Literatura desperta criatividade e sonhos infantis
Iniciativas que unem contação de histórias e participação dos pais mostram que ler é mais do que aprender
Em um mundo cada vez mais digital, o hábito da leitura na infância tem se mostrado fundamental não apenas para o desenvolvimento cognitivo, mas também para a construção de vínculos afetivos entre crianças e famílias. No último sábado (11), o Espaço Café Literarium, em Joinville, promoveu uma tarde especial de contação de histórias, reunindo famílias e despertando reflexões sobre o papel da leitura na formação de novos leitores.
A programação contou com a participação da contadora de histórias e idealizadora do projeto Tekoar, Emily Lentz, que realiza workshops ligados à natureza, arte e cultura. Segundo Emily, o segredo para o interesse das crianças pelos livros está em respeitar a autonomia delas na escolha das histórias.
“Não basta o adulto escolher o que acha melhor. A criança precisa se identificar com o que lê. Histórias que falam sobre natureza, animais e sentimentos costumam gerar mais engajamento”, explica.
Emily Lentz, idealizadora do projeto Tekoar
A fotógrafa e mãe de dois, Tainara Andrade Vieira, compartilha a mesma visão. Para ela, o estímulo à leitura começou na gestação e se mantém vivo na rotina familiar, na hora de dormir e durante as brincadeiras. “A leitura vai além de tirar as crianças das telas. Ela ensina palavras, ajuda a compreender emoções e acalma. Meu filho Kauan adora o Diário de Mike porque se vê nas histórias do dia a dia. Já a Ester decora as histórias que contamos, ela ama o livro de Jesus, que tem ilustrações para encontrar”, relata.
Kauan Henrique Quost , de oito anos, também fez questão de contar o motivo de seu livro preferido: “Meu favorito é o Diário de Mike porque ele fala sobre histórias de uma família e principalmente de um menino chamado Mike, que faz coisas que acontecem de verdade no nosso dia a dia, e tem várias imagens de desenho”, conta sorrindo.
A conexão emocional durante a leitura é destacada pela estudante de psicologia Lisa Reis, que vê na contação de histórias uma ferramenta poderosa para ativar o imaginário e fortalecer a empatia. Segundo ela, o momento de escuta e partilha entre adultos e crianças cria um espaço de acolhimento e expressão emocional.
“Quando uma história é contada com afeto, a criança se reconhece nos personagens e aprende a nomear o que sente. Isso ajuda a lidar com frustrações, desenvolver a sensibilidade e compreender o outro”.
Lisa Reis, psicóloga
Lisa também reforça que a leitura compartilhada contribui para o vínculo familiar e para o desenvolvimento social, pois “ao ouvir e imaginar, a criança constrói referências sobre o mundo, aprende a se colocar no lugar do outro e amplia sua capacidade de sonhar”.
O livreiro Henrique Ramos, que atua há mais de dez anos no setor e acompanha de perto o público infantil, observa que o interesse das crianças pelos livros costuma nascer do exemplo dentro de casa. “As crianças se encantam quando percebem que os adultos também se envolvem com as histórias. Muitos pais chegam procurando livros que possam ler juntos, não apenas para os filhos”, conta. Para ele, o momento da leitura compartilhada cria um tipo de memória afetiva.
Guilherme Vargas Buch, empreendedor e sócio do Literarium, reforça que o maior desafio para manter o hábito da leitura é a concorrência com o entretenimento digital. “Vivemos em um mundo rodeado de telas que oferecem um entretenimento fácil, mas nem sempre de qualidade. Cabe aos pais inserir a leitura na rotina de forma leve e interativa, lendo junto com os filhos e criando momentos de troca”, avalia.
O evento no Literarium demonstrou que, quando a leitura é apresentada com entusiasmo e significado, torna-se um momento contagiante e de forte conexão entre pais e filhos.
“Ver a livraria cheia, com crianças encantadas por histórias, prova que o interesse pela leitura permanece vivo. Mas isso precisa continuar em casa, com o apoio das famílias”, completa Guilherme.
Pais e educadores concordam que ler para uma criança é mais do que entretenimento, é um instrumento para formar conexões afetivas, desenvolver o pensamento crítico e ajudar no reconhecimento das emoções desde cedo. Incentivar a leitura desde a gestação, respeitar a escolha da criança e criar momentos reais de contato com os livros são estratégias que fortalecem o vínculo familiar e promovem o desenvolvimento integral dos pequenos.
Leitura, música e interação
As contações de histórias também acontecem nas Livrarias Curitiba, realizadas aos fins de semana como parte da programação cultural da rede. Aos sábados, às 15h, o público pode acompanhar apresentações com a contadora Daniele Telma, que combina leitura, música e interação com as crianças. A iniciativa tem atraído famílias que buscam novas formas de aproximar os filhos do universo dos livros e transformar a leitura em um momento de lazer compartilhado. Essas atividades reforçam a importância de espaços que unem cultura e convivência, mantendo viva a curiosidade e o encantamento pelas histórias desde a infância.