Projeto mantém esperança da não extinção de golfinhos na Baía da Babitonga
A Toninha é a menor espécie de mamífero do oceano e, atualmente, encontra-se ameaçada de extinção
Duas vezes por semana, Ana Bárbara Broni de Miranda sai da sede do Projeto Toninhas, em São Francisco do Sul, para a saída de campo na Baía da Babitonga. Ana é bióloga e trabalha de forma permanente no projeto. Ela atua juntamente com uma equipe de profissionais e alunos do curso de Ciências Biológicas da Univille. As pesquisas com o mamífero marinho estão sendo desenvolvidas há mais de dez anos, com objetivo de preservar e estudar o comportamento das Toninhas e de outros animais. As saídas de campo são centralizadas principalmente nas regiões entre as ilhas, a área de maior preferência das toninhas.
A equipe pega o barco na Marina, local onde fica em terra seca, e se desloca para a Baía. Durante os estudos de campo, são tiradas fotos da nadadeira dorsal e característica singular de cada toninha. É dessa forma que elas são identificadas. A espécie é mais reservada que os golfinhos, chamadas até de “tímidas” pelos integrantes do projeto. Essa característica dificulta um pouco a observação, principalmente em dias com muito vento e com muitas ondas. Além disso, as saídas de campo também servem para fazer o monitoramento das redes de pesca. Os monitores do projeto saem em busca das redes, marcando as posições do GPS para saber o movimento da rede e assim tornar possível a observação.
A comunicação das toninhas é pouco conhecida. Segundo informações do projeto, um estudo comprova que elas têm a capacidade de ecolocalização, forma de comunicação por sentidos, através da emissão de ondas ultrassônicas que possibilitam detectar a posição e distância. A bioacústica pode gerar subsídios para a conservação da toninha, possibilitando formas de evitar a pesca acidental. Esses estudos são feitos através do monitoramento acústico com hidrofones, um aparelho autônomo que fica dentro da água gravando as informações do som da toninha. A coordenadora de pesquisa do projeto, Marta Cremer, junto com integrantes, colocam vários aparelhos sistematicamente em toda a baía para entender melhor a distribuição delas no ambiente, principalmente seus horários.
Como todos os cetáceos, seu corpo é adaptado para ambientes aquáticos. A toninha é um dos menores mamíferos do oceano. Se alimenta de pequenos peixes, lulas e camarões. Segundo o ministério do meio ambiente, ela é atualmente a única espécie ameaçada de extinção. Elas costumam nadar em regiões onde os pescadores lançam suas redes.
Não saltam, não fazem piruetas e não brincam muito fora da água, como outros golfinhos. Em geral, elas costumam mostrar-se pouco, e sobem para a superfície para respirar. Os grupos costumam ser pequenos, com dois ou cinco integrantes. É bastante comum encontrar grupos próximos, alguns estudos genéticos indicam que até possuem laços familiares. Por preferirem locais com profundidades mais baixas, ficam relativamente perto da costa, no máximo a 50 metros de profundidade. “É raro encontrar toninhas em baías na costa leste do Brasil, aqui na Baía da Babitonga é o único lugar com uma população residente que utiliza o mesmo espaço de convivência”, explica a bióloga. As toninhas de mar aberto não entram, e as que já estão na baía não saem. Para a bióloga Ana Bárbara, é como se fosse uma verdadeira casa. A última estimativa é que aproximadamente 60 a 80 indivíduos vivem na baía. Novos estudos e pesquisas estão sendo feitos para atualização.
A reprodução das toninhas acontece apenas uma vez a cada um, ou dois anos e a gestação dura entre 11 e 12 meses. A maioria dos nascimentos acontecem na primavera, mas filhotes podem ser vistos durante todo o ano. Os filhotes nascem bem pequenos, com aproximadamente 70 e 80 cm de comprimento, mamam até os nove meses e começam a se alimentar já aos quatro e seis meses de vida. Durante seu desenvolvimento, são ensinados pela mãe a capturar peixes e a se alimentarem sozinhos.
Vítimas de captura acidental, os casos de golfinhos mortos e machucados só aumentam. A população jovem de toninhas acaba não tendo tempo para se reproduzir e fica cada vez mais ameaçada de extinção. Sem fiscalização constante, a preocupação quanto a segurança dos animais é frequente. “É difícil saber quantas morrem né, pois acontece lá fora, no mar. Muitos pescadores também temem dar a informação por medo de represálias, mas não é a intenção. Queremos entender o problema para poder resolvê-lo,” destaca a coordenadora do projeto, Marta Cremer.
Além das redes de pesca, outro problema que os mamíferos encontram é com os lixos nos locais em que vivem. No ano passado, uma toninha foi encontrada em Santos, no estado de São Paulo, com um lacre de refrigerante no rosto, impedindo-a de se alimentar.
Ações do Projeto Toninhas na comunidade e cidades do entorno
Com diversas iniciativas de preservação, a equipe do projeto busca conscientizar a comunidade sobre a importância de preservação dos golfinhos. Os trabalhos de conscientização desenvolvidos pela equipe do projeto envolvem pescadores e inclusive os seus filhos. Além disso, o projeto busca estabelecer parceria com outras instituições, promovendo assim diferentes palestras sobre as toninhas e os ecossistemas costeiros. As palestras são apresentadas em escolas, empresas, organizações, associações e de acordo com a demanda da comunidade.
O público pode ter acesso à mais informações sobre a vida do mamífero não somente em palestras, mas no Espaço Ambiental Babitonga, que possui em seu acervo espécies da região, esqueletos, moldes de animais em tamanho real e aquários de água doce e salgada. Os visitantes podem conhecer um pouco mais sobre o ambiente e os animais que vivem no local, através de uma trilha até o manguezal.
A Sala Toninha é um ambiente decorado, ideal para o desenvolvimento de atividades de Educação Ambiental. As visitas são recepcionadas e acompanhadas por uma equipe que fornece diversas informações sobre a fauna e os ecossistemas da região.
Os dois ambientes estão localizados na Univille, unidade de São Francisco do Sul, que também realiza exposições com animais taxidermizados, fotos e banners explicativos. Além do material já disponível no Espaço Ambiental Babitonga, que também é levado para fora da universidade com o objetivo de alcançar a comunidade em geral.
As exposições são realizadas em municípios como: Garuva, Itapoá, Araquari e Barra do Sul. Municípios como Florianópolis e Laguna, firmaram parceria com o projeto através do Laboratório de Mamíferos Aquáticos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e a Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) de Laguna. Para essas regiões, a “Caravana da Toninha” é levada para os locais, onde ocorre a distribuição do material de divulgação, apresentação do videodocumentário “Toninhas: no limite da sobrevivência” e exposição de fotos e moldes em pontos estratégicos das cidades.
Outra ação importante do Projeto Toninhas foi a confecção de um livro paradidático, feito com o objetivo de alcançar um número maior de pessoas e dar visibilidade para a vida e rotina da toninha. Confeccionado por integrantes do projeto, o livro é todo ilustrado e distribuído em escolas de São Francisco do Sul. A iniciativa tem como objetivo disponibilizar um material de referência para ser utilizado em salas de aula e que trate de temas locais, como ecossistemas costeiros e as toninhas. O projeto também possui um canal no YouTube, onde é possível encontrar várias histórias da Toninha Babi, que são apresentadas em algumas escolas e CEIs.
Como posso ajudar na preservação da espécie?
Antes de tudo, é preciso ter conscientização. Cada um precisa entender que todo resíduo vai para algum lugar, tudo que consumimos gera lixo que leva anos para se decompor. Quando esse lixo não é descartado da forma correta, acabam nos rios, e então no mar. Pesquisadores já encontraram toninhas mortas com o lacre de garrafa PET preso no rosto, impedindo a alimentação, bem como mamíferos que acabaram consumindo plásticos e acabaram mortos na praia. A pesca consciente e cuidadosa, assim como a preservação das águas e do meio ambiente, são princípios que auxiliam na preservação das Toninhas.
Por: Juliana Mews, Sara Lins e Paulo Ribeiro