
Joinville registra alta mortalidade por doenças do coração
As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte em Joinville, com mais de 6 mil registros apenas em 2024. No Dia Mundial do Coração, celebrado nesta segunda-feira (29), o alerta se volta à importância de manter hábitos saudáveis e à gravidade dos riscos relacionados aos problemas cardíacos.
As estatísticas ajudam a entender por que as doenças cardiovasculares continuam liderando as causas de morte em Joinville, e também no Brasil. Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde (IBGE, 2019), um em cada quatro brasileiros adultos já recebeu diagnóstico de hipertensão arterial, principal fator de risco para infartos e acidentes vasculares cerebrais (AVC).
Além disso, 5,3% da população adulta declarou ter alguma doença cardíaca, percentual que chega a 17,4% entre os idosos com 75 anos ou mais. Com mais da metade da população adulta convivendo com ao menos uma doença crônica, o impacto sobre a saúde pública se torna evidente. A combinação de envelhecimento populacional e prevalência elevada de fatores de risco explica por que os problemas do coração ainda estão entre os maiores responsáveis pelos óbitos no país.
Além dos números nacionais, entidades de referência também chamam atenção para o impacto das doenças cardiovasculares. A Associação Brasil AVC (ABAVC) destaca que uma em cada quatro pessoas no mundo terá um acidente vascular cerebral ao longo da vida, e que o Brasil enfrenta uma “crise silenciosa e oculta”, marcada pela falta de prevenção adequada e pela dificuldade de acesso a tratamento e reabilitação. Segundo a entidade, reduzir os fatores de risco, como hipertensão, diabetes e colesterol alto, é a forma mais eficaz de evitar tanto os infartos quanto os AVCs, que juntos representam a maior parte das mortes por problemas cardíacos no país.
Veja um vídeo informativo sobre o tema:
Soluções municipais
Em Joinville, a prevenção de doenças cardiovasculares faz parte da rotina da Atenção Primária à Saúde (APS). Segundo a Secretaria de Saúde, cada morador tem uma Unidade Básica de Saúde da Família (UBSF) de referência, onde são realizados acompanhamentos periódicos com foco em fatores de risco como pressão alta, diabetes e colesterol elevado. Aferição de pressão arterial, exames laboratoriais, cálculo de IMC e orientações sobre estilo de vida estão entre os serviços ofertados.
Uma das iniciativas de destaque é o Projeto FASUS, desenvolvido em parceria com a Univille. O programa utiliza aparelhos de pressão digitais com detecção de arritmias e disponibiliza eletrocardiogramas com laudo via telemedicina. Desde o início, em 2023, mais de 34 mil idosos foram rastreados, resultando em 3.545 exames e 256 diagnósticos de fibrilação atrial.
Além disso, a Prefeitura mantém os grupos de apoio para pacientes com hipertensão e diabetes, nos quais moradores trocam experiências, recebem orientações e reforçam o autocuidado. Outro projeto, o das Vilas da Saúde, leva oficinas, práticas de saúde e atividades educativas para comunidades próximas às UBSFs. Atualmente, nove unidades já contam com esses espaços, e outras quatro estão em implantação.
De acordo com a Secretaria de Saúde, a principal barreira é a conscientização da população para manter acompanhamento regular e adotar hábitos saudáveis. Muitos pacientes hipertensos, por exemplo, tomam a medicação de forma irregular, o que compromete a eficácia do tratamento.
“Nosso objetivo não é apenas tratar a doença, mas preveni-la. Quanto mais cedo conseguimos identificar os fatores de risco, maiores as chances de evitar complicações como infarto, AVC e insuficiência cardíaca”, destacou a secretária.


Atendimento clínico
Clínicas privadas da cidade também reforçam a importância da prevenção. A Pro Live, especializada em consultas e exames cardiológicos, explica que a busca por atendimento tem crescido, inclusive entre pacientes mais jovens. “Já observamos um aumento de casos de pressão alta e colesterol elevado em pessoas com menos de 40 anos, o que exige ainda mais atenção”, informou a equipe.
Segundo a clínica, o monitoramento é feito por meio de exames como MAPA (monitoramento de pressão arterial 24h), Holter (monitoramento de arritmias) e eletrocardiogramas digitais. No entanto, a maior dificuldade está na adesão da população. “Há muita procura emergencial, quando o problema já está avançado, e isso sobrecarrega o atendimento. Nosso desafio é conscientizar sobre a importância de prevenir antes que a doença se manifeste”, destacaram.
Convívio com a doença
Maria Vieira Marcos, dona de casa de 75 anos, convive com insuficiência cardíaca desde 2013. Para manter seu coração funcionando, precisou passar por quatro stents, pequenas molas que alargam as artérias e mantêm o fluxo sanguíneo. Apesar dos procedimentos, ela ainda sente cansaço físico e falta de ar, sintomas comuns da doença que tornam atividades simples, como subir escadas, um desafio diário.

Após sofrer um infarto, Maria foi internada seis vezes no mesmo ano, e o diagnóstico definitivo só foi confirmado com exames de eletrocardiograma. Desde então, sua rotina envolve consultas regulares, acompanhamento médico e remédios diários para manter o coração saudável.
Maria explica que, mesmo com acompanhamento e tratamento contínuo, os sintomas ainda aparecem em momentos inesperados. “De vez em quando, eu tenho arritmia. Eu tomo os remédios que tenho em casa, se não resolverem, preciso ir ‘rapidinho’ para o pronto-socorro.”, relata. Essa instabilidade reforça como a insuficiência cardíaca é uma condição que exige vigilância constante e pode alterar a rotina de um dia para o outro.

“De vez em quando, eu tenho arritmia. Eu tomo os remédios que tenho em casa, se não resolverem, preciso ir ‘rapidinho’ para o pronto-socorro.”
Relata Maria.
Confira uma parte da entrevista de Maria:
No Brasil, o envelhecimento populacional e a alta prevalência de fatores de risco, como hipertensão, diabetes e colesterol elevado, tornam as doenças cardiovasculares a principal causa de morte entre idosos. Especialistas reforçam que prevenção, diagnóstico precoce e adesão rigorosa ao tratamento são fundamentais para reduzir complicações graves, incluindo infarto e AVC. Cuidar do coração não é apenas responsabilidade dos serviços de saúde, mas um compromisso diário de cada indivíduo, com escolhas conscientes de alimentação, atividade física e acompanhamento médico regular.