Internet ocasiona aumento da vulnerabilidade na vida de idosos
Apesar de aproximar gerações e facilitar a comunicação, a internet também se tornou terreno fértil para golpes, desinformação, isolamento social e problemas de saúde entre pessoas idosas
O que para muitos é sinônimo de praticidade e conexão, para boa parte dos idosos pode se tornar uma armadilha digital. Com a chegada da aposentadoria, muitos idosos se veem diante de rotinas solitárias e com poucas opções de interação social.
Conforme o blog de notícias a Voz do Idoso, para algumas pessoas a transição da vida profissional para a vida de lazer, pode ser sinônimo de alívio. No entanto, pode ser também um período de incertezas, solidão e até crises emocionais. Nesse cenário, a internet surge como companhia constante, podendo além do vício, causar vulnerabilidade no uso das redes.
“A internet apresenta riscos aos idosos. Nós estamos falando de pessoas que têm um repertório pessoal, como costumamos chamar na psicologia, muito empobrecido. Poucos vínculos, poucos espaços de sociabilidade. E mesmo que não sejam todas, ainda há um grande número de pessoas de fato isoladas”, cita o professor e psicólogo Nasser Haidar Barbosa, especialista em saúde mental e dependência química.
Se em uma vertente o senso comum aponte que idosos sejam mais vulneráveis, dados afirmam que a vulnerabilidade não possui distinção de idade. De acordo com uma pesquisa realizada pelo DataSenado, instituto de pesquisa vinculado à Secretaria de Transparência do Senado Federal, em 2024, cerca de 27% das vítimas de golpes virtuais são jovens entre 16 e 29 anos. E apenas 16% são de fato idosos.
Quando a rede vira armadilha
Em muitos casos, idosos tendem a confiar mais em mensagens recebidas em grupos familiares sem checar a veracidade dos fatos. O que pode ocasionar o aumento da circulação das fake news.
Nos últimos cinco anos houve um aumento significativo de idosos que utilizam internet. De acordo com o último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2019 para 2024, a proporção de idosos com celular para uso pessoal subiu de 66,6% para 78,1%, facilitando o acesso à internet por meio destes dispositivos.
Segundo Nasser, há uma alienação do mundo real que é muito comum entre idosos. Podendo também ser comum com crianças, adolescentes e jovens adultos. Mas que de fato evidenciam um fenômeno diferente de vinculação às redes quando se trata da terceira idade. “Sozinho, isolado no mundo, à mercê dos golpes e dos mecanismos inventados nas redes sociais que visam cooptar mesmo os afetos, essa pessoa pode ficar muito vulnerável”, cita o psicólogo.
Ainda que o número de usuários idosos na internet tenha crescido consideravelmente nos últimos anos, a falta de habilidade no uso é a principal razão por cerca de 60% de idosos não optarem por possuir um dispositivo eletrônico, conforme dados recentes do IBGE. Destacando a importância de políticas públicas que promovam a inclusão digital e o acesso à informação de qualidade para essa faixa etária.
Embora importantes, Nasser afirma que ainda não há estratégias que previnam a vulnerabilidade digital para principalmente idosos: “Nós ainda estamos engatinhando nesse ponto. Isso esbarra em vários processos que dizem respeito aos direitos individuais. Ao direito do sujeito de poder fazer o uso que quiser do celular dele.”
Caminhos fora da tela
Quando o assunto é bem estar, a ressocialização é essencial na vida dos idosos, com práticas que elevam a saúde e não necessitam do uso exacerbado das telas. Na Associação de Aposentados e Pensionistas de Joinville (AAPJ), mais de 1 mil idosos são associados e cerca de 150 participam regularmente de atividades locais que são promovidas pela associação. Proporcionando não apenas uma vida socialmente ativa, mas também a integração desta comunidade.
“Se você quer uma atividade, quer sair da rotina, sair de dentro de casa, a AAPJ possui atividade para praticamente tudo”, afirma Adilson José Alves, aposentado e associado da AAPJ.
A associação que existe há mais de 40 anos tem o intuito de proporcionar uma vida nova para os aposentados que buscam manter-se ativos, socialmente engajados e com qualidade de vida. Ao longo de sua trajetória, a associação se tornou um espaço de acolhimento, aprendizado e lazer, contribuindo para que os aposentados se sintam valorizados e integrados dentre suas relações.
“Eu estou na diretoria há mais de 20 anos, então esse é o meu grande orgulho. Viver com eles, conversar, aconselhar, é isso que fazemos aqui”, enfatiza a presidente da associação, Gisela Bruns.