Tradição: contação de histórias permanece até os dias atuais
A contação de história é uma das práticas mais antigas de que se tem registro na humanidade. Quando surgiram os livros no século XV, o hábito de ler e contar histórias ajudou a construir as habilidades da comunicação e da fala das pessoas. Há alguns anos, essa prática era considerada apenas um passatempo, mas atualmente em alguns países, incluindo o Brasil, já é considerada uma profissão. Mesmo com a chegada da escrita e da Internet, o ato permanece com lugar de significativa importância social, cultural e educativa.
Carolina Spieker, 37, pedagoga com especialização em literatura infantil e infanto-juvenil, trabalha há cinco anos na Livrarias Curitiba do Shopping Garten. Segundo Carolina, cada história pode ensinar algo diferente para uma criança. “O contador pode dar um foco, mas o ouvinte pode identificar outros a partir das suas vivências e do seu repertório imagético, de contos ou até situações vividas”, esclarece.
Para ela, quem lê, normalmente é criativo e atento, mas às vezes pode acontecer de a pessoa não prestar atenção no contador, só que isso não significa que ela não esteja ouvindo. “É importante respeitar o ouvinte e criar um ambiente para que se torne uma experiência prazerosa”. Ela evidencia o fato de que os menores têm um período menor de concentração e que isso deve ser levado em conta.
Angélica Royer, 35, é pedagoga com pós-graduação em musicalização e atua profissionalmente desde 2010. Para ela, a profissão é de fundamental importância na educação infantil e em todas as demais, por ser uma forma lúdica e às vezes engraçada de se colocar bons conceitos em crianças e adultos que precisam. “Os contadores de histórias podem contribuir muito na formação das crianças contando boas histórias que sirvam de exemplo para a formação de adultos sensíveis e amorosos”, finaliza.
Elvis Darossi da Silva, 28, incentiva a filha Hemilly Silva ao gosto pelas histórias desde que ela aprendeu a ler. “Eu acho que este hábito é muito importante para transmitir o repertório emocional e também criativo. Minha filha se expressa muito bem verbalmente e tem uma consciência impressionante de seus sentimentos”, confirma.
Em 2017, a comissão do trabalho, de Administração e Serviço Público aprovou o projeto de lei que regulamenta a profissão, de autoria da deputada Erika Kokay (PT). O objetivo do projeto, segundo a parlamentar, é valorizar a profissão e atender a uma reivindicação recorrente para aqueles que desenvolvem a prática.
Para o exercício da profissão começa a ser exigido curso de formação, com fundamentação teórico-prática, para o uso da literatura e das técnicas como instrumentos didático-pedagógicos no processo de aprendizagem. De acordo com o SINE o cargo tem uma média salarial de R$ 1.300 e pode chegar até R$ 3.200. Entreter, educar e sensibilizar o público são os principais objetivos da profissão.
Escolas promovem eventos que valorizam a leitura
Os livros são ferramentas muito importantes para construir o senso crítico das crianças. Desta forma, os narradores ajudam também a contribuir na observação, reflexão e na memória delas. Desta forma, as escolas compreendem que usar esta técnica na educação é fundamental, pois os alunos começam a criar gosto em consumir livros, além de ajudar na escrita.
Eliana Maria Gastaldi, 54, é diretora do Centro de Educação Infantil (CEI) Pedro Ivo Figueiredo de Campos. Ela conta que na educação infantil ouvir histórias faz parte da rotina diária. “Os professores leem todos os dias e as crianças apreciam desde pequenas”, atesta. Ela adverte que a Secretaria de Educação incentiva a leitura realizando formações com os profissionais. “São promovidos eventos periódicos na biblioteca para toda a comunidade e as escolas são convidadas para levar as crianças”, explica.
De acordo com Eliana, há um evento mensal na escola, quando um profissional que faz curso de contação e coordena um grupo com todos os funcionários apresenta contos para as crianças e os pais. “Este evento valoriza a narração, pois são organizados os espaços com cenários e figurinos para conquistar ainda mais a atenção da plateia para o mundo das histórias. As crianças apreciam muito e aguardam sempre com bastante entusiasmo por estes momentos”, completa.
Por: Samantha Floriani
Foto: Paulo Ribeiro
Conteúdo original do Primeira Pauta Impresso, edição 143.