Joinville cresce na coleta seletiva, mas enfrenta desafios na separação correta de lixo
127.894 toneladas de resíduos domiciliares foram registradas, no entanto, ainda destaca-se a importância de conscientização e campanhas educativas
Em 2024, Joinville registrou dados expressivos relacionados à coleta de resíduos domiciliares. Um levantamento realizado pela prefeitura, atualizado em outubro, mostra que a cidade acumulou cerca de 127.894 toneladas de resíduos coletados. Desse total, cerca de 10,2% (12.973 toneladas) são provenientes da coleta seletiva, enquanto 89,8% (114.121 toneladas), correspondem à coleta convencional.
Em comparação com as médias dos anos anteriores que oscilaram entre 11.387, em 2020 e 12.062, em 2023, a quantidade de 2024 reflete o crescimento populacional de Joinville e, consequentemente, a maior geração de resíduos, promovendo desafios para a gestão sustentável e a conscientização sobre a reciclagem.
Entre as iniciativas que reforçam o fortalecimento da reciclagem na cidade, destaca-se o trabalho do Assecrejo (Associação Ecológica de Recicladores e Catadores de Joinville), uma cooperativa que gera renda para os moradores. A Assecrejo também promove um bazar com itens recicláveis.
“Temos muitas pessoas que moram aqui perto, já conhecem esse trabalho e trazem a roupa que não usam mais, algo que já enjoou. A gente acaba fazendo esse trabalho com o bazar para melhorar a renda da associação’’
Emília Tavares, coordenadora administrativa da Assecrejo, durante entrevista para alunos da Faculdade Ielusc
Apesar dos números refletirem um esforço no aumento da participação coletiva seletiva, a cidade ainda enfrenta desafios na conscientização da população sobre a importância de separar o material adequadamente. “Buscamos um novo olhar para a reciclagem. As pessoas querem que a gente recicle, querem um planeta mais limpo, mas não se esforçam para que isso aconteça”, afirma Emília.
Ela explica que, muitos materiais ainda chegam misturados ao lixo orgânico.
Aterros sanitários
A quantidade de resíduos não recicláveis gerada na cidade impacta diretamente os aterros sanitários, como é o caso do aterro sanitário de Joinville, que recebe, em média, 460 toneladas por dia. Marcos (nome fictício), que optou por não se identificar devido à política da empresa, trabalha em um dos aterros de Joinville e compartilha a experiência sobre os desafios que enfrenta no setor.
“Todos os dias chegam caminhões lotados de materiais que poderiam ter sido reciclados, mas acabam sendo descartados aqui. Isso prejudica o meio ambiente. É uma sensação de desperdício”, relata.
Segundo o trabalhador, um dos maiores desafios no dia a dia do aterro, assim como nas cooperativas, é a falta de separação adequada dos resíduos da população. Confira um trecho da entrevista:
O engenheiro sanitarista Gustavo Tonon enfatiza a importância que a população tenha consciência da preservação ambiental. “Pode-se pensar que pequenas ações não geram grandes impactos. Muito pelo contrário, a conscientização de todos é fundamental para que a gestão de resíduos seja eficaz. É crucial que todos não só executem, mas incentivem outros a executarem ações de preservação”, incentiva.
Tonon ainda destaca que as ações individuais são essenciais, mas não são suficientes.
“Todos os setores devem trabalhar como uma engrenagem. Se uma falhar as outras não funcionam. O estado, dentro desse contexto, possui um papel importantíssimo. É ele que traz as legislações e diretrizes para as políticas e instrumentos que devem ser aplicados para um bom gerenciamento de resíduos”.
Gustavo Tonon, engenheiro
Metas e desafios da coleta de resíduos em Joinville
Em nota, a prefeitura de Joinville afirmou que a organização de ações a respeito da gestão de resíduos está sendo realizada com base nos resultados e apontamentos do Plano Municipal de Saneamento Básico (PMSB).
A meta para 2025 é aumentar o índice de eficiência da segregação de resíduos recicláveis pela população, passando de 22% para 24%. Segundo informações da Prefeitura e da Secretaria de Infraestrutura Urbana (Seinfra), um dos maiores obstáculos é sensibilizar a população adulta sobre a correta separação e destinação dos resíduos.
“Observa-se ainda que muitos materiais recicláveis são descartados junto à coleta convencional. Também verifica-se que as pessoas misturam restos de alimentos, fraldas e papel higiênico na coleta seletiva, tornando o material impróprio para separação.”
Prefeitura de Joinville, em nota
Outro problema frequente é o descarte de vidro de forma inadequada, que muitas vezes misturada ao material reciclável, representa riscos de acidentes para os trabalhadores. “Ao chegar nas cooperativas (local onde ocorre a triagem dos materiais), há grande risco de acidentes com coletores e cooperados da coleta”, reforça a Prefeitura e a Secretaria de Infraestrutura Urbana (Seinfra).
Diante disso, a prefeitura considera que essas problemáticas evidenciam a necessidade de uma ampla campanha de educomunicação – uso de meios de comunicação como recursos pedagógicos para estimular a aprendizagem – para engajar a população como parte do processo da gestão de resíduos sólidos do município.
Coleta no lar
Em contrapartida, Felipe Henrique, de 19 anos, é o responsável por recolher e separar o lixo em sua casa. Com uma rotina de descarte reciclável, ele considera que iniciativas de incentivo poderiam fortalecer a prática na cidade. “Acredito que um sistema de incentivos fiscais para empresas que adotem práticas sustentáveis, como a redução de resíduos e o uso de materiais recicláveis, poderia ser uma forma eficaz de incentivar a reciclagem”, sugere.
Ele afirma que o incentivo motivaria e geraria impacto positivo para a sociedade como um todo.
Para conscientizar
Como forma de ajudar a população, a Ambiental, empresa que realiza a coleta e destinação de resíduos, implantou um Mapa de Coleta de Resíduos. O serviço já está em operação e visa auxiliar os moradores, divulgando os horários das passagens dos caminhões de coleta.
Basta acessar o site da Prefeitura e buscar por “mapas de coleta de resíduos”. O usuário pode verificar o dia da coleta ao informar o endereço com nome da rua, número da residência e bairro ou pode utilizar a opção de localização atual.
Confira o passo a passo
A gerente da Unidade de Limpeza Urbana da Seinfra, Marília Gasperin dos Santos, da Secretaria de Infraestrutura Urbana (Seinfra), esclarece que a consulta tem o objetivo de facilitar o acesso à informação para a população.
“Essa inovação no sistema de busca foi pensado para melhorar ainda mais os serviços de coleta de lixo, levando informação de simples acesso aos usuários”, explica a gerente.