Preço da carne bovina aumenta e consumo é menor em 25 anos
Segundo pesquisa do IBGE, brasileiro pagou 35% mais caro na proteína em 2021
Por: Zuciane Peres
O tradicional churrasco de final de semana dos brasileiros precisou ser substituído. O consumo da carne vermelha no país caiu para o menor nível em 25 anos. No lugar das carnes de primeira, muitos têm recorrido aos produtos considerados menos nobres, como frango, ovos, carne de porco e partes menos demandadas do boi — acém, lagarto e músculo. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), nos últimos 12 meses, o brasileiro pagou 35% mais caro para ter a carne na mesa.
A auxiliar de serviços gerais de São Bento do Sul, Dorilda Liebl faz parte dos brasileiros que precisaram se adaptar à fase atual do governo brasileiro. Segundo ela, sua família está consumindo menos e pagando mais. “Precisamos reduzir o que consumimos todos os dias no almoço e no jantar. O preço da carne está muito alto, principalmente a de gado, aqui em casa comemos apenas uma vez por dia. Agora trocamos a carne por produtos embutidos para fazer algum molho ou ficamos sem comer a proteína”, comenta.
Durante a pandemia, o brasileiro passou a comer 26,4 quilos de carne ao ano, o que representa uma diminuição de 14% no consumo em relação a 2019. O histórico desse problema começou em 2018, com a peste suína africana que afetou a Europa e a Ásia, alterando o mercado chinês. Por consequência, aumentou a procura dos países não afetados, principalmente do Brasil, que é o maior exportador mundial. Segundo o professor de economia e consultor de treinamentos em empresas, Ulises Jacinto Aguayo Garrido, vários motivos explicam o aumento no valor da carne. “O Brasil não tinha produção alta para tanta demanda. A consequência é a subida dos preços internos pela redução de oferta de carne bovina no mercado, tecnicamente chamada de oferta e demanda econômica”, diz.
Para Ulisses, o preço vai se estabilizar com o tempo, dependendo da variação dos mercados globais e do preço do dólar. “Não faltará carne no mercado interno, porém ela vai continuar cara”, afirma Garrido.
Entre as causas para essa disparada nos preços, segundo o IBGE, estão o dólar elevado e o aumento nas exportações, o que diminui a oferta de carnes no país. O dólar alto encarece os custos com matéria prima, principalmente o milho e a soja, usados na alimentação dos animais. Os produtores desses insumos também têm preferido exportar, diminuindo a oferta no país e elevando seus preços no mercado interno.
Carne pode ser substituída por outros alimentos
Com o aumento do preço da carne, os brasileiros trocaram as proteínas por alimentos mais baratos. Em pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha 50%, da população afirma ter trocado a carne pelo ovo. No geral, todos os produtos pesquisados tiveram queda no consumo. Ainda de acordo com o levantamento, a região Nordeste foi a que mais diminuiu o consumo de algum item da cesta básica.
Apesar de os brasileiros substituírem as proteínas, a carne vermelha é fundamental para a saúde. O alimento possui alto valor biológico, sendo fonte de vitaminas, minerais e, para os amantes de dieta, tem baixo valor calórico. Mas há outras opções tão saudáveis como a carne.
Segundo a nutricionista Valquíria Amarante, leguminosas como feijão, soja, grão de bico e cereais como arroz e quinoa são ricos em proteínas e consequentemente uma boa troca para a alimentação. “Uma das maiores deficiências nutricionais em não comer carne seria a falta da vitamina B12, presente principalmente em produtos de origem animal. Recomendo variar a refeição com alimentos ricos em vitamina C para potencializar a absorção do ferro”, comenta.
Segundo ela, todas as pessoas têm uma recomendação diária de proteínas, sendo importantes para crianças, auxiliando no crescimento e desenvolvimento adequado, e para adultos no ganho da massa muscular. Diversos alimentos conseguem fornecer os mesmos nutrientes e proteínas que carnes, e outros conseguem até ser substitutos para quem gosta de proteínas animais.