Busca por saúde e desempenho abre espaço para lesões
Com a crescente procura por atividades físicas no país, a dúvida se tornou frequente entre praticantes de todos os níveis. Dados do Instituto Datafolha, divulgados no início deste ano, mostram que 53% da população brasileira realiza ao menos um exercício físico regularmente. A adesão é alta, mas o descuido pode trazer prejuízos. Do futebol ao vôlei, passando pela musculação e pela corrida, o risco de lesão sempre está presente.
Um estudo da Unicamp aponta que, no vôlei de praia, as lesões no ombro lideram a lista de problemas mais comuns. No futebol, porém, o cenário é outro: coxa, tornozelo e joelho concentram a maior parte das ocorrências. Foi justamente em uma partida entre amigos que o estudante de medicina Victor Pereira sofreu uma entorse no joelho direito. “Fui subir para disputar uma bola e, quando caí, senti na hora”, relembra. Após atendimento hospitalar, imobilização, fisioterapia e dois meses com joelheira ortopédica, ele conseguiu retomar suas atividades.
Entre os principais caminhos de recuperação aparece a fisioterapia, etapa indispensável para atletas e amadores. João Nascimento, fisioterapeuta do Cianorte, explica que o processo é dividido em fases bem definidas. “Nas primeiras 72 horas de uma entorse de tornozelo, por exemplo, estamos na fase aguda, que é o pico inflamatório. Nesse momento, o trabalho é mais passivo. Depois desse período, começamos uma reabilitação ativa, com fortalecimento e treino de estabilidade, para que o corpo volte a absorver carga e responda melhor”, detalha.
A prevenção também ganha protagonismo. Equipamentos adequados, orientação profissional e alongamentos são apontados como pilares básicos para reduzir os riscos. A vendedora Angela Thop, praticante de corrida e ciclismo, reforça a importância do aquecimento. “Eu treino de segunda a sábado e sempre faço alongamento antes de começar. Já tive problemas no joelho e isso me tirou do esporte por um tempo. Depois disso, redobrei os cuidados”, afirma.
A vida após uma lesão
Amadores ou profissionais, todos estão sujeitos a períodos longe da prática esportiva. Em situações graves, a carreira pode até ser interrompida. Michel Nunes, atleta com passagens por competições internacionais como a Euro Winners Cup, viveu esse risco este ano. Durante a semifinal de um campeonato de Fut7, ele rompeu o ligamento cruzado anterior e o menisco. “O processo foi doloroso e difícil, mas consegui evoluir melhor que muita gente por já ter uma condição física diferenciada”, relata.

“Meu maior medo sempre foi a parte psicológica. Ficar sem saber como ia ser, como eu ia lidar com uma lesão tão séria, isso pegou muito mais do que o físico. A incerteza bate forte nessas horas.”
Michel Nunes, atleta
A recomendação médica para casos assim costuma ser de nove meses de recuperação. Mas Michel surpreendeu pela evolução acelerada. “Operei e, no dia seguinte, já estava na fisioterapia. Em dois meses, eu caminhava na areia e batia na bola”, conta. Apesar de já jogar futebol recreativo, o retorno ao competitivo ainda exige cautela. “A previsão é entre nove e doze meses. Estou no quinto mês, sigo fortalecendo e treinando para dar mais estabilidade ao ligamento e prevenir recaídas. Se tudo correr bem, em janeiro volto ao beach soccer”, projeta.
Como os clubes profissionais atuam
No ambiente profissional, o cuidado preventivo é tão importante quanto o tratamento. João Nascimento explica como o Cianorte organiza seu trabalho para reduzir riscos e acelerar a recuperação dos atletas. Segundo ele, as lesões musculares, sobretudo estiramentos, são as mais frequentes. Em seguida aparecem os traumas de tornozelo e joelho, com destaque para lesões do ligamento cruzado anterior, as mais temidas.
A avaliação começa ainda na pré-temporada, com testes específicos que orientam o planejamento individualizado dos jogadores. Além disso, o clube adota estratégias de Recovery, processo pós-jogo que auxilia no período em que o cansaço atinge seu pico, cerca de 48 horas após a partida. “Usamos terapias que aceleram a recuperação muscular, como exercícios de força leve, liberação miofascial, botas pneumáticas e imersão em contraste quente e frio. Isso melhora a resposta do corpo e diminui a chance de lesões”, detalha o fisioterapeuta.
Seja em quadras, campos, academias ou ciclovias, o corpo humano responde ao estímulo, mas também sofre com o excesso. Acompanhamento profissional, aquecimento adequado, descanso, fortalecimento e atenção aos sinais do corpo continuam sendo as armas mais eficazes para quem deseja treinar com segurança.