"Visitávamos e íamos ver a obra que estava para ser lançada"
Darthanhan Oliveira, 41 anos
Presidente do jec
De estádio multiuso à casa do JEC, “xodó” do joinvilense viu o Joinville Esporte Clube chegar à elite do futebol e foi sede de momentos marcantes
Palco de uma união que resultou em um relacionamento perfeito entre torcedores e Joinville Esporte Clube, a Arena Joinville completa 20 anos de inauguração em 25 de setembro de 2024. O estádio, projetado para ser uma das maiores arenas multiuso da América Latina, abriga várias narrativas e histórias, inclusive, a do amor.
Até onde vai a paixão de um torcedor pelo clube ao ponto de estender o local que frequenta por lazer para ser o berço de um dos dias importantes da sua vida? Para Raphael Flores, o JEC divide espaço no seu coração junto com a esposa Patrícia Flores.
“Eu decidi pedi-la em casamento na Arena porque um grande amigo meu tinha pedido a esposa dele em casamento de uma forma bem diferente, com uma pegadinha em um restaurante, e aquilo ali me incentivou, me serviu de referência, de inspiração. E aí pensei, eu vou tentar alguma coisa com o JEC, e não deu outra”, relembra.
O dia do jogo foi escolhido por acaso, um adversário que, segundo ele, não teria nada de especial. Mas o destino tratou de fazer o dia ainda mais feliz. Vitória do Joinville por três a zero no Ceará, com direito a subida na tabela, assumindo o segundo lugar na classificação após o término da partida. Tarefa que embalou o clube rumo ao acesso à tão sonhada Série A, 15 dias depois.
A história entre Raphael e Patrícia com o Joinville ainda tem algumas coincidências, como, por exemplo, o ano em que todos os envolvidos se conheceram.
“De 2007 em diante foi quando eu comecei a acompanhar mais futebol. E aí, 2007 também foi o ano que eu conheci a minha esposa. Então, de 2007 até 2014, o ano do pedido, o Joinville passou por bastante coisa”, enfatiza Raphael.
Ao longo das duas últimas décadas, a Arena Joinville passou por diversas mudanças e reformas, que resultaram em melhorias para o torcedor tricolor. Construído em um terreno com 66.721 mil m², adquirido pela prefeitura por R$ 1,75 milhão na rua Inácio Bastos, no bairro Bucarein, o projeto inicial previa garantir a Santa Catarina o mais moderno estádio em forma de arena multiuso para receber shows musicais, eventos culturais, recreativos, religiosos e educativos. As primeiras projeções apontavam que a Arena Joinville teria capacidade para 30 mil pessoas no final da construção.
Em setembro de 2003, as máquinas da empresa vencedora da licitação, Engepasa Infraestrutura, começaram a trabalhar, após a assinatura de um contrato de serviço no valor de R$ 20,9 milhões. Cerca de 500 trabalhadores frequentavam diariamente o canteiro de obras. Após 15 dias de trabalho, o prefeito da época, Marco Tebaldi, fez a primeira visita oficial ao local e declarou otimismo ao projeto que andava bem. Assim, no fim de novembro daquele ano, o governador Luiz Henrique da Silveira assinou convênio com a prefeitura de Joinville e destinou R$ 10 milhões para a construção da primeira etapa. Ainda em dezembro, R$ 4 milhões foram repassados pelo governo estadual, correspondendo à primeira parcela do total prometido.
Conforme o projeto inicial, o chamado Mix Comercial deveria funcionar independentemente da realização de qualquer evento e também geraria recursos para a Arena. Restaurantes e lanchonetes surgiam com a mesma finalidade. A ideia era que a estrutura interna fosse praticamente um shopping, com academia, gastronomia, agências bancárias, casas lotéricas, correios, entre outros. Mesmo tendo o perfil de um campo de futebol, o estádio estaria apto a sediar shows artísticos e culturais, sendo que, quando o gramado fosse utilizado, teria capacidade para abrigar 25 mil pessoas.
Em julho de 2004, as obras da primeira etapa entraram na fase final. Neste período, funcionários trabalhavam na colocação das rampas de acesso às arquibancadas e na colocação de pisos dos vestiários.
Naquele mês, foi anunciado que a Arena Joinville teria um sistema de iluminação com a mesma potência do Estádio do Morumbi, em São Paulo, e superior a estádios como o Beira-Rio, Olímpico e Arena da Baixada. O sistema adotado é o “Arena Vision”, que iluminou 14 dos 18 estádios da Copa do Mundo de 2002, no Japão e na Coreia do Sul, e que foi o principal sistema nos Jogos Olímpicos de Atenas. O produto daria à Arena Joinville uma iluminação superior a recomendada pela Federação Internacional de Futebol (Fifa) na época.
A partir de agosto, o estádio abriu as portas para visitação pública organizada em grupos de até 30 pessoas. Durante 30 minutos, monitores acompanhavam os visitantes em todas as dependências da Arena, repassando informações sobre a obra. Um desses monitores foi Darthanhan Oliveira, atual presidente do JEC. Na época, ele trabalhava na Promotur Fundação Turística de Joinville, e direcionava pessoas a visitarem as obras.
A primeira parte do projeto foi inaugurada em 25 de setembro de 2004, após 18 meses de construção, com infraestrutura para 15 mil pessoas. Um sonho antigo que virou realidade para Joinville. Cerca de 22 mil m² foram finalizados nos 18 meses de trabalho inicial. Como destaques, estavam o gramado, lançado com 105 metros de comprimento e 68 metros de largura, instalado com um sistema automático de drenagem e irrigação, além de cerca de 20 bilheterias, que davam acesso as arquibancadas cobertas, descobertas e cadeiras numeradas através de catracas eletrônicas. Na época, no momento da compra do ingresso, o torcedor poderia escolher o lugar visualizando um mapa setorial do estádio, onde estariam dispostos os lugares livres e ocupados.
A segunda parte, com ampliação constituída do anel superior, foi inaugurada em 26 de julho de 2007. A área total construída passou a ser 28.877 mil m² após a ampliação. Com isso, a Arena passou de 15 mil para 22 mil lugares depois de um pesado investimento: até a conclusão da segunda etapa foram consumidos R$ 28 milhões.
Em 2015, foi iniciada a colocação das cadeiras em cores preto, branco e vermelho, em alusão ao JEC, com projeção para todos os setores do estádio, nos lugares faltantes. O processo, porém, se arrastou até 2018 quando, finalmente, as obras finalizaram. Com isso, a capacidade do estádio diminuiu para 17.513 lugares e permanece até 2024.
O projeto de 2004 previa ainda outra ampliação, com a cobertura de todo o estádio. Seriam necessários mais de R$ 20 milhões, pelo menos, para a conclusão. Não há, por enquanto, previsão para esta etapa ser iniciada. Desde 2023, a prefeitura de Joinville trabalha na concessão da Arena para a iniciativa privada. Conforme o colunista do jornal A Notícia, Jefferson Saavedra, o edital, lançado em abril deste ano, consta que uma nova construção da Arena pode ser considerada, assim como a ampliação. Se a conclusão for de que nenhuma das opções é viável, quem ficar com a concessão terá de providenciar a reforma, obrigatoriamente (mandatória), em prazo de até três anos.
“Além da possibilidade de construção de um novo estádio em substituição ao atual, os estudos podem considerar a construção de um segundo campo, com arquibancadas. Se houver a viabilidade, a implantação pode ser feita em área do atual terreno da Arena”, explica o colunista.
Casa do Joinville Esporte Clube, a Arena Joinville já recebeu jogos do tricolor por diversas competições, de campeonatos estaduais a copas internacionais. Conforme os dados do estatístico Anderson Miranda, desde 2004, o Joinville atuou 455 vezes na Arena, com 249 vitórias, 131 empates e 75 derrotas. Neste período, marcou 810 gols e sofreu 420. O aproveitamento do clube é de 64,3% jogando na Arena, o que a torna um amuleto de sorte para conquistas do clube. Em números detalhados por campeonatos, é no Catarinense onde mais atuou, sendo 175 jogos e 85 vitórias, seguido do Campeonato Brasileiro da Série B, com 76 partidas e 40 vitórias, e a Copa Santa Catarina, com 67 jogos e 42 vitórias. Também o estádio já viu o tricolor atuar 19 vezes no Campeonato Brasileiro da Série A, 10 na Copa do Brasil, uma na Sul-Americana e em outras competições estaduais e nacionais.
Ainda segundo os dados do estatístico, Chapecoense e Avaí são as equipes que mais vezes jogaram contra o dono da casa, em 30 oportunidades. Contra o Verdão do Oeste, foram 11 vitórias, 12 empates e sete derrotas. Já contra o Leão da Ilha, foram 13 vitórias, sete empates e 10 derrotas. Completando a lista dos 10 primeiros, estão apenas clubes de Santa Catarina: Marcílio Dias (29 jogos), Figueirense (28), Criciúma (27), Brusque (26), Metropolitano (23), Atlético de Ibirama (12), Juventus de Jaraguá do Sul (12) e Atlético Tubarão (11).
Já o maior público registrado na história da Arena Joinville aconteceu durante a conquista do título do Campeonato Brasileiro da Série C, em 2011. Com gols de Lima, Eduardo, Gilton e Pedro Paulo, o Joinville goleou o CRB por 4 a 0 e viu 19.115 torcedores ecoarem o grito de campeão nacional.
Primeira Pauta é o jornal-laboratório produzido pelos estudantes do curso de Jornalismo da Faculdade Ielusc.
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