
Psicoterapia transforma vidas e melhora o bem-estar emocional
Especialistas reforçam importância da terapia para enfrentar crises, desenvolver autoconhecimento e lidar com cotidiano
No Brasil, a psicoterapia ainda alcança apenas uma pequena parcela da população. Apenas 5% fazem acompanhamento contínuo, enquanto 16,6% recorrem a medicamentos para lidar com problemas emocionais e comportamentais, e cerca de 12% buscam tratamentos alternativos. Os números, divulgados pelo estudo Panorama da Saúde Mental do Instituto Cactus, mostram que a maioria dos brasileiros ainda não acessa psicoterapia.
Apesar da baixa adesão, a psicoterapia é um recurso fundamental para a saúde mental. Ela cria um espaço seguro para que paciente e terapeuta explorem sentimentos e desafios, promove bem-estar e autoconhecimento, e auxilia tanto no tratamento de condições como ansiedade e depressão quanto no apoio a crises pessoais e no desenvolvimento de estratégias para transformar padrões de comportamento disfuncionais.
A importância da psicoterapia segundo as especialistas
A psicóloga Gabriela Kunz Silveira explica que a psicoterapia é essencial mesmo nos estágios iniciais de qualquer sofrimento, reforçando que o cotidiano já impõe seus próprios desafios. “O sofrimento é da ordem da existência humana. Todos têm sofrimento. Nem todos têm uma doença mental, mas todos têm sofrimento”, afirma
Gabriela detalha que esses sofrimentos estão ligados às escolhas, à fragilidade da vida, à certeza da morte, à instabilidade das relações e à solidão, que são elementos que compõem o dia a dia e moldam a experiência humana.
A psiquiatra Maria Aparecida Nunes complementa que a terapia deve ser implementada sempre, seja como suporte, para autoconhecimento, ou para lidar com as dificuldades que a vida apresenta. Segundo ela, quando feita em conjunto com um terapeuta, a psicoterapia traz benefícios concretos nas relações, nas emoções e na compreensão das próprias vivências.
Quando o uso de medicamentos se faz necessário, a médica ressalta que eles ajudam a aliviar sintomas, o indivíduo tem a possibilidade de viver melhor, mas não resolve todos os problemas. “A medicação vai atuar quimicamente, aliviando sintomas, mas não irá resolver os traumas e feridas, nem resolver conflitos, relacionamentos e más escolhas. Pode deixar mais leve a experiência de crescimento”, explica.
Maria Aparecida também alerta para os riscos de não buscar tratamento: “Segue carregando fardos, um peso, e até se arrisca a deixar de apreciar plenamente seus dias e seus relacionamentos, porque não se permite evoluir.”
A psicóloga Gabriela reforça que a psicoterapia ajuda o indivíduo a lidar com desafios futuros de maneira menos dolorosa, trabalhando relações e a aceitação das incertezas da vida. Ela aponta que a resistência à busca profissional está ligada ao medo. “O medo de desapegar, o medo de perdas, o medo de ser afirmado como louco, mais por si mesmo do que pelo outro”, conclui.
Busca por amparo profissional
Nicoly da Maia, 20 anos, estudante de Jornalismo, nunca fez terapia, mas já sentiu vontade de procurar ajuda profissional. “Em momentos que me senti sobrecarregada, com muita coisa acontecendo ao mesmo tempo e sem conseguir organizar meus pensamentos, a ideia de ter alguém de fora ajudando a colocar tudo em perspectiva ajudaria muito”, relata.
Apesar disso, ela acredita que consegue lidar sozinha ou que seus problemas não são tão graves quanto os de outras pessoas. Segundo ela, buscaria terapia quando esses problemas começassem a afetar sua rotina.
O estudante de Biologia João Artur Bremer, 19 anos, fez terapia quando era mais novo e reconheceu a importância do acompanhamento. “Todos nós passamos por momentos difíceis em que precisamos cuidar da saúde mental. Várias pessoas se recuperaram de traumas e outros problemas com a terapia; o cérebro humano é algo muito complexo e precisa de cuidado”, afirma.
Ele diz que, embora não esteja em acompanhamento atualmente, percebe frequentemente a importância da psicoterapia e conhece seu efeito transformador na vida de quem faz.
Já a estudante de Psicologia Júlia Zimermann, 25 anos, realiza psicoterapia há cinco anos e conta que o processo foi inicialmente angustiante. “Às vezes nem queria ir para a sessão, até faltava”, lembra. Hoje, ela entende que essa reação fazia parte do processo de defesa e que a terapia precisa ser desafiadora.
Júlia relata que as maiores mudanças em sua vida foram estabilidade emocional e recursos para lidar com as próprias emoções. “Hoje consigo ter muitos insights que me ajudam a regular minhas emoções diante de diversas situações e me tornei mais racional também”, conta.
Ela finaliza reforçando a importância de se permitir buscar ajuda: “Quem ainda não buscou ajuda profissional precisa se dar uma chance de fazer diferente do que sempre fez, de quebrar ciclos repetidos por comportamentos inconscientes. Você merece essa chance, e lembre-se, a terapia é angustiante e precisa ser, não desista no primeiro sinal de angústia.”