O meio ambiente na agenda dos candidatos a prefeito de Joinville
Conhecida por ser a Manchester catarinense, a cidade tem problemas ambientais sérios que precisam ser resolvidos nas próximas gestões do poder executivo
Criar programa de incentivo a agricultura, desburocratização de processos de licenciamento ambiental e tratamento de esgoto estão entre as propostas dos candidatos à prefeitura da maior cidade do estado. Em 2020, os eleitores joinvilenses terão que escolher um novo prefeito, mesmo com a pandemia do novo coronavírus. Com isso, é importante prestar atenção nas propostas para o meio ambiente da cidade.
Segundo Fernanda Stafford, 40, engenheira ambiental e doutora em meio ambiente pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), além de prestar atenção nos próprios problemas ambientais, Joinville deve ficar atenta às adversidades externas. “A cidade enfrenta problemas não exclusivamente locais, mas sim externos que afetam a vida na cidade. É preciso olhar para as mudanças climáticas, os problemas ambientais na nossa cidade podem aumentar ainda mais”, disse a especialista.
A pesquisadora afirmou também que não há solução imediata para a resolução dos danos ambientais na cidade, é um trabalho gradual e que pode levar anos e várias gestões políticas. A população joinvilense busca agora serviços básicos, como coleta e tratamento de esgoto, e questões de mobilidade urbana. “O poder executivo municipal deve chamar para si a responsabilidade de conduzir a sociedade para um modelo que seja efetivamente sustentável a longo prazo, a realidade atual é preocupante”, avaliou Fernanda.
Para concluir, Stafford explicou que Joinville, assim como qualquer cidade que possui problemas ambientais, difere ambiente urbano do meio ambiente, e que é possível haver um equilíbrio entre uma sociedade sustentável e qualidade de vida na população. “Tudo a nossa volta é ambiente e cabe a nós, enquanto sociedade, encontrar as melhores maneiras de reintegrar os processos da natureza no ambiente que vivemos”, conclui a pesquisadora.
O candidato para a prefeitura de Joinville, James Schroeder (PDT), é engenheiro agrônomo e possui experiência no setor público da cidade, já atuou em projetos para a preservação de nascentes e defendeu pautas ambientais ao longo da sua gestão como vereador. James é o candidato que mais possui propostas para o meio ambiente. Na avaliação do candidato, o principal problema da cidade é a maneira com que a natureza é tratada, e isso precisa ser resolvido com urgência. A cobertura insuficiente do tratamento de esgoto e a preservação dos mananciais de água estão entre os principais problemas.
Schroeder pretende, se for eleito, realizar um programa de incentivo à agricultura familiar, com o pagamento de serviços ambientais, com foco na produção de agricultores e proprietários rurais como produtores de água. James também deseja viabilizar o uso do lixo doméstico para a geração de biocombustíveis. Na visão do candidato, pode servir como combustíveis para ônibus, focando na redução da tarifa do transporte público. “É possível promover o desenvolvimento econômico na nossa cidade sem relativizar os mecanismos de proteção ambiental”, disse Schroeder.
No mesmo partido do prefeito atual da cidade de Joinville, Fernando Krelling (MDB) também está concorrendo nesta eleição para a prefeitura. Krelling possui trajetória política no município, foi vereador e também presidente da Câmara de Vereadores, atualmente é deputado estadual em Santa Catarina. Nas suas propostas para o meio ambiente, o principal projeto é a desburocratização de processos de licenciamento.
O deputado estadual quer, caso seja eleito, atualizar o Plano Municipal de Gerenciamento Costeiro para fazer uso sustentável da Baía da Babitonga, formalizar o acordo setorial para implementação da Logística Reversa, entre outras propostas com foco mais legislativo e nem tanto com investimentos. É evidente que para o candidato o foco não é o meio ambiente.
Com experiência em gestão pública, Francisco de Assis (PT) possui propostas um pouco diferentes dos outros candidatos em relação ao segmento ambiental. Entre suas propostas, o petista quer concluir a Estação de Tratamento de Esgoto do bairro Jardim Paraíso, recuperar a rede que já está instalada na região e concluir a instalação de fossas sépticas na área rural.
Assis acredita que a qualidade de vida dos cidadãos joinvilenses possui relação direta com o cuidado ao meio ambiente. “A saúde e o bem-estar de nossa população dependem de investimentos contínuos e eficazes em projetos que permitam o crescimento sustentável”, diz o candidato.
Bisneto do fundador do Laboratório Catarinense e atual presidente da empresa, Adriano Silva (Novo) também está na corrida para ocupar o cargo de prefeito em Joinville. Durante a carreira na empresa de sua família, Adriano investiu em programas de educação ambiental entre os funcionários. Ele cita em sua campanha que a maior cidade do estado precisa de uma atenção especial no meio ambiental.
Para o candidato, cuidar do meio ambiente ao longo de sua gestão, caso eleito, é essencial pois é a melhor herança possível para deixar as próximas gerações. “Assegurar a despoluição dos rios e dar o destino aos resíduos é uma das principais coisas que devem ser feitas” disse Fernando. O novista também é um dos candidatos que pretendem realizar a desburocratização de processos de licenciamento ambiental para o desenvolvimento urbanístico.
A ex-vereadora Tânia Eberhardt (Cidadania) é uma entre duas mulheres candidatas à prefeitura de Joinville. Ao longo de sua trajetória na gestão pública, esteve ligada a questões relacionadas ao meio ambiente através de ações relacionadas à gestão dos serviços de saúde e educação. Para ela, o investimento no ambiente pode dar retorno a outras áreas, “Muitas vezes nossos gestores públicos não se dão conta de quão significativo pode ser o retorno de investimentos voltados para o cuidado ambiental”, colocou.
Eberhardt também acredita que um dos principais problemas ambientais da manchester catarinense é o baixo índice de saneamento. Segundo ela, esta é uma área sensível e que precisa ser trabalhada com a criação e execução de projetos de curto a médio prazo, e que impacta a saúde de toda a população da cidade. Outro problema na visão de Tânia e que coincide com outros candidatos é a dificuldade de realizar licenciamentos ambientais.
Entre suas propostas, está o plano de governo que prevê a revisão do Plano Municipal de Saneamento e o Plano Municipal de Resíduos Sólidos, além da ampliação de investimentos para a expansão da rede coletora e construção de estações de tratamento de esgoto sanitário. “A cidade sofre com constantes alagamentos devido à sua natureza geográfica, mas isto tem se tornado cada vez pior devido à falta de drenagem adequada” conclui.
Empresário conhecido em Joinville, Anelísio Machado (Avante) também está na corrida para a prefeitura de Joinville. Ao longo de sua trajetória, o candidato disse ter sido altamente prejudicado pela burocracia para conseguir realizar procedimentos de licenciamento ambiental na cidade. Sua empresa, Assessoritec, que realiza cursos técnicos profissionalizantes e supletivos, já fez parte da parceria verde com a prefeitura, em que a sua instituição cuidou de uma praça em frente a um de seus prédios.
Para o candidato, o principal problema ambiental em Joinville é a ‘inimizade’ entre empreendedores e a prefeitura na hora de conseguir licenciamentos e alvarás. “Devemos transformar a comunicação e o diálogo entre a prefeitura e o ministério público, dessa forma iremos desburocratizar várias dessas questões, e assim deixaremos Joinville uma cidade melhor para empreendedores”, afirmou Machado.
Candidato à prefeitura em várias eleições anteriores, Darci de Matos (PSD) está se candidatando mais uma vez. Segundo ele, a degradação do rio cachoeira por meio de dejetos jogados pelos córregos e o desmatamento está entre os principais problemas ambientais da cidade. “Proteger o meio ambiente significa proteger a vida, por isso devemos proteger nosso mangue, nossa fauna e nossa flora”, justificou.
A ausência do tratamento de esgoto também é um problema grave segundo ele: “Temos apenas 39% do esgoto tratado e ainda estamos jogando alguns dejetos e resíduos industriais em rios, isso é uma vergonha”. Darci também afirma que o desenvolvimento urbano de Joinville deve ser vertical e não mais horizontal. A justificativa é que houve uma ocupação de forma irregular nos últimos anos com o crescimento da cidade.
O vice-prefeito da gestão atual, Nelson Coelho (Patriota), está concorrendo às eleições para a prefeitura. Ao longo da sua trajetória como militar, Coelho atuou no combate ao desmatamento ilegal em alguns estados brasileiros. Segundo ele, é preciso que Joinville tenha o ecossistema adequado para que seja preservado o meio ambiente, mas que também haja desenvolvimento.
Entre suas propostas para o meio ambiente joinvilense, assim como outros candidatos, é a desburocratização para alvarás de obras: “O empresário tem que saber se terá autorização para construir e não perder tempo. O empresário, e o próprio joinvilense que quer investir, não sabe, e isso é uma areia movediça”. Nelson afirma que Joinville deixa de atrair investimentos por conta de políticas que estão sendo exercidas há anos.
O meio ambiente na gestão atual e no passado de Joinville
O atual prefeito, Udo Döhler (MDB), que está em sua segunda gestão, é muito criticado pela população. Em suas duas gestões, foram deixadas uma onda de dúvidas a respeito do futuro da cidade, principalmente nas áreas de economia, infraestrutura e medidas relacionadas ao meio ambiente.
Ao longo de sua história, a maior cidade do estado passou por diversos problemas ambientais. A má ocupação de algumas áreas urbanas da cidade, com a ausência de avaliação do solo, gera diversos problemas para a população, como frequentes enchentes e deslizamentos de terra. Quem acaba pagando pelos descasos que muitas vezes são causados pela prefeitura é a própria população, com o prejuízo de milhões de reais quando esses desastres ocorrem.
Outro problema grave que cidade enfrenta é a poluição causada por empresas. A indústria têxtil Döhler, o qual o prefeito Udo dirige há décadas, assim como outras indústrias da cidade, já pagou milhões de reais em multas ambientais à prefeitura, principalmente com a poluição do Rio Cachoeira. E a lista de empresas que já causaram grandes danos, não é pequena, entre elas, há empresas que são conhecidas em todo o território nacional, como a Lepper, Ciser, Tigre e Amanco.
Reportagem: Kevin Banruque
Foto: Kevin Eduardo
Conteúdo produzido para o Primeira Pauta Digital | Disciplina Jornal Laboratório I, 4ª fase/2020.