Maratona 2020: Covid-19 disputa se causa mais mortes ou desempregos
Entenda como o vírus se tornou um grande gerador de demissões em massa e as alternativas que as empresas estão aderindo para não prejudicar a renda de seus funcionários.
Alguns meses atrás tivemos a notícia de que um novo vírus chegaria e mudaria a vida de toda a população do globo. A princípio, não foi dado atenção a este alerta e as consequências foram evidentes e avassaladoras.
No Brasil, um dos setores atingidos por essa mudança foi a economia e, junto com ela, o emprego de grande parte da população. Os economistas e bancos do país fizeram diversas previsões de como seria esse futuro incerto. O banco privado Santander prevê que o desemprego no Brasil vai atingir 2,5 milhões de pessoas a mais no pico do vírus e da crise. O índice de desemprego, que em 2019 ficou em 11,6%, aumentaria para 23% no pior cenário da crise, o que representaria queda de 7,7% na economia brasileira.
O economista-chefe da empresa Genial Investimentos, José Mário Camargo, afirma que “nessa estratégia de isolamento geral, as empresas não terão dinheiro para pagar custos, funcionários e fornecedores. Muitos empregos serão perdidos”. Os grandes empresários se veem em uma encruzilhada, em que de um lado estão as demissões e do outro está a vida de seus funcionários e familiares.
Este foi o caso de Marlon de Sousa, 25 anos, que era funcionário da loja Magazine Luiza. Ele conta que foi uma situação complicada de primeiro momento, pois a empresa havia garantido aos colaboradores que não demitiria ninguém, então tendo essa “certeza”, o desligamento foi um choque para todos. Agora, Marlon tem que viver do seguro desemprego e do salário de sua esposa e o que mais o preocupa é quando vão voltar a contratar pessoas novamente. “Estou tentando me virar com trabalhos informais para sustentar a casa”, explica Marlon. Esta se tornou a realidade de muitos brasileiros, mas como uma empresa se comportaria nessa crise para não quebrar e ainda manter a salvo a vida e a renda de seus colaboradores?
O centro de educação infantil Semear e Colher precisou tomar providências diferentes para não demitir alguns de seus funcionários. A proprietária Iraci Socatelli, 50, explicou que estão economizando de todos os lados pois como se trata de um CEI, estão fechados como todas as outras escolas. A dificuldade em encontrar um profissional da educação que se adapte com toda a turma de crianças faz com que ela não queira se desligar de nenhum funcionário, pois tem uma equipe em que confia. Para manter seu pessoal ela optou para pedir aos professores que de casa criem conteúdos para passar as crianças através de vídeos nas redes sociais. Iraci afirma que vai se manter assim o máximo que conseguir pois sabe que seus trabalhadores dependem desse emprego e sabe a angústia que é ser demitido.
Algumas empresas de Joinville optaram por mudanças no padrão de trabalho. O decreto publicado pelo governo estadual, no dia 17 de março, determinou que as empresas operem com a capacidade mínima possível. Outros informativos estão sendo preparados pelo governo, deixando mais claro o que é a capacidade mínima e quais medidas precisam ser tomadas para as empresas e indústrias continuarem operando. Veja abaixo o posicionamento de algumas delas:
Tupy: É a maior empresa de Joinville e concedeu 10 dias de férias coletivas para os 8,5 mil funcionários da empresa.
- Além das férias coletivas, a empresa contratou médicos infectologistas para orientações aos colaboradores.
- Afastou os grupos de risco (+ de 60 anos, cardiopatas, deficientes renais, pessoas em tratamento de câncer, diabéticos, gestantes, etc.), funcionários retornando do exterior e sintomáticos.
- Eliminou reuniões em grupo e cancelou eventos internos e viagens;
- Alterou a rotina de recebimento de visitantes e fornecedores;
- Liberou funcionárias com filhos menores de 10 anos;
Embraco: A Embraco (adquirida pela Nidec Global Appliance) está oferecendo a opção de trabalho remoto como uma alternativa para redução do fluxo de funcionários administrativos nas unidades do Brasil. Para colaboradores da fábrica, a decisão será caso a caso com a gerência direta, priorizando grupos de risco.
A ADE (recreativa da embraco) está fechada com todas as atividades voltadas ao público (restaurantes, aulas, aluguel de quadra, quiosques e eventos) suspensas por tempo indeterminado.
Döhler: A empresa entrará parcialmente em férias. Durante a última semana, medidas preventivas foram adotadas visando preservar a saúde dos colaboradores e da comunidade. Dentre as orientações internas, estão reforço na higiene, evitar o compartilhamento de objetos; evitar aglomerações; manter os ambientes ventilados; manter distância em ambientes de produção, escritórios e espaços comuns. Todas as reuniões com fornecedores, parceiros externos e viagens foram canceladas. Além disso, a Döhler adotou o sistema de trabalho home office para as atividades que assim permitem. Para quem necessitar ir até a empresa, a orientação é optar por transporte alternativo.
Foram suspensas ainda todas as atividades esportivas, recreativas e eventos. Há um médico no ambulatório para esclarecimentos, consultas e monitoramento dos sintomas. Também foram afastados os colaboradores em grupo de risco.
Dá para ser produtivo em casa?
Os escritórios provam que sim. A empresa de relações internacionais voltada para regimes aduaneiros e recuperações de crédito, Becomex, adotou ao método para com seus funcionários, em que eles fazem negociações, atendimento, planejamento e execução de projetos diretamente de casa. O funcionário Yuri Cidral, 21, conta como está sendo essa nova adaptação. “Minha experiência com o home office está sendo muito produtiva e divertida, pois a empresa está disponibilizando recursos online para interação entre os profissionais e meios para que o trabalho não fique cansativo e monótono (atividades físicas e de conhecimento)”.
Apesar disso, ele diz que prefere trabalhar no ambiente físico, pois a solução de problemas e a comunicação são mais rápidas, mas não descarta a possibilidade de algumas empresas levarem esse método para além da pandemia. “O que me surpreendeu é que mesmo longe dos colegas eu consegui me desenvolver e me adaptar bem a esse novo estilo”. Ele completa: “acredito que muitas empresas adotarão esse método”.
Alguns especialistas afirmam que esse método deixou de ser algo distante e futurístico e passou a ser o presente de muitas empresas. Atualmente existe a Officeless, empresa especializada em Implementação de trabalho remoto. Seu co-fundador, Flavio Ludgero, explica que o regime de trabalho remoto estimula e preserva os funcionários. No site do programa está disponível um curso para funcionários e para empresas em como trazer o método para a vida real e aplicar no dia a dia.
Para o coordenador da Becomex, Miguel Paiva, os funcionários podem ter um alto desempenho no trabalho remoto desde que tenham disciplina e mantenham uma rotina parecida com a do trabalho presencial. “Essa experiência está sendo ótima, mas é claro que tudo varia do colaborador”, explica. Ele ainda afirma que as pessoas precisam manter o foco e não se deixar distrair ou procrastinar por estar em um ambiente mais relaxado e confortável. Miguel acredita que esse método traz mais benefícios às empresas por influenciar ao uso da tecnologia, economia de custo e tempo. “Antes precisávamos ir até o cliente para fazer uma reunião ou fechar um contrato, agora tenho a possibilidade de resolver tudo por videochamadas”, diz. “Cerca de 40% dos nossos funcionários sempre estavam viajando e gerava um alto custo com passagens e mobilidade, hoje conseguimos reduzir isso e abriu nossos olhos para novas adaptações”, completa.
Miguel ainda explica que a empresa de relações internacionais optou por não demitir nenhum funcionário. “Temos um planejamento em que conseguiremos manter todos os funcionários mesmo nesse tempo difícil. Não terá demissão e muito menos pânico”, afirma.
Trabalhadores que não pararam em meio à ameaça viral
Apesar de muitas empresas pararem devido a pandemia, alguns trabalhadores informais não tiveram a mesma oportunidade e privilégio. Este é o caso dos motoboys e entregadores que continuaram correndo o risco para atender a população. Os restaurantes se mantiveram fechados durante o período em que era obrigatório o fechamento total de estabelecimentos e para não quebrar durante a crise optaram pelo atendimento de delivery. O que aumentou demasiadamente o número de pedidos e entregas pelo fato de a população estar em casa e evitando a ida a mercados, restaurantes e a compra de alimentos.
André Guilherme de Camargo tem 24 anos e trabalha há três anos como motoboy. Ele conta que sentiu bastante medo, pois achava que o trabalho dele iria diminuir de ritmo, ocasionando uma queda nos rendimentos da família. Ele conta que as pessoas mudaram de atitude com eles e no começo foi difícil de acostumar, “teve clientes que fizeram pagamento online e pediam para gente deixar a comida em cima do carro ou passar por cima do portão para não chegarem perto de nós entregadores”. Ele completa dizendo que “no começo me sentia mal pois parecia que éramos bichos, mas depois entendi que o medo do contágio é grande e precisamos nos prevenir mesmo”.
Todos os restaurantes e sites de entregas como ifood e uber eats, orientam e cobram de seus entregadores para que se mantenham higienizados e evitem o contato com o cliente para segurança de todos.
Reportagem: Emilly Huida
Arte: Emilly Huida
Foto de capa: defatoonline
Conteúdo produzido para o Primeira Pauta Digital | Disciplina Jornal Laboratório II, 7ª fase/2020.