Copa do Mundo 2022: as polêmicas que envolvem o Catar
País sede acumula acusações de violações aos direitos humanos
por Luiza Helena da Rocha e Willian Campos de Souza.
Apesar de os jogos da Copa do Mundo de 2022 terem dia e hora para acabar, as questões que excedem as quatro linhas estão longe de terem um fim. Conhecido pelas suas violações aos direitos humanos, o Catar acumula polêmicas envolvendo ataques a mulheres e a homossexuais, além de trabalho escravo.
As mulheres cataris vivem em um país com leis machistas onde, de acordo com o Human Rights Watch, são adotadas regras discriminatórias de tutela masculina, negando às mulheres o direito de tomar decisões sobre suas próprias vidas.
“Quando a gente vê um país que ainda tem a cultura enraizada com a religião, ainda vamos ver um país com retrocesso”, disse Rafaela de Almeida, estudante de psicologia.
“Porque o segmento da religião é bem claro quando diz que a mulher tem que ser submissa, que a mulher não pode ser independente, que a mulher não pode ter uma autonomia. Ela não pode ser o que ela quer ser”.
No Catar, a denúncia de estupro pode ser considerada como uma confissão, destacou a instituição, visto que o código penal do país criminaliza todas as formas de sexo fora do casamento. As sentenças podem ir até sete anos de prisão, com a possibilidade de açoitamento ou apedrejamento caso a mulher seja muçulmana.
Na partida entre País de Gales e Irã, uma torcedora foi abordada por guardas, por exibir uma camisa com o nome de Mahsa Amini, jovem de 22 anos detida e morta pela Polícia da Moralidade de Teerã por infringir o código de vestimenta feminino ao deixar uma mecha de cabelo aparecer.
Outra grande questão que envolve o Catar está relacionada às condições de trabalho dos operários responsáveis pelas obras realizadas no país. Foram protocoladas diversas denúncias sobre possíveis casos envolvendo más condições de trabalho e exploração, desde que o país foi escolhido para sediar o mundial de futebol, há dez anos.
Segundo a publicação do jornal inglês “Mirror”, 1.200 pessoas já morreram por viverem em condições desumanas, obrigadas a morar em lugares sujos, com pouca higiene e bebendo água salgada. Além disso, a reportagem revela que muitos imigrantes que foram para o país buscar emprego tiveram seus passaportes apreendidos. Impedidos de retornarem aos países de origem, eles seriam mantidos num esquema de escravidão, com direito a agressões.
Discriminação contra a comunidade LGBTQIA+
O código penal do Catar também proíbe a homoafetividade para homens e mulheres no país, tendo até o apedrejamento como pena máxima. Antes de começarem os jogos da primeira fase, os capitães da Inglaterra, Harry Kane, e Virgil Van Dijk, da Holanda, por exemplo, manifestaram o desejo de utilizar a faixa, símbolo de apoio à comunidade LGBTQIA+, nos jogos das seleções. Porém, por medo de punições, a braçadeira do arco-íris não foi utilizada nos jogos da Copa do Mundo.
Momentos antes da estreia da seleção da Alemanha diante do Japão, os jogadores fizeram um protesto contra a proibição do uso da braçadeira colorida cobrindo as suas bocas na hora de tirar a foto oficial do time. Em nota, a Federação Alemã de Futebol revelou que a ideia partiu dos próprios atletas.
O regulamento da Fifa estabelece que os capitães devem utilizar uma braçadeira padronizada, sem deixar claro qual seria a punição em caso de desobediência. Por isso, oficialmente, a Fifa nega que o veto à braçadeira do arco-íris ocorra por conta das políticas do governo do Catar contra a comunidade LGBTQIA+. A norma, contudo, é considerada por ativistas uma espécie de “censura disfarçada” contra as manifestações favoráveis aos homossexuais.
Catar sobe 11 posições em Lista Mundial de Perseguição
O Catar subiu 11 posições na Lista Mundial de Perseguição (LMP) em 2022. A perseguição a cristãos foi uma das que mais cresceram nos últimos anos. No país, não é reconhecida a conversão ao islã, e como em todo país da Península Arábica, a pessoa já nasce muçulmana. Por isso, quando ela se converte pela internet, programas de rádio e TV, produzidos a partir de outros países, ou até por sonhos, ela não consegue se reunir ou conhecer outros cristãos.
De acordo com a organização cristã internacional, Portas Abertas, caso o cidadão catari se revele cristão, ele pode ser preso, expulso de sua família e comunidade, ficar sem emprego e até mesmo ser morto. A penalidade difere entre homens e mulheres, em situações em que a cristã ex-muçulmana se converte, ela pode sofrer violência física e sexual, e será proibida, pela legislação, de se casar com um homem da mesma religião. Já os homens, são ameaçados de perder a esposa e os filhos e sofrem pressão dos próprios familiares.
Com a realização da Copa do Mundo, e a grande diversidade de culturas e povos que um evento deste tamanho proporciona, cidadãos cristãos do país sonham com dias melhores. “Esperamos um grande movimento do Espírito Santo durante a Copa do Mundo”, comenta o líder religioso protestante do Catar, por meio de uma consulta feita pelas Portas Abertas.
Segundo o secretário-geral das Portas Abertas no Brasil, Marco Cruz, não há ilusão de que um mega evento diminua a perseguição no país. “Esperamos que, num futuro próximo, o Catar, bem como toda a Península Arábica, em que os cristãos são perseguidos e proibidos de revelar e praticar sua fé, se abra para diálogos e que a liberdade religiosa seja respeitada nesses países. Essa é nossa oração”, apela o secretário.
Daniel, que supervisiona o trabalho da Portas Abertas na Península Arábica, vê a oportunidade do evento trazer um novo olhar para o país. “Que o Catar cresça no sentido de mais respeito pela diversidade, que o país seja um lugar onde moradores e estrangeiros possam viver como Cristo quer que eles vivam, sem medo de repercussões.”
Assim como o Catar, que ocupa a 18º colocação, outras seis nações que estão participando da Copa do Mundo deste ano estão na lista de perseguição a cristãos. São elas: Irã (9º), Arábia Saudita (11º), Marrocos (27º), Tunísia (35º), México (43º) e Camarões em (44º). Diferente do México, todas as outras têm como tipo de perseguição a opressão islâmica, com o islamismo como religião principal.
A LMP registrou, ainda este ano, os mais altos índices de perseguição desde que a primeira pesquisa foi publicada, há 29 anos. Realizada entre outubro de 2020 a setembro de 2021, cerca de 360 milhões de cristãos estão sujeitos à pressão e violência no mundo todo. Ainda de acordo com a pesquisa, um a cada sete cristãos é perseguido.