
Projeto desenvolve dispositivos para estimular aprendizagem de pessoas com deficiência visual
Estudantes de Engenharia Elétrica da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc Joinville) estão transformando conhecimento acadêmico em impacto social. Por meio do Projeto Alpha, do PET Engenharia Elétrica, foram desenvolvidos dispositivos de estimulação visual e alfabetização em braille que, foram entregues à Ajidevi (Associação Joinvilense para Integração de Deficientes Visuais).
A iniciativa é resultado da disciplina de Sistemas Digitais Microprocessados (SDM), que passou a integrar ações de extensão universitária, aproximando a tecnologia do ensino inclusivo. A disciplina tornou-se mista, conforme o novo projeto pedagógico do curso de Engenharia Elétrica, reforçando o papel da educação aliada à tecnologia para transformar vidas.
Dispositivos que estimulam e ensinam
Entre os equipamentos entregues está o “quebra-cabeça” voltado à estimulação visual. A cada apertar de um botão, LEDs coloridos formam figuras que os alunos precisam identificar com o apoio do professor. Cores, quantidades e disposição dos elementos são trabalhadas de forma lúdica e interativa.

Outro destaque é a chamada “Cela”, que auxilia no ensino do braille. O dispositivo reconhece a formação de letras e emite o som correspondente, confirmando se o aluno montou a combinação correta. “Eles adoraram, porque ela fala, tem áudio, além de materiais para estimulação visual. Tudo que vem de inovação para a gente é muito bom, porque as crianças se cansam de usar sempre o mesmo recurso. Quando chega algo novo, é sempre muito útil”, conta a diretora pedagógica da Ajidevi, Carla Vidoto Knittel.
Além disso, o projeto também entregou Celas confeccionadas em impressão 3D com material plástico, mais durável que a madeira. Elas vêm em diferentes tamanhos, e servem para que as crianças iniciem o treino da escrita tátil. “É como a alfabetização convencional, só que adaptada. Cada criança tem um ritmo: algumas pegam rápido, outras demoram mais. O processo exige concretude, por exemplo: o ‘B’ de bola precisa ser uma bolinha de verdade, não um desenho em um caderno”, explica a professora de braille Altamiris de Carvalho.
Segundo ela, a ferramenta tem sido essencial para o início da alfabetização em braille. “Comecei em julho com duas meninas, uma delas veio da Venezuela sem nunca ter sido alfabetizada, e já está formando palavras e entendendo bem o código. Essas celas dão a base para que, depois, avancem para recursos digitais, como as linhas braille, que funcionam como pequenos computadores e podem ser conectadas a celulares ou notebooks”, acrescenta a educadora.

Segundo a professora Jordânia de Aguiar, o uso dos novos materiais tem dado resultados rápidos. “Às vezes, as crianças não identificam de primeira quais são as figuras, mas com o tempo percebemos que a atenção delas vai aumentando. Hoje, conseguem comparar números e figuras, o que representa um avanço significativo”, explica.
Já a professora Heloísa da Silva reforça a importância da inovação para manter o interesse dos alunos. “Como é um atendimento muito repetitivo, temos que diversificar os materiais, senão eles perdem o interesse. É sempre bom ter algo novo para chamar a atenção. Antes, trabalhávamos com lanternas, copos ou caixas de luz improvisadas. Agora, temos recursos que tornam o processo mais interativo e eficaz”, ressalta a profissional.
Um trabalho conjunto
A parceria entre a Udesc Joinville e a Ajidevi começou em 2019. Na época, os primeiros protótipos eram simples, como uma caixa de madeira com lâmpada para estimular bebês com baixa visão. Hoje, a evolução é clara: dispositivos com sensores, LEDs, impressão 3D e integração com áudio já fazem parte do cotidiano dos alunos atendidos.
A Ajidevi, mantenedora do Centro de Atendimento Educacional Especializado em Deficiência Visual (Caesp), atende atualmente cerca de 200 alunos com apoio de 40 profissionais, entre psicólogos, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e assistentes sociais. O trabalho envolve desde estimulação visual em bebês até atividades de reabilitação, orientação de mobilidade e alfabetização em braille.
Projeto Alpha
O Projeto Alpha nasceu em 2013 com o objetivo de tornar o aprendizado de algoritmos e programação mais atrativo por meio do uso da plataforma Arduino. Desde então, vem unindo ensino, pesquisa e extensão, formando estudantes e impactando a comunidade.
“Quando surge algo novo, vemos as crianças interagirem com mais atenção e entusiasmo. É um ganho imenso para o processo de aprendizagem e para o futuro delas”
Carla Vidoto Knittel, diretora pedagógica da Ajidevi
“Para nós, como professores e alunos envolvidos, contribuir para a inclusão e acessibilidade é uma fonte constante de motivação. Os estudantes se dedicam com entusiasmo, sabendo que estão colocando em prática o que aprendem em sala de aula para transformar vidas”, afirma Ana Teruko Yocomizo Watanabe, coordenadora do projeto.
Ela também ressalta o valor dessa troca. “A parceria com a Ajidevi representa muito mais do que desenvolver dispositivos tecnológicos, é uma ponte entre o conhecimento acadêmico e a transformação social. Esse é o verdadeiro papel da universidade pública, formar profissionais e também cidadãos comprometidos com o bem comum”, comenta a professora.