Educação enfrenta desafios para equilibrar tecnologia e interação humana
Neste Dia dos Professores, a reflexão sobre os usos da inteligência artificial na educação se impõe: como equilibrar o potencial transformador da tecnologia com a necessidade de interação humana e o desenvolvimento de competências que vão além do alcance das máquinas? A resposta a essa pergunta pode definir o futuro da educação. O uso da inteligência artificial (IA) tem se tornado um tema central nas discussões sobre inovação na educação. Com promessas de facilitar o trabalho dos docentes e aprimorar o aprendizado dos alunos, a IA também levanta preocupações sobre o papel dos professores e o impacto na formação dos estudantes.
Diante da alta demanda de trabalho e da sobrecarga enfrentada por muitos professores, a implementação da IA na educação surge como uma tentativa de aliviar tarefas repetitivas, mas não pode ignorar a necessidade de apoio adicional e treinamento contínuo para garantir que a tecnologia seja um aliado e não mais um peso.
A professora do Colégio Siloé, Carla Falcão, que está há dois anos em sala de aula, é reticente em relação ao uso frequente de tecnologias no ensino. Ela prefere métodos tradicionais, como o uso de caderno e quadro. “Fora da escola, sei que os alunos passam a maior parte do tempo fazendo uso de tecnologia/telas, então, penso que na escola eles precisam se desprender um pouco disso, alguns pais até solicitam isso aos professores”, explica. Carla reconhece o potencial da IA no planejamento de aulas, mas aponta os riscos de acreditar cegamente nas respostas geradas e de os estudantes utilizarem a tecnologia para automatizar tarefas. “Recebi trabalhos ‘artificiais’ onde provavelmente, os alunos deram um comando e a IA executou 99% do que precisaria ter sido feito por eles”, critica.
Na visão da professora, a IA só poderá substituir o trabalho docente se houver espaço para isso. Segundo ela, o valor do ensino está na interação humana e na capacidade de criar uma conexão genuína com os alunos. “Sempre procuro transparecer a didática nos métodos de ensino, gosto de interagir, olhar nos olhos, trazê-los para perto para se sentirem parte do momento da explicação”, afirma. A educadora acredita que essa troca entre professor e aluno é essencial, complementando as aulas com humor e envolvimento para que todos se sintam verdadeiramente integrados: “Tudo o que citei agora, a IA não pode proporcionar”.
A coordenadora Patrícia Nunes destaca que, embora a IA tenha potencial para ser uma aliada significativa, sua implementação enfrenta desafios práticos. “O principal desafio é fazer os alunos compreenderem que a IA é uma ferramenta de pesquisa e não de cópia”, afirma. Na avaliação de Patrícia, o uso inadequado da tecnologia pode agravar o problema do analfabetismo funcional, em que estudantes são capazes de produzir conteúdo com auxílio da IA, mas não entendem o que estão fazendo.
Já para o aluno de ensino médio Levi Siqueira, a IA e o uso de celulares são vistos como recursos valiosos para o aprendizado, desde que utilizados de forma consciente. Ele relata que o celular, embora útil para pesquisas escolares, pode ser uma fonte de distração. “O uso do celular ajuda muito no aprendizado, mas também me atrapalha e desfoca”, admite. Com uma média de 10 horas diárias em frente à tela, Levi acredita que o equilíbrio é essencial: “Eu acho a IA uma ótima ferramenta para ajudar a resolver problemas mais complexos, facilita muito a vida se usada com responsabilidade”.
Em muitas escolas, o uso de ferramentas específicas de IA ainda é limitado, e os professores não recebem treinamento específico para lidar com essas tecnologias, o que evidencia a necessidade de capacitação para orientar seu uso pedagógico. A introdução da inteligência artificial nas escolas coloca em xeque o papel tradicional dos professores e o modelo de aprendizado, havendo um consenso de que a tecnologia deve atuar como um complemento ao ensino, e não como um substituto. Enquanto os desafios se concentram na orientação correta e no desenvolvimento de habilidades críticas nos alunos, os benefícios incluem a possibilidade de personalizar o ensino e otimizar o tempo dos professores.