
Como as inteligências artificiais podem influenciar na dança
No dia nacional do artista (24/08), a “Cidade da Dança” celebra a arte, enquanto explora o impacto da nova tecnologia no meio artístico. Durante o 42º Festival de Dança de Joinville, realizado no Teatro Juarez Machado, uma atividade de formação reflexiva entre estudantes, profissionais e apaixonados pela dança, o debate “E aí, IA?”, reuniu o coreógrafo e diretor Tíndaro Silvano, os produtores Felipe Vasão e Matheus Brusa com mediação de Caio Almendra, consultor de inovação para discutir como a inteligência artificial (IA) pode moldar a dança.
Matheus Brusa é responsável pela produção de uma coreografia de palco e vídeo que interagem entre si, inspirada na inteligência artificial. Roteiro, movimentação, prompts, imagens e até a trilha. Já Diego Mac está produzindo o trecho final da coreografia de vídeo, junto com o Laboratório de Marcha da Universidade de Caxias do Sul.

A IA na dança é pouco discutida, mas não é algo novo. Em meados de 1980, o americano Merce Cunningham usou o software Life Forms, essa ferramenta separava música de movimento, criando decisões coreográficas independentes, como uma inteligência coreográfica inicial. “A inteligência artificial é uma continuação da inteligência coreográfica”, afirma Tindaro Silvano. O diretor explica que essas ferramentas poderão adicionar possibilidades nas coreografias, nos cenários, trilha sonora e até mesmo sincronizar movimentos. Pensando por um lado pedagógico, em um futuro distante, as inteligências artificiais podem ajudar a analisar e a melhorar a técnica de dança de jovens bailarinos. Mas Silvano afirmou que não sente medo de nenhuma ameaça da inteligência artificial tomar o lugar dos humanos. “Nada apaga o fator humano na dança. A IA dançando rapidamente perderá a graça.”
Na mesma linha, Jhon Helder Garcia, 34, professor e diretor do Grupo de Dança Animal defende a essência humana na arte, mas alerta para a dependência da IA. “A dança precisa continuar sendo sobre o corpo e a energia do bailarino. Se a IA virar protagonista da criação, já perde a essência”, declarou Garcia, “dança é processo e pesquisa. Se todo mundo usar as mesmas ferramentas, as obras começam a ficar parecidas demais.”
O professor aponta que a IA já vem trazendo mudanças em Joinville, já que sempre se busca por inovação em diversos segmentos envolvendo a dança. A ferramenta pode auxiliar nas composições coreográficas e até de acessibilidade, mudando a forma de ensino e de chegar a novos públicos. Por fim, o dançarino destaca que o maior desafio é não cair na tentação de usar a inteligência para tudo, mas que ela pode ajudar a potencializar o que já existe dentro do artista, “A arte tem que continuar vindo de dentro. A IA está aí para somar, não para substituir.”