A cultura quer ser notícia. Mas onde?
Não é preciso ter olhos de lince para perceber que a cultura sumiu do noticiário joinvilense. Com o encolhimento das redações e o estreitamento da pauta, a editoria ganhou enfim o carimbo de desimportante, só dando as caras quando o assunto é Festival de Dança, Bolshoi, Juarez Machado ou outro evento de vulto.
Ironia é que há muito tempo não se precisava tanto da arte e da cultura como agora, pandemia correndo solta e a sociedade se olhando no espelho em busca de uma cara que faça sentido em meio a tanta perda, dor e medo. Mas não. Aparentemente, a classe não vale o esforço e, para piorar, de uns tempos para cá, artistas e produtores têm sido taxados de inúteis e sanguessugas do dinheiro público.
Esquecidos na pauta, o distanciamento dos assuntos culturais locais aumenta até que a população em geral os perca de vista, sem sentir falta. Será que as vozes artísticas de uma comunidade importam tão pouco assim? Essa é uma questão que não se resolve em poucas linhas. Bem como não existe uma saída simples para esse beco a que chegou a presença dos temas culturais nos meios de comunicação da cidade.
Para além das pequenas bolhas criadas pelos próprios artistas e produtores, vejo o rádio como um possível atenuante para a lacuna entre o que é produzido e o que é divulgado. Não o rádio comercial, mas as emissoras públicas, cujo viés cultural já consta de sua orientação educativa.
Claro, suas respectivas grades já dão espaço para os artistas daqui. O caso é ampliar essa vocação natural para se tornarem ponto de partida e de chegada obrigatório para qualquer um interessado no que a cidade tem a oferecer.
Ondas radiofônicas e presença online teriam que andar lado a lado, de mãos dadas e trocando confissões. Hoje, sem o impulso das redes sociais só se chega até a metade do caminho, então turbinar tal aspecto é fundamental nessa aliança de bytes e frequências, é praticamente inevitável o maior alcance da programação. Ganha a cena cultural com divulgação e ganha a rádio com o crescimento da audiência.
Claro que tudo isso é um pensamento em caixa alta. Existem soluções em andamento para melhorar a divulgação da arte e da cultura em Joinville, e outras sendo pensadas pelos integrantes do Fórum de Comunicação em Cultura.