Coletor menstrual é opção para substituir absorventes comuns
Um simples copinho de silicone pode oferecer mais liberdade e intimidade entre as mulheres e seu próprio corpo. Apesar de ter se popularizado aqui no Brasil somente nos últimos anos, o coletor menstrual – uma opção para substituir os absorventes internos ou externos – não é nenhuma novidade. Ele foi criado na década de 30 pela atriz e inventora norte americana Leona Chalmers, mas na época a invenção não alcançou popularidade. Um dos principais motivos foi o fato de que a menstruação ainda era considerada um tabu e, por isso, a maioria das mulheres não se sentiam confortáveis com a ideia de introduzir e manipular um objeto em seus próprios corpos.
Hoje, quase 90 anos depois, a história ainda não está tão diferente. É o que confirma a ginecologista Sandra Chagas. Ela diz que devido a necessidade de o coletor ser inserido dentro da vagina – assim como os absorventes internos, mas mais abaixo, menos próximo do colo do útero – algumas mulheres não se sentem à vontade com seu uso. “Nas mais jovens e nas que fazem trabalho pessoal de autoconhecimento, é mais tranquilo; no restante, o toque vaginal ainda parece inadequado, não permitido!”.
Ainda assim, cada vez mais mulheres têm aderido ao “copinho” como uma alternativa aos absorventes comuns. Sandra atua como ginecologista há 20 anos e tem notado a mudança de comportamento. “Ao longo deste período, observo uma abertura: as mais velhas se permitindo mais, curtindo falar da própria intimidade e as mais jovens chegando já bem mais à vontade. Claro que ainda temos muitas mulheres reprimidas, mas bem menos que antes”, afirma.
As vantagens que o coletor oferece podem explicar o maior interesse pelo produto. Um dos benefícios é que o coletor é reutilizável. Durante o uso, basta higienizá-lo bem com água e sabão neutro e no final de cada ciclo, recomenda-se fervê-lo por 5 minutos. Após isso, ele pode ser guardado e utilizado na próxima menstruação. As principais marcas que fornecem o produto no Brasil informam que pode durar por até 10 anos. Com essa vantagem, além de gerar uma economia financeira, os coletores são mais sustentáveis, já que substituem os absorventes descartáveis, que não podem ser reciclados nem compostados, por exemplo.
Outro benefício que o uso do copinho pode trazer para a mulher é o conhecimento sobre seu próprio corpo. A estudante de nutrição Larissa de Lima, 20 anos, conta que essa foi a principal mudança desde que trocou os absorventes descartáveis pelo coletor, há dois anos.“Eu cresci meio que evitando a menstruação, sem falar dela, com vergonha, nojo. Usando o coletor eu me conectei mais com esse período, compreendi que não tem nada de errado e vi que na verdade estava reproduzindo ideias que eu não tive a chance de pensar se eram minhas mesmo e as usando contra a natureza do meu corpo”.
Há diferentes tipos e tamanhos do produto, que se adaptam a cada mulher. Por ser de silicone, o coletor é flexível, o que facilita na hora de colocá-lo, basta dobrá-lo e encontrar a melhor posição para inseri-lo. Dentro da vagina, ele se abre, encaixando-se no canal vaginal e coletando todo o sangue da menstruação. Para evitar vazamentos, é importante retirar o copinho e fazer a limpeza a cada 8 ou 12 horas, conforme o fluxo menstrual. Para a estudante, a adaptação foi fácil. “Existem vários tipos de dobradura , você precisa ir testando qual é a melhor pra você. O legal é que há vídeos no Youtube falando de tipos de dobraduras e marcas, que ajudam bastante”, conta.
O coletor também tem suas desvantagens. Uma delas é que não está disponível em todos os estabelecimentos como farmácias ou mercados, ao contrário dos absorventes comuns, que são muito mais fáceis de encontrar. As lojas especializadas no produto são virtuais, ou seja, é necessário comprar pela internet, o que inclui a cobrança do frete para entrega. Outra desvantagem é o valor, que pode variar em média entre R$70,00 a R$90,00 cada. Ainda assim, por ser reutilizável, o investimento é único, diferente dos absorventes descartáveis, que precisam ser comprados mensalmente. Desta forma, aproximadamente 9 meses sem usar os absorventes descartáveis, cobrem o valor pago por um coletor menstrual.
De acordo com a ginecologista Conceição Azêdo, o coletor é mais seguro que os absorventes internos, que podem facilitar a proliferação de bactérias anaeróbias, ou seja, bactérias que não precisam de oxigênio para se multiplicar. “Quando você coloca o absorvente interno, você tá bloqueando a entrada de oxigênio na vagina e favorecendo a proliferação de bactérias anaeróbias. Essas bactérias liberam uma toxina altamente perigosa, que pode levar a paciente à um quadro bem grave, com necessidade de internação, antibiótico e terapia venosa”, afirma.
Mas não é necessário muito alarde. Com o uso adequado e recomendado para cada produto, como a troca periódica no caso dos absorventes internos e externos, ou uma boa higienização, caso opte pelo coletor menstrual, os riscos para a proliferação de bactérias, fungos e infecções, por exemplo, são pequenos. É importante lembrar que não há um “método” mais indicado, cada mulher deve escolher aquele que mais lhe agrada, como ressalta a ginecologista: “Acho que isso é muito relativo, cada uma tem um perfil e eu creio que o método mais adequado é aquele que a paciente mais se adapta.”
Por: Vanessa Flores