“Bolsonaros joinvilenses” disputam eleição municipal
Onda bolsonarista abre espaço para prefeituráveis mostrarem semelhanças com o presidente
Liberal na economia, conservador nos costumes, antipetista, anticomunista, anticorrupção e abertamente contra a esquerda. Essas são algumas das convicções que o presidente Jair Bolsonaro carrega consigo desde as eleições de 2018, quando recebeu o voto de 83% dos joinvilenses. No segundo turno, Bolsonaro conquistou 262.556 votos em Joinville. Com as eleições municipais agendadas para novembro deste ano, candidatos tentam mostrar semelhanças com o presidente e surfar na onda bolsonarista.
Postulantes não faltam. Darci de Matos (PSD) nunca fez questão de esconder a admiração pelo presidente da República. Como deputado federal, Darci já posou para fotos com Bolsonaro, com o vice Hamilton Mourão e até mesmo o ex-ministro da Justiça Sérgio Moro. “Bolsonaro é um presidente de atitudes, um presidente honesto, é um presidente que está fazendo mudanças com o apoio do Congresso Nacional”, afirmou Matos.
Darci está alinhado com a agenda econômica do governo atual. Ele destacou que, com Bolsonaro, o país voltou a crescer e, se não fosse a pandemia, continuaria crescendo. Sobre a pauta do presidente, afirmou que “é enxugamento da máquina, da desburocratização, a pauta da liberdade econômica para que a gente possa fazer Joinville voltar a crescer”, afirmou.
Assim como Darci, o candidato Eduardo Zimmermann (PTC) também possui registros com Bolsonaro. Na conta do Facebook, Eduardo usa essas fotos no perfil. Para ele, a disputa sobre quem se equipara mais a Bolsonaro não existe. Isso porque ele se intitula como o único a apoiar o presidente desde 2014. Eduardo garante que há quem nunca teve nenhuma atitude em favor de Bolsonaro antes do segundo turno das eleições de 2018. “E essas pessoas dizerem que estão alinhadas com Bolsonaro não tem o menor cabimento.”
Recentemente, Eduardo voltou a falar sobre isso em um vídeo no Instagram. O candidato fez uma queixa, pois não foi convocado para um debate promovido por alunos do curso de Jornalismo da Faculdade Ielusc. “Você quer ver o único candidato bolsonarista à prefeitura de Joinville nos debates? Pois é, porque o único candidato bolsonarista foi excluído”, disse no vídeo.
Em resposta a um comentário no Facebook, o Curso de Jornalismo explicou que, devido ao número recorde de candidatos, foram selecionados apenas os prefeituráveis cujo partido tem representação na Câmara dos Deputados. Essa também é uma recomendação do Tribunal Superior Eleitoral. O evento aconteceu às 19h30 do dia 06/10 e, devido ao critério adotado, três dos 15 concorrentes ficaram de fora.
Os valores joinvilenses estão muito ligados aos bolsonaristas. É o que analisa a antropóloga Maria Elisa Maximo. Joinville possui uma elite dominante e é essa elite quem dita as relações de poder entre trabalhador e proprietário. “Do ponto de vista econômico e político, se a gente for pensar no viés neoliberal, são esses os valores que predominam na cidade hoje”.
Outro candidato que acredita no potencial de Bolsonaro é Fernando Krelling (MDB). Ele já recebeu apoio declarado do prefeito Udo Döhler e do vice-presidente Hamilton Mourão, com quem posou para fotos. Na época, Mourão disse: “Peço aos amigos joinvilenses que confiem no Fernando Krelling, que tem capacidade de fazer Joinville crescer mais ainda”.
O candidato abriu seu voto e confirmou que em 2018 escolheu Bolsonaro. Apesar do apoio do vice, o presidente afirmou mais de uma vez que não se posicionará sobre as eleições municipais, abrindo espaço para que candidatos surfem na onda bolsonarista. “O fato de Joinville ser uma cidade bolsonarista, visto o resultado das últimas eleições, não deve ser usado como trunfo para barganhar votos nas eleições municipais”, opinou Krelling.
A onda bolsonarista é baseada no discurso antissistema utilizado por Bolsonaro. É o que avalia a professora de sociologia Suelen Fruneaux. “Bolsonaro se elegeu, dentre tantas outras artimanhas e ilegalidades, por se apresentar como o candidato à época antissistema, com um discurso ultraliberal no campo econômico e extremista nos costumes”, analisou a professora.
Mas tem candidato que quer distância dos assuntos que envolvam o governo federal. James Schroeder (PDT) decidiu não envolver Bolsonaro nas discussões eleitorais. A assessoria do candidato comentou que eles não querem “federalizar as eleições municipais”.
Outros preferem respostas diretas. Sem devaneios. Marco Aurélio Marcucci (Republicanos) foi preciso quando falou sobre as pautas de Bolsonaro. Dentre elas, o candidato destaca algumas que também defende, como a posse e o porte de armas de fogo, a reforma administrativa e tributária e a alteração no código de trânsito.
Marcucci foi exonerado do cargo de delegado em Joinville em 2006. Ele foi condenado por extorquir dinheiro de arrombadores de caixas eletrônicos e ficar com parte dos produtos apreendidos nas ocorrências.
Nem todos os candidatos têm histórico no setor público. O empresário Adriano Silva (Novo) concorre pela primeira vez a um cargo governamental. Adriano estava cotado para concorrer à prefeitura de Joinville desde julho do ano passado. As redes sociais do prefeiturável são preparadas desde então, mas sem fotos com o presidente da república, apenas com colegas de partido.
Adriano disse que não vê que o governo federal tenha adotado uma medida específica que beneficie Joinville. Mas admite que observava uma condução adequada nas medidas econômicas antes da pandemia da covid-19. “Ainda é cedo para reavaliar essa questão, considerando que a pandemia ainda não foi totalmente superada”, comentou.
Silva não é o único que poupou palavras ao falar do governo federal. Dalmo Claro (PSL) não teve posicionamento claro quando falou sobre Bolsonaro, mesmo sendo do mesmo partido que elegeu o presidente em 2018.
Questionado se Joinville deveria se espelhar nas políticas do presidente, Dalmo respondeu que vai se espelhar nas próprias políticas. “Administrar o país é tarefa do presidente, mas as pessoas vivem nas cidades e precisam de atenção aos seus anseios, dificuldades e busca por oportunidades”, afirmou. Apesar das palavras, Claro já posou para fotos em frente a um mural que tinha estampado o rosto do presidente.
Ainda dentro do setor privado há o candidato Anelísio Machado (Avante). Para ele, o peso dos votos em Bolsonaro é um espelho do que representa as vontades da população. “Eu vejo os méritos que a figura dele representa e busco fazer de Joinville uma cidade que se espelha nas melhores referências que ele tem”, afirmou.
Discreto nas palavras, mas ativo nas redes sociais, Nelson Coelho (Patriota), que atualmente é vice-prefeito de Joinville, acredita que não haverá disputa entre os candidatos pelo posto de “Bolsonaro joinvilense”. O prefeiturável disse que o candidato que “perder tempo se comparando ao presidente Bolsonaro” e não apresentar boas propostas, deixará evidente que não quer ser prefeito, mas sim suceder o presidente em 2022.
Apesar disso, Coelho já posou para fotos com uma camiseta com os dizeres “Deus, Pátria e Família”, frase recorrente no governo Bolsonaro. Além disso, o candidato já defendeu outras pautas do governo atual nas redes sociais, como a reforma da previdência, posse e porte de armas e pacote anticrime.
Assim como Coelho, Tânia Eberhardt (Cidadania) também simpatiza com algumas medidas do governo atual, entre elas a aprovação do novo Fundeb e o Auxílio Emergencial. O projeto no valor de R$ 600 foi proposto na Câmara dos Deputados. Ela também defende o fim do foro privilegiado e a prisão após julgamento em segunda instância. “Quero crer que seja uma pessoa do bem. Defendo a democracia, ele foi escolhido pela maioria dos eleitores para ser nosso Chefe de Estado”, comentou sobre o presidente.
O bolsonarismo está muito baseado nos mesmo princípios de outros regimes autoritários e totalitários. É o que afirma a antropóloga Lorena Trindade. Para ela, o governo representa um conservadorismo extremo nos costumes, escolhendo as minorias como inimigos. Como exemplos de minorias, ela cita a comunidade negra, indígenas, quilombolas e mulheres. “Esse é um governo majoritariamente formado por homens brancos médios. Existem poucas mulheres e quando há, elas estão totalmente em consonância com esse discurso masculino e machista na maior parte das vezes.”
Esquerda joinvilense e Bolsonaro
Para aqueles que acreditam que não possa existir semelhança entre um candidato de esquerda e Bolsonaro, se enganam. Na proposta de governo, o prefeiturável Adriano Mesnerovicz (PSTU) ataca com veemência o Partido dos Trabalhadores, também criticado pelo presidente. “O PT no poder se tornou um gerente dos negócios da burguesia e das multinacionais.” É certo que os motivos da crítica não são os mesmos.
Apesar de condenar o partido vermelho, Adriano também não mede palavras para criticar o governo Bolsonaro e o prefeito Udo Döhler. “Na Pandemia, depois de ficar sumido durante os dois primeiros meses da catástrofe sanitária, apareceu repetindo o discurso de Bolsonaro genocida, falando sobre imunidade de rebanho, falando que as mortes são apenas de pessoas com mais de 60 anos”, destacou o candidato.
O PSOL, que também não escapou da língua afiada de Adriano, lançou Mayara Colzani como candidata. Ela também fez críticas ao governo Bolsonaro e afirmou que segue na luta por um governo dos trabalhadores, “sem patrões, nem generais”.
Mayara, assim como Adriano, não poupou palavras para descrever o governo Bolsonaro. Ela o classifica como “um bando criminoso, capacho do capital financeiro, dos parasitas que sugam a dívida pública, dos banqueiros e especuladores, além da total submissão ao imperialismo”.
Ainda do lado esquerdo do rio, o candidato Francisco de Assis (PT) confirmou que não trará a pauta Bolsonaro para o debate local. “Se houver uma disputa para saber quem mais se equipara ao presidente, nós estamos fora”, afirmou.
Mesmo com a crítica, Assis elogiou duas medidas aprovadas pelo governo atual: o auxílio emergencial e a Lei Aldir Blanc, que dá apoio ao setor cultural, afetado pela pandemia da covid-19. “Talvez ele não tivesse escolha, mas o presidente acertou ao sancionar”, comentou.
Assim como outros concorrentes, Ivandro de Souza (Podemos) não deixou de compartilhar nas redes sociais um registro ao lado de Bolsonaro. Na legenda da foto publicada em agosto de 2019, comemorou: “Dia de festa para a construção civil!!! Financiamentos indexados ao IPCA ficarão mais baratos para o brasileiro com mais obras e mais empregos”. Em janeiro deste ano, compartilhou a mesma foto. “#tbt com o Presidente Jair Messias Bolsonaro”, escreveu na legenda. Em 17 de setembro foram encaminhadas perguntas para a assessoria do candidato, mas até o fechamento da reportagem não houve retorno.
Diferente dos demais candidatos, Levi Rioschi mantém uma campanha mais discreta. Assim como Bolsonaro, Levi é cristão e traz esses princípios para sua candidatura. No dia 15 de setembro, foi realizado contato com o prefeiturável via rede social, mas até o fechamento da matéria não houve retorno.
Reportagem: Beatriz Kina
Artes: Kevin Eduardo da Silva
Conteúdo produzido para o Primeira Pauta Digital | Disciplina Jornal Laboratório I, 4ª fase/2020