Campanhas de moda e padrões estéticos: qual direção estamos tomando?
É perceptível que a caminhada das campanhas de moda e a quebra de padrões estéticos está cada vez mais forte e unida. Modelos plus size nas passarelas, sardas e vitiligo agora têm espaço e visibilidade para os fotógrafos, e até para as mulheres mais baixas, há representatividade em bonecas, por exemplo. Mas pensar em representatividade vai muito além de campanhas, afinal, todas essas medidas estão realmente quebrando padrões e elevando a autoestima das mulheres?
Gênero, estética, revolução e representatividade. Palavras diferentes mas que são fortes e têm um significado importante quando falamos das mulheres que buscam ser aceitas na sociedade e além disso, buscam aceitar-se. Mas para quem pensa que está sozinho na jornada pela aceitação e amor próprio, fique tranquilo e seja bem-vindo ao mundo que nem mulheres nem homens são taxados!
Projeto de Pesquisa e Extensão “Iolaos: vamos falar sobre gêneros?”
Entrevistamos as participantes do grupo de estudos e procuramos saber qual a opinião delas com relação a campanhas de moda e a quebra de padrões estéticos. Confira na íntegra:
(Nós) 1. A mídia tem melhor representado a mulher como ela é?
Iolaos: Não há dúvidas de que a representação da mulher, ao longo dos anos, está se reconfigurando. Busca-se, cada vez mais espaço (dentro e fora da mídia) para todas as constituições subjetivas de existência. É percebido, neste sentido, o crescimento de marcas que estão se mobilizando para ampliar sua compreensão em torno do feminino, dando espaço para outras mulheres se identificarem, se sentirem pertencentes e representadas. Processos que precisam ser potencializados, uma vez que são de extrema importância para processos de construção de identidade.
(Nós) 2. Colocar modelos plus size, com manchas na pele, por exemplo, realmente quebra padrões estéticas? Por quê?
Iolaos: Esta questão mobiliza diversas reflexões, isso porque a atitude da mídia parece-me paradoxal, pois, ao mesmo tempo em que há um movimento midiático abrindo espaço para diversos tipos de corpos em suas formas e possibilidades de existência, por outro lado, ainda ratifica o magro e musculoso como o ideal a ser alcançado, mesmo que para isso, o sujeito comprometa sua saúde física e mental.
Assim, é necessária a existência de campanhas publicitárias com discussões pertinentes e outras formas de compreensão de seus corpos e seus significados, entretanto, mais do que isso, é urgente a existência de espaços para discussão aberta sobre os impactos gerados na qualidade de vida de toda sociedade. É preciso sair da discussão rasa e adentrar a complexidade que é falar (e vender) um padrão a ser seguido (como se fosse possível alcançá-lo).
(Nós) 3. Qual a importância de quebrar padrões, tanto para as mulheres quanto para a sociedade de forma geral? No que afetaria essa mudança de consciência?
Iolaos: Quebrar padrões é extremamente importante, uma vez que, em alguma instância, todos somos afetados por estes. Isso porque, historicamente existe machismos instaurados e reproduzidos na nossa forma de compreender o mundo. Por conta disso, romper esses paradigmas é possibilitar outras formas de pertencer e existir no mundo. Acrescentar riqueza de sentidos, vivências e significados.
(Nós) 4. Qual seria a melhor forma de mostrar que não deve existir padrões de beleza?
Iolaos: Tornando evidente o custo (emocional, mental e físico que em muitos casos acaba adoecendo tantas) para alcançar padrões inalcançáveis, que são vendidos como meios possíveis para a felicidade. Sendo que dessa maneira, todos que de alguma forma fogem desse padrão, valorizado e almejado, são vistos com maus olhos, mobilizando sofrimento e reproduzindo estigmas.
(Nós) 5. Existe alguma iniciativa que oportuniza essa quebra de paradigmas? Se sim, qual?
Iolaos: Percebemos que as trocas de informações estão tomando maiores proporções. O que antigamente se limitava a uma única forma de conduzir programas de televisão, jornais, novelas e revistas; agora ganha novas possibilidades de acesso em plataformas digitais nas quais ampliam discussões e diálogos sobre as vivências, percepções e sentidos de pessoas que não necessariamente correspondem o esperado socialmente. O YouTube é um destes espaços que oportuniza a quebra de paradigma. Lá, são vistos gays, negras(os), gordas, lésbicas, trans, cegos e tantas outras formas de existência. Isto, nesta sociedade preconceituosa e intolerante, é um grito de revolução.
(Nós) 6. Como nós, que estamos longe das agências, por exemplo, podemos ajudar este movimento?
Iolaos: Um caminho possível seria a análise crítica do conteúdo transmitido pela mídia, isso porque, é por meio destas que discursos são reforçados e estigmas são naturalizados e reproduzidos. Neste sentido, faz-se necessária a compreensão sobre quem e de que forma estão sendo construídas as campanhas publicitárias e se as mulheres (em todas as constituições, vivências e sentidos) se sentem, de fato, representadas pelas mesmas.
Ensaio fotográfico sem padrões.
Carolini de Souza, fotógrafa , sempre teve vontade de fazer um ensaio fotográfico que quebrasse os padrões da sociedade. E no seu trabalho de conclusão do curso ela decidiu pôr isso em prática.
O seu projeto teve como objetivo restaurar a autoestima , amor próprio e a valorização das mulheres, desconstruindo um padrão de beleza estabelecido pela sociedade, mostrando a realidade e individualidade de cada uma. Para o seu projeto foram quatro ensaios, quatro modelos com idades e personalidades diferentes. “A proposta é trazer a liberdade através da natureza e de como nascemos, mulheres que se aceitam e se amam do jeito que são, utilizando o nu artístico em ambientes naturais para isso”, conta Carolini. A sua ideia surgiu da convivência com mulheres que se vêem diferentes do padrão, e que por isso, não estão satisfeitas consigo mesmas. O seu objetivo geral é mostrar para a sociedade que não há um padrão de beleza específico e declarar o quanto cada mulher é linda do jeito que é.
“Foi prazeroso ver que em cada clique as modelos estavam cada vez mais se amando”. Ela conta que conseguiu chegar ao seu objetivo, cada uma delas, com o seu jeito diferente e único, aprendeu a se valorizar e amar cada detalhe em si. Outro ponto que ela apontou foi que não só as modelos mudaram o seu olhar, mas todas as pessoas que viram a sua exposição e as fotos nas redes sociais.
Para achar as modelos, Carolini publicou no Facebook sobre o seu projeto e o seu objetivo. A publicação chamou a atenção de mais de 80 mulheres. Porém, várias desistiram depois de saberem que era um nu artístico e que as fotos seriam expostas. Quatro mulheres foram selecionadas, quatro histórias de vida diferentes ligadas em uma exposição fotográfica. Hoje, ela mora em Foz do Iguaçu e pretende dar continuidade a esse projeto.
Fotos por Carolini Souza
A diferença marcada na pele
As tatuagens, piercings, e body modifications (em português: modificações no corpo) em geral, são itens que fazem com que algumas pessoas sejam consideradas fora do padrão pela sociedade. Max Gonçalves é Tatuador e body piercer há xx anos e explica um pouco mais sobre o assunto: “O mundo da body modification abrange vários adeptos, vai desde uma simples aplicação de piercing até aplicações de implantes.” De acordo com ele, o movimento está crescendo, e atualmente cada vez mais pessoas se modificam visando modificar seu corpo esteticamente ou com o objetivo de melhorar sua auto estima.
Entretanto, nem sempre essas mudanças são aceitas pela sociedade. “Já sofri preconceito até do meu pai”, revela Max. Ele diz que o preconceito geralmente vem de pessoas que não conhecem o mundo da modificação, mas sente que agora as pessoas têm uma visão melhor sobre tudo. “Está sendo uma longa caminhada contra a intolerância, mas pouco a pouco estamos conquistando nosso espaço.”, reflete.
“Me perguntavam porque eu estraguei meu corpo”
Fernanda Colin é estudante de psicologia, e quando tinha 18 anos realizou uma vontade antiga: colocar um piercing no septo. Apesar de ter ficado satisfeita com a mudança, ela conta que recebeu inúmeras críticas, inclusive de pessoas que nem eram tão próximas a ela:
“O que vão dizer de você?”
Já Manuella Carvalho, teve grande resistência dos próprios pais antes de conseguir fazer uma tatuagem. De acordo com a estudante de Biologia, a rejeição a idéia se deve ao fato de ambos os pais trabalharem na área da saúde.
Ao final da história, apesar de ainda contrariados, eles acabaram se conformando com a situação e, permitindo que ela se tatuasse, desde que pagasse com seu próprio dinheiro.
“O padrão é a gente que faz!”
Seja por medo de serem julgadas, de não conseguir um emprego, serem criticadas ou mal-vistas, muitas pessoas pensam duas vezes antes de modificar seu corpo e sair do que é considerado um “padrão ideal estético”. Sobre isso, Max Gonçalves confessa: “No início eu era bem repreensivo comigo mesmo, eu tinha medo de sofrer preconceito de verdade. Mais ao entrar de cabeça no mundo da modificação, eu me encontrei em mim mesmo e comecei a me aceitar melhor. Desde então não me importo com o que as pessoas dizem ou pensam. Pois minha mente é totalmente aberta para esse tipo de coisa. Eu amo meu corpo e faço tudo com ele que venha me fazer melhor e me sentir bem comigo mesmo. Eu eu tenho a minha liberdade de expressão.”. Hoje, trabalhando no ramo, Max pode acompanhar de perto a satisfação de quem se modifica por vontade própria e fica contente com o resultado. Ele diz que se pudesse dar um conselho para as pessoas, diria que a vida é uma só e deve ser vivida intensamente, e completa: “O padrão é a gente que faz!”
Fonte: Reprodução (Facebook)
Reportagem: Annabel Machado, Helena Bosse e Milena Costa.
Conteúdo produzido para o Primeira Pauta Digital | Disciplina Jornalismo Digital II
5º Fase | 2018