Como o coelho dominou a culinária de Malta
Situado no coração do Mediterrâneo, o arquipélago de Malta é uma terra de peculiaridades. Sua história é um reflexo das várias tradições que por ali passaram, com influências que vão desde os fenícios até os britânicos.
Tendo conquistado sua independência apenas em 1964, a ilha carrega as marcas de diversas nações em seus costumes, arquitetura e, notavelmente, em sua gastronomia.

O prato que mais personifica essa herança é o Fenek, a carne de coelho, considerado o prato oficial de Malta. Ele pode ser saboreado em guisados, sopas, recheado e frito ou assado. Muitas variações levam alho e molhos à base de vinho tinto, sendo comum encontrar o coelho acompanhado de legumes, croquetes, ou, em uma das formas mais populares, misturado com espaguete. Os malteses contam que o prato foi criado como um ato de resistência no século XVIII contra a proibição da caça aos coelhos e, desde então, firmou-se como um símbolo nacional.
O sabor da tradição à mesa
A apreciação pelo fenek é evidente em restaurantes tradicionais por toda a ilha. No La Maltija, em St. Julians, o prato de espaguete com carne de coelho é um dos destaques.
O método de preparo garante que a carne desfie e se integre ao molho, que muitas vezes é enriquecido com um toque adocicado, um traço que encanta os visitantes.
“É bem cultural e a carne é uma delícia,” explicou um garçom do La Maltija, ao ser questionado sobre a popularidade do coelho no menu.
Para os turistas, a iguaria oferece uma experiência gastronômica única.
“É um sabor diferente, mas eu gostei,” afirmou a brasileira Daniela Oliveira, que passa seus últimos dias no país.

Costumes locais
Além do paladar, a cultura maltesa revela um povo religioso e tradicional, que valoriza a tranquilidade e a privacidade.
Nas cidades, é considerado inadequado fazer barulho entre as 13h e 16h, um período reservado à sesta que muitas famílias ainda mantêm após o almoço. De fato, o silêncio é uma prioridade para os malteses em qualquer horário, sendo flexibilizado apenas nas regiões que concentram a vida noturna.
“Sliema é bem mais calmo”, contou a brasileira Tamires Abrantes, que está fazendo intercâmbio no país. “A cidade é tranquila e os malteses preservam muito isso”.
A forte tradição também carrega antigas superstições, como a crença de que mulheres grávidas não devem se aproximar de cemitérios.
Esses costumes, embora peculiares, demonstram a profundidade da identidade maltesa, que se formou ao longo de séculos de história.