foi péssima. “Como empreendedor entendo que a falha aconteceu na precipitação e na falta de planejamento. Respeito muito o senhor Udo Dohler, mas vejo que ele falhou gravemente porque insistiu na visão da ‘experiência da gestão empresarial’”, diz o candidato, conhecido por seus empreendimentos na área da educação.
Enquanto uns criticam, outros candidatos como Krelling, que faz parte do mesmo partido de Udo, têm uma impressão positiva da gestão atual. “Dentro das condições estruturais que tinha, entendo que Joinville, através da Secretaria de Saúde, conduziu bem os trabalhos nos hospitais, minimizando o número de óbitos graças a agilidade e competência dos profissionais de saúde”, conta ele. Krelling frisa pontos fortes como a rapidez na criação de novos leitos de UTI e de decretos focados principalmente na saúde da população.
Adriano Silva, candidato pelo Novo, também avalia a atual gestão por seus pontos positivos, como a reforma de uma ala no Hospital São José para atender pacientes contaminados. “Essa foi uma iniciativa muito inteligente. Diferente de outras cidades que gastaram milhões com a instalação de hospitais de campanha, nós construímos algo permanente, que fica para a população usufruir após a pandemia”, relembra. Adriano participou diretamente do projeto como líder do comitê de saúde da ACIJ, e conta que o sucesso do projeto só se deu pela união do setor privado com o público.
Reportagem: Isadora Castro Nolf
Foto: Nadine Quandt
Conteúdo produzido para o Primeira Pauta Digital | Disciplina Jornal Laboratório I, 4ª fase/2020.