Mães universitárias passam por dificuldades ao enfrentar jornada dupla
Em 2007 Margarethe Puccini, 37, cursava administração na Faculdade Cenecista de Joinville. Com uma filha de oito anos, a estudante divida seu tempo entre trabalhar, cuidar de uma criança e estudar. Quando não era possível deixar a menina com os avós para frequentar a faculdade, Margarethe a levava junto para a sala de aula. Essa rotina durou até Margarethe completar seus estudos “eu só conseguia levar minha filha para casa nos finais de semana” afirma ela, pois na segunda feira acordava de manhã, pegava um ônibus e deixava a filha Gabriela na casa dos avós para eles levarem ela para a escolinha. Atualmente, com 48 anos, ela vê a necessidade de um espaço nas instituições para mães estudantes deixarem seus filhos. “A maioria não conclui os estudos por não ter onde deixar os filhos”, conta ela. “Eu podia contar com meus pais, mas a maioria não pode”, completa.
Para Társila Elbert a história se passa em um contexto diferente. Ela engravidou aos 23 anos enquanto cursava Jornalismo, porém não foi sua primeira vez. Antes disso teve dois abortos e nessas duas vezes teve que interromper seus estudos para poder cuidar da gestação. Após um tratamento ginecológico, veio a notícia que estava grávida de novo e como era uma gravidez de risco, não poderia mais estudar. Tendo que ficar deitada 24 horas por dia, Tarsila passou os nove meses de gestação vivendo em função de Benjamin, seu filho de agora dois anos.
A jovem teve depressão e foi acompanhada por uma doula (assistente de parto) até o dia do parto, que ocorreu tranquilamente. Após esse alívio veio outra preocupação, a de ter que atrasar seu curso pela segunda vez. “A parte mais difícil foi largar a faculdade, pois jornalismo é algo que eu sonho há muito tempo”, declarou. Antes de trancar o curso, ela conta que sofria preconceito de outros alunos, pois uma gravidez não é bem vista para uma garota nova e que ainda estuda. Os professores sempre a incentivaram e a ajudaram a continuar.
“Se a instituição não possui infraestrutura para acolher os filhos de estudantes, estes são acolhidos dentro das salas de aula”, afirma Maria Elisa Máximo, doutora em Antropologia Social. Ela conta que enquanto lecionava já teve presenciou alguns casos em que suas alunas ficaram grávidas e pegavam a licença maternidade, podendo realizar as atividades em casa tendo avaliações adequadas às suas condições. Também já teve alunas que precisaram levar seus filhos para a sala. “Eles até faziam perguntas e interagiram durante as minhas aulas”. Maria Elisa explica que isso nunca atrapalhou as aulas, pelo contrário, para ela, a sala de aula é um espaço de diálogo e interação.
Para que a aula flua bem, alunas e alunos devem se sentir acolhidos e confortáveis. A antropóloga fala que é a favor das instituições terem um espaço para acolher essas crianças a fim de que os alunos possam cuidar dos filhos sem interromper os estudos. O psicólogo Kaléu Fernando de Lima, 27, não acha que levar uma criança para dentro da sala de aula seja algo apropriado, nem para a criança e nem para os colegas. “As pessoas que estão ali com você são estudantes e têm o mesmo objetivo que você, o que pode causar atritos na própria turma”. Se isso não for um hábito, mas sim em ocasiões especiais o psicólogo afirma que não haverá complicações, o psicólogo conclui, “se for comunicado que isso ocorrerá e todos concordarem, não vejo problemas”.
Em um momento como esse, o apoio dos familiares e amigos é fundamental, tendo esse pilar, a mulher consegue conciliar a nova fase de sua vida, que é ser mãe, com seus estudos e um futuro promissor. Organizar uma rotina, as possibilidades, o tempo disponível, tudo isso tem que ser planejado da melhor forma possível. A criança passa a se tornar prioridade na vida dos pais e suas vontades e necessidades são colocadas em primeiro lugar, porém com uma boa organização e suporte é possível se ajustar aos dois. A falta desse apoio é o que faz aproximadamente 309 mil mães largarem os estudos, segundo o levantamento do Movimento Todos pela Educação, com base no Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios). “É de extrema importância entender que a criança não foi gerada sozinha e se cada um se encarregar de suas tarefas a chance da mãe continuar sua vida é muito maior e muito mais saudável”, afirma Kaléu.
Auxílio Creche
Muitos trabalhadores desconhecem o auxílio creche, uma ajuda para custear a creche de seu filho. Esse benefício é garantido constitucionalmente para pessoas com carteira assinada e que trabalham em empresas que tenham mais de 30 funcionários. Essas empresas podem também disponibilizar um espaço físico para as mães deixarem os filhos até os seis meses de idade. Caso não ofereçam esse espaço, é obrigação o auxílio creche. Se a empresa tem menos de 30 funcionários, o espaço é facultativo, podendo ou não oferecê-lo.
O auxílio não é uma lei, mas sim um direito. A Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) também aderiu ao benefício. Ele pode ser solicitado pelos estudantes que tenham vulnerabilidade econômica, com o objetivo de estimular sua permanência na Universidade. Para isso existem regras. O estudante precisa estar matriculado, frequentar as aulas, ter a guarda legal da criança e ser inscrito na lista de espera. O Senado já discute um projeto de lei que permite a mãe se afastar durante três meses da faculdade sem ser prejudicada, do oitavo mês ao segundo mês pós-parto, porém existe um outro projeto em discussão, do deputado Jean Willys, que amplia esse parecer em até seis meses, do oitavo mês de gestação ao quinto mês pós parto, dando um tempo maior para a mãe se recuperar e dar amparo ao seu filho antes de voltar aos estudos. Esses projetos são vistos com bons olhos e de grande ajuda para as mulheres que batalham diariamente para concluir a sua graduação e dar uma boa criação aos seus filhos.
Por: Emilly Huida
Foto: Arquivo pessoal
Conteúdo original do Primeira Pauta Impresso, edição 143.