Uma quarentena de home office: trabalho remoto torna-se alternativa em meio à pandemia
A quarentena provocada pela Covid-19 trouxe uma realidade desconhecida para muitas pessoas. O home office consiste em trabalhar em casa por meio de ferramentas tecnológicas como telefone, videochamadas, aplicativos de troca de mensagens, entre outras.
Entretanto, a adaptação de estar em casa e exercer as atividades profissionais pode não ser tão simples assim. O trabalho remoto tem suas próprias dificuldades, que são agravadas pela pandemia, como relata o estagiário Kayan Pereira de Carvalho, 24. “Atividades que devem ser executadas em campo se tornam mais complicadas de acompanhar”, expõe. Para ele, outra dificuldade é a troca de informações via tecnologia, pois tendem a ser mais resumidas causando falhas de comunicação.
A auxiliar administrativa e estudante de direito Stéfani Follmann, 21, aponta problemas semelhantes nas duas semanas que ficou em home office. Sua maior dificuldade foi a falta de uma impressora e das notas fiscais que eram destinadas à empresa. Para conseguir exercer seu trabalho, a estudante de direito precisou ir à empresa mais de uma vez durante os dias que deveria estar em casa. Porém, tanto o estagiário quanto a auxiliar veem vantagens nesse modo de trabalho. Kayan diz que em casa fica mais à vontade e se sente menos estressado. “Não preciso acordar meia hora mais cedo para tomar café e me arrumar. Acordo, esquento uma água, já ligo o computador, faço um café e me sento à mesa e começo a trabalhar”, comenta Stéfani.
O efeito do home office na saúde mental
Em um período de pandemia, ficar em casa e trabalhar pode ser considerado um luxo. Entretanto, o acúmulo dos afazeres de casa, o isolamento, a falta de contato social e a própria pressão e medo da Covid-19 podem desencadear problemas de saúde, principalmente afetando o lado emocional. “É preciso pensar outra forma de compor a nossa rotina, atividades e espaços”, explica a psicóloga Mariana Datria Schulze. Segundo ela, há uma quebra dos espaços considerados de trabalho, lazer e família o que causa um desequilíbrio. Schulze exemplifica:
Para a psicóloga, existe a percepção de intensificação das atividades, exatamente por não haver diferenciação das rotinas do dia a dia. A sobreposição de funções em um mesmo lugar causa impedimento da válvula de escape que antes era a mudança de espaços externos ou internos. “O cansaço acontece justamente porque existe uma concentração desses desafios diários que antes havia possibilidade de dissolver”, ressalta.
Mariana explica que estabelecer um horário e rotina para a organização do trabalho pode ser um bom método para não se sobrecarregar. Porém, salienta que as realidades de cada pessoa são diferentes e subjetivas. “É muito fácil eu dizer que é bom ter um horário de trabalho enquanto tenho condições físicas, econômicas, sociais e uma rede de apoio que me possibilita isso.”
Ela também reforça que há pessoas que vão descobrir serem mais produtivas no home office e se adaptarão mais rápido, porém isso depende de inúmeros fatores. É o caso de Stéfani, que sentiu durante as duas semanas que seu trabalho foi mais efetivo e proveitoso. “Você consegue se organizar melhor, tem menos barulho, pois você não está no meio de um escritório com várias pessoas”, explica.
Mariana afirma que as relações sociais são importantes, pois as pessoas são formadas com e a partir dessas relações. “O isolamento social impacta na forma como a gente lida, interpreta, absorve, conversa e transmite nossas considerações sobre o momento, seja expondo ou reprimindo coisas boas e ruins.” A auxiliar administrativa Stéfani concorda, pois o maior ponto negativo emocionalmente foi a saudade de conversar com os colegas nos tempos vagos e tomar chimarrão com eles.
Home Office tem futuro?
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre os anos de 2017 e 2018, o trabalho em casa ou em outros espaços cresceu 21,1%, um exemplo é o coworking. O relatório Tendências de Marketing e Tecnologia 2020: Humanidade Redefinida e os Novos Negócios, realizado por André Miceli coordenador do MBA em marketing, inteligência de negócios digitais da Fundação Getulio Vargas (FGV), aponta que após a pandemia o home office deve crescer em pelo menos 30%.
Para a Agência Brasil, Miceli relatou que após a quarentena muitos ainda terão que adotar o trabalho remoto para cumprir as recomendações de distanciamento social e que, devido ao momento atual, as empresas se forçaram a fazer esse modelo de trabalho funcionar. “Nesse momento de isolamento, temos percebido que a tecnologia é uma grande ferramenta de humanização quando a gente precisa que ela seja usada dessa forma. A sociedade está aprendendo a ressignificar o uso que dá para a tecnologia”, ressalta à Agência Brasil.
Reportagem: Mayara Rosa
Infográfico: Mayara Rosa
Foto de capa: Freepik
Conteúdo produzido para o Primeira Pauta Digital | Disciplina Jornal Laboratório II, 7ª fase/2020.