Pagamento do 13º salário em Joinville será dividido entre dívidas e investimentos
A contagem regressiva para o alívio no bolso já começou. Até a próxima sexta-feira (28), a primeira parcela do 13º salário deverá cair na conta dos trabalhadores com carteira assinada. Em Joinville, a gratificação natalina chega em um cenário econômico de contrastes. Enquanto o mercado catarinense acumula alta de 6% no ano, a inadimplência ainda afeta cerca de 32% das famílias no estado. Essa dualidade ocasionará uma “batalha” entre o pagamento de boletos atrasados e a tentação das vitrines.
Estima-se que, neste ano, o benefício injete cerca de R$984 milhões na economia da maior cidade de Santa Catarina. Apenas na primeira parcela, R$492 milhões devem ser injetados na cidade. “É um recurso que incrementa comércio, serviços, gera empregos e possibilita reduzir a inadimplência”, avalia a economista Anemarie Dalchau.
Contudo, para uma parcela significativa, esse dinheiro não chegará a circular no comércio em forma de presentes. É o caso de Odailso Pereira, torneiro mecânico há mais de 15 anos, para quem o benefício é uma ferramenta de sobrevivência. “É como se a gente passasse o ano todo com a água batendo no pescoço. Aí vem o décimo e dá aquela baixada na maré para a gente não se afogar”, desabafa Odailso.
O torneiro ilustra a estatística da Fecomércio SC, que aponta que 35% dos catarinenses usarão o recurso para pagar dívidas. “A primeira coisa é tapar o buraco do cartão. A gente vai parcelando uma coisinha aqui, outra ali, e quando vê”, explica ele, que contou que viagens estão fora de cogitação e os presentes serão apenas lembrancinhas.
Na contramão do aperto financeiro, há quem consiga respirar e planejar. A recepcionista Caroliny Letícia Carboni, de 18 anos, faz parte dos 31% que pretendem poupar ou investir. Com o orçamento equilibrado, ela encara o 13º como um verdadeiro bônus. “Irei investir uma parte, ajudar em casa e usarei o restante para o lazer”, conta a jovem, que pretende gastar o excedente em passeios com o namorado e nas experiências de fim de ano.
Para o comércio local, o desafio é capturar tanto o consumidor que vai investir em si mesmo, quanto aquele que deixará as compras para a última hora. Tânia Silva, 47 anos, proprietária de uma loja de vestuário no bairro Vila Nova, reforçou o estoque e contratou temporários, mas percebe um comportamento cauteloso. “O joinvilense já é mais ‘pé no chão’ por natureza. Ele não sai gastando à toa. O pessoal não tem vergonha de pedir desconto, eles ‘choram’ o preço mesmo”, relata a lojista.
Afinal, o dinheiro vai para as dívidas ou para o lazer? Confira o que dizem os moradores na enquete a seguir.
Negociação de dívidas pode garantir sobra para o Natal

A economista Anemarie Dalchau alerta que, para os endividados, não basta apenas pagar o que se deve; é preciso negociar com inteligência. “O ideal é, no seu cálculo, deixar antecipadamente um valor. Se o 13º for de R$2 mil e a dívida for de R$4 mil, veja a proposta do credor e faça sua contraproposta num valor abaixo do seu 13º, digamos R$1,7 mil. Assim, você terá um saldo positivo de R$300 para incrementar suas festas natalinas“, ensina.
Para que não têm dívidas, a tentação de deixar o dinheiro parado na conta corrente ou na poupança deve ser evitada caso o prazo planejado seja curto. “Todas as operações de curto prazo só valem a pena se forem realizadas, no mínimo, para 30 dias. O IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) pode levar de 96% (em 1 dia) até 3% (em 29 dias) dos rendimentos”, alerta Anemarie.
Outro ponto de atenção é o mês de janeiro, tradicionalmente pesado devido a IPVA, IPTU e material escolar. Odailso Pereira resume a estratégia de quem tem o orçamento apertado: “Se sobrar a gente guarda para janeiro, que é mês de pedreira”. A recomendação dos especialistas é reservar parte da segunda parcela (paga até 20 de dezembro) exclusivamente para essas despesas obrigatórias de início de ano, evitando começar 2026 criando novas dívidas.